Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

O Príncipe dos Poetas Capixabas - Por Gabriel Bittencourt

Elmo Elton - Poeta Capixaba

Elmo jamais gostou deste título, mas merecidamente outorgaram-lhe os trovadores capixabas. Quando o conheci, faz poucos anos, a impressão que transmitia era a de que retornara à terra para passar seus últimos momentos. No entanto, sua existência em Vitória ganhou ânimo novo. Até mesmo seus temas e estilo ficaram modificados. Amante apaixonado da cidade, sobretudo aquela que lhe povoava as reminiscências, premiou-a com os mais belos estudos de sua melhor fase intelectual.

Vivo teria 63 anos. Mas a cidade que tanto amou e cantou, em prosa e verso, não teve por que comemorar o último dia 15, pois seu poeta maior falecera num ensolarado domingo de janeiro, no mesmo centro urbano da ilha-capital que emoldura seus escritos mais conhecidos.

Poucos sabiam, entretanto, que o poeta era nacionalmente conhecido, tendo publicado inúmeros trabalhos no Rio de Janeiro, onde residiu de 1949 a 1979. Sua formação inicial, porém, realizou-a em Vitória, onde fez os cursos primário e secundário. Ainda em Vitória, trabalhou na Cia. Vale do Rio Doce até transferir-se para a então capital do país, onde cursou jornalismo na antiga Faculdade Nacional de Filosofia e ingressou no quadro de assessores da Legião Brasileira de Assistência (secretariou algumas destacadas primeiras-damas da República).

Dele afirmou o escritor Renato Pacheco: "desde a publicação de Marulhos (1946) tornou-se líder de sua geração, causando até uma ponta de inveja nos aspirantes à carreira literária no Espírito Santo da época. Mas o renome que desfrutou no Rio de Janeiro, advém dos estudos sobre Olavo Bilac e Alberto de Oliveira: O Noivado de Bilac, Amélia de Oliveira e A Família de Alberto de Oliveira — Os Marianos de Oliveira. No Rio publicou ainda Heráldicos, Dona Saudade, Áurea Pires da Gania, Cantigas e Poemas.

Retornando ao Espírito Santo produziu duas importantes obras — Poetas do Espírito Santo e Anchieta, mas a trilogia Logradouros Antigos, Velhos Templos e Tipos Populares, todos estudos sobre Vitória, certamente, passará ao "status" de clássicos da literatura capixaba.

O tempo vergastou-lhe o corpo impiedosamente, envelhecendo-o um tanto precocemente pela diabete e gota. Embora produzisse de feição quase febril, ultimamente vivia, também, um pouco amargo e até mesmo descrente de poder assistir ao lançamento das duas últimas obras deixadas no prelo: "Patronos e Acadêmicos" e um estudo sobre a tradição de São Benedito no Espírito Santo cuja conclusão esperamos agilize o Governo — DIO e DEC.

Tinha razão o poeta... Faleceu no dia 24 de janeiro deste ano, depois de uma crise hipoglicêmica. O poema "A Mocidade" bem demonstra a angústia que a marcha inexorável do tempo lhe imprimia:

"Veio, cedo, com passos de perdiz,

e quando aqui chegou, tão leda e mansa,

me disse, rindo, sem maior tardança,

que havia de fazer-me ainda feliz.

 

Beijei-a, então, radiosa flor de lis,

e ela, ao ver-me a alma ardendo de esperança,

entre promessas de quem tudo alcança,

de minha vida fez o que bem quis.

 

Floriu-me o coração de anseio e festa,

pôs-me nos lábios mil sorrisos francos,

deu-me sonhos de amor, felicidade.

 

Partiu depois... e dela só me resta,

sob o frio de meus cabelos brancos,

a enorme cicatriz desta saudade!”

 

Elmo era membro de inúmeras instituições culturais, oficiais ou não, nas quais convivíamos, como a Academia Espírito-santense de Letras, a Associação Espírito-santense de Imprensa, ou o Conselho Estadual de Cultura. Dedicava-se sobremaneira, porém, ao Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo onde exercia a 1ª Vice-Presidência e para o qual doou quase tudo que possuía — o seu rico acervo mobiliário, peças artísticas e obras raras; amealhado ao longo dos 30 anos que passou no Rio de Janeiro (acrescido ainda das últimas aquisições feitas no Espírito Santo). Natural, portanto, que no último dia 24, o Instituto lhe prestasse a derradeira homenagem, nomeando Casa de Elmo Elton o museu da entidade.

 

A Gazeta — Vitória (ES), 10 de março de 1988

 

Fonte: Notícias do Espírito Santo, Livraria Editora Catedra, Rio de Janeiro - 1989
Autor: Gabriel Bittencourt
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2021

Escritores Capixabas

Hermógenes foi pro céu – Por Adilson Vilaça

Hermógenes foi pro céu – Por Adilson Vilaça

O carnavalesco Joãozinho Trinta lá no Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. O carnavalesco viera colher subsídios relativos ao folclore capixaba para o desfile da Caprichoso de Pilares

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

A sede da academia: Legado do acadêmico Kosciuszko Barbosa Leão

Decidi doar minha casa à nossa Academia de Letras, porque já lhe havia doado o coração

Ver Artigo
Histórias Capixabas de Francisco Aurélio Ribeiro - Por Getúlio Marcos Pereira Neves

Livro do professor Francisco Aurélio Ribeiro, presidente da AEL e especialista em literatura infanto-juvenil: Histórias Capixabas

Ver Artigo
A Revista da Academia Espírito-santense de Letras

Na totalidade, houve a participação de 189 escritores, com 471 textos

Ver Artigo
A Literatura do Espírito Santo na Década de 1920 e a Presença de Maria Antonieta Tatagiba

Obra realizada por Karina de Rezende Tavares Fleury, em “Alma de Flor. Maria Antonieta Tatagiba: vida e obra”, em 2007 

Ver Artigo
Publicações capixabas coletivas - Por Pedro J. Nunes

A Torta capixaba teria um segundo número, com o título Torta capixaba II: poesia e prosa, organizada por Renato Pacheco

Ver Artigo