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O Milagre da chuva

Foto: Walter Monteiro/2008
"Em 1769 os raios solares incendiavam os campos, e os cultivados, secavam as fontes e os ribeiros, e eram assim causa do desespero dos criadores e dos lavradores. Os habitantes da capital foram obrigados a ir buscar água para beber nos grandes rios longe da vila.

"A carestia dos gêneros alimentícios pesava sobre os consumidores, e os pobres já sentiam a fome. Em tanta calamidade, em vão recorrera-se às preces; pois continuava a seca.

"Observando-se que o fogo solar não abrangia o monte da Penha, concluiu-se que esta isenção era efeito da presença da Santa; e daí ocorreu o pensamento de valer-se da sua milagrosa influência a fim de fazer os moradores da vila da Vitória participantes da mesma graça. Imediatamente os mais devotos trataram de preparar uma sumaca para lá ir buscar a Senhora da Penha.

"No dia fixado para a partida, esta embarcação, pintada de novo, com um dossel de damasco e cortinas de seda bordadas a ouro, toda embandeirada e adornada

de flores naturais e artificiais, festões e fitas de todos os matizes, com o cortejo de muitas lanchas, canoas e escaleres ornados pela mesma forma, e carregados de povo, na vazante deslizava-se serena e resplandecente pelo meio do canal, como um rico andor de pomposa procissão.

"Tendo este barco chegado à enseada do Espírito Santo, os devotos, guiados pelo guardião de S. Francisco, sem demora dirigiram-se à igreja da Penha. Então o mesmo prelado, tomando a Imagem em seus braços, em procissão desceu até ao cais. Quando lá chegou, já ali se achavam os oficiais da câmara e pessoas respeitáveis da Vila Velha, para embargarem a viagem, alegando que a imagem era da vila, e que esta lhes pertencia de foro; portanto não consentiriam que lhes raptassem a sua padroeira. Aquiesceram porém à promessa do guardião, de que ele próprio a reconduziria com igual pompa.

"Logo que do forte de S. João foi avistada esta flotilha uma salva deu o sinal da aproximação. As autoridades eclesiásticas, civis e militares, as irmandades e confrarias, sacerdotes e habitantes da vila esperavam no cais a tão desejada salvadora.

"Defrontando o navio com o dito forte rompeu de novo a salva. Na vila os sons festivos dos sinos convidavam o povo a assistir ao desembarque do adorado objeto do voto comum. Continuou então a festa em terra pelo estalido de inúmeras girândolas, e dos foguetes do ar que estrondavam em todas as partes.

"No cais a Santa Virgem foi recebida debaixo do pálio, do qual Passou para um andor luxuosamente ornamentado; e assim seguiu a procissão para a igreja de S. Francisco.

"Por todas as ruas, onde o préstito transitou, o chão fora alcatifado de flores e folhas odoríferas; nas janelas e balcões dos sobrados sobressaíam ricas colchas de seda e damasco de diferentes cores com franjas de ouro.

"O acompanhamento dos habitantes da vila, da cercania e dos sertões foi tão numeroso, que a maior parte ficou na ladeira e no adro da igreja de S. Francisco.

"Imediatamente que o trono da Senhora penetrou neste templo, a negrura das nuvens fez do dia noite, e daí a poucos instantes a chuva caía em cataratas parecendo querer de uma só vez fartar os viventes, as plantas e a terra!

"Depois de uma novena em ação de graças a Imagem da Senhora da Penha foi com toda a solenidade restituída ao seu antigo santuário, só com a diferença, que por esta vez os mais jubilosos foram os moradores da Vila Velha."

 

Autor: Guilherme Santos Neves
Fonte: História Popular do Convento da Penha - 3ª edição, 2008

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