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O Pioneirismo da Energia Elétrica no Espírito Santo

Av. Jerônimo Monteiro antes do alargamento

Antecedentes da Iluminação Pública.

Com a expansão da cafeicultura no Brasil no século XIX, intensificou-se a vida nas cidades, notadamente nos centros de comercialização do café, onde se investem sobremaneira no planejamento urbano, sendo a energia elétrica o grande acontecimento.

Envolvida nesse movimento, Vitória, desde 1878, passou a contar com iluminação a gás. Custava duzentos réis a hora a manutenção do bico de sete velas às residências. Já no ano seguinte estendeu-se às ruas o melhoramento. O evento representava grande acontecimento para a capital do Espírito Santo, que era anteriormente iluminada a azeite de peixe, óleo de mamona ou querosene, sucessivamente.

Duas décadas depois, em 1896, inaugurava-se, em Vitória o teatro Melpômene, exigência da urbe cuja produção de café embricara-se decisivamente no modelo agrário-exportador nacional. O teatro fora todo construído em pinho de Riga, estilo "renascença" e capacidade para 1.200 pessoas. Apresentava uma inovação: iluminação elétrica. Na ausência de uma empresa de iluminação pública de eletricidade, o Melpômene deslumbrava os frequentadores com suas lâmpadas incandescentes, alimentadas por um pequeno gerador do próprio teatro.

Nas ruas, porém, continuavam as ruas e edifícios iluminados com gás comburente aliado a todos seus inconvenientes. Isso exige verdadeiros malabarismos do poder público para manutenção do serviço público. Em 1899, por exemplo, quando foi criada a taxa-ouro sobre produtos importados, encarecendo equipamentos e matéria-prima, determinou-se a supressão de inúmeras lâmpadas e funcionamento da iluminação artificial apenas nas noites sem luar. Havia apenas um único fornecedor de carvão mineral em Vitória e a imprensa local captava a insatisfação da população ante a precariedade do serviço que exigia sucessivos reparos.

Poucos anos antes, com a reforma do gasômetro, em 1893, retrocedeu-se mesmo ao tempo da iluminação a querosene. As prorrogações para restabelecimento do serviço encetou sucessivas concorrências. É aí que começam a aparecer as primeiras propostas para iluminação pública elétrica. Mas não seria a capital a primeira cidade do Espírito Santo beneficiada com esse serviço revolucionário. Na primeira década do século XX, embora a cidade já contasse com outros geradores, ainda funcionava a álcool a iluminação dos jardins do palácio do Governo, recebendo o contratante do serviço 30 mil réis para sua manutenção.

A Usina da Ilha da Luz

Cachoeiro de Itapemirim era o mais importante centro da região sul do Estado. Caracterizava-se por um solo de boa fertilidade para o café e facilidade de transporte para escoamento de sua produção. Comunicava-se facilmente com a capital do País, sendo, no início do século, o único centro importante ligado por ferrovia à praça do Rio de Janeiro. Congregava inúmeras casas comerciais de armarinho e ferragens, dirigidas geralmente por alemães, italianos e sírios, daí constituir-se no mais importante polo de atração do comércio regional.

Paradoxalmente, até 1887, não possuía sequer iluminação pública de qualquer natureza. Era costume das famílias cachoeirenses, nos dias de festas, iluminarem as vias públicas com lampiões colocados no lado externo das residências. Nesse ano tem início uma pálida iluminação a querosene.

A despeito da dinâmica econômica local este serviço fica estacionado até os primeiros anos do nosso século. Mas, quando o presidente da câmara municipal, Bernardo Horta, em 1902, resolve atender aos reclamos da população relativos ao setor, prefere queimar a etapa da iluminação a gás e contrata a instalação de um serviço público de iluminação elétrica em substituição ao de querosene.

A ilha da Boa Esperança foi o local escolhido para captação da força hidráulica no rio Itapemirim. Dai a denominação popular que recebeu a partir de então: "Ilha da Luz", nome consagrado por gerações de cachoeirenses.

Os trabalhos fluíram rapidamente, sendo inaugurados na festa de Todos os Santos, em 1903. Era o primeiro serviço de iluminação pública de geração elétrica do Espírito Santo (e o décimo do Brasil).

O sucesso de empreendimento fora total, tanto que já funcionava mesmo antes da inauguração oficial. Mediante abaixo-assinado, por ocasião das primeiras experiências, o povo exigiu se apagassem as lâmpadas a querosene e deixassem, definitivamente, as lâmpadas incandescentes, inauguradas a 1º de novembro daquele ano.

Forca Elétrica

Em 1908, assume a presidência do estado, Jerônimo de Sousa Monteiro. Imediatamente explana seu programa de governo: Partindo do princípio de que "havia um movimento geral de progresso no país que ainda não chegara ao Espírito Santo", resolve o novo presidente intervir o Estado diretamente na economia, na tentativa de criar uma infraestrutura industrial. Seu governo celebra inúmeros contratos de grande vulto para construção de fábricas. Entre os projetos de base opta por uma usina hidrelétrica da força de 3.000 HP no sul do estado (local de implantação da maioria dos grandes projetos) e por uma outra da ordem de 800 HP no rio Jucu.

Por outro lado, a capital do estado apresentava-se com aspecto ainda bastando provinciano, senão colonial. As ruas mal traçadas, seguindo os acidentes do terreno da ilha, que era, ainda, desprovida de serviços de limpeza urbana, água, esgotos e iluminação pública elétrica.

O governo Silva Coutinho, 1904-1908, imediatamente anterior ao de Monteiro, 1908-1912, desejoso em modificar essa situação já havia contratado empresários com vistas à modernização da ilha-capital. Seu governo, porém, não conseguiu ir além de um serviço de bondes de tração animal, cabendo-lhe, entretanto, o mérito de criar formidáveis condições financeiras para que o sucessor levasse a efeito o plano de introduzir Vitória nos melhoramentos advindos com a Revolução Industrial.

Em 13 de novembro de 1908, munido, portanto, de melhores condições financeiras, contratou Jerônimo monteiro, com o empresário paulista Augusto Ramos, os serviços públicos de Vitória, compreendendo a iluminação elétrica e o abastecimento d'água da capital.

Para energia elétrica o rio Jucu, como vimos, foi o escolhido para captação da força hidráulica, onde seriam aproveitadas as quedas situadas nas adjacências do quilômetro 35 da Estrada de Ferro Leopoldina Railway, em construção. A Usina Jucu, portanto, ficou projetada para uma capacidade geradora de 800 HP (logo aumentada).

No ano seguinte, a 25 de setembro de 1909, em meio a grande festividade, já ficaria inaugurado o serviço, que se prestava, também, ao fornecimento de força a algumas indústrias e outros serviços criados no período.

Em 1911, por exemplo, foi inaugurado o serviço de esgotos (que contava com bombas acionadas por motores trifásicos da ordem de 30 HP para despejo dos dejetos fora do perímetro urbano). No ano seguinte conclui-se os trabalhos de instalação dos bondes elétricos. E a iluminação pública, desde 1910, fica estendida a Vila Velha e Cariacica. Ainda no período Monteiro, Vitória passou a contar com a telefonia urbana, serviço de lanchas para Vila Velha, entre outros melhoramentos, que consagraram o governo Monteiro como um dos mais dinâmicos do Espírito Santo.

 

Revista da Fundação Jones dos Santos Neves.
Ano I - nº 4 out./dez. 1978. Vitória (ES).
Fonte: Notícias do Espírito Santo, Livraria Editora Catedra, Rio de Janeiro - 1989
Autor: Gabriel Bittencourt
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2021

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