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O Saldanha e o seu oceano - Peter Falcão

Water Polo - Time Bi-Campeão, 1940/1941 - Na foto: Antenor Gomes, Carlos Moreira Lima, Jorge Vitor Ferreira Lopes, Cid Etienne Dessaune, Rubens Alves, Dair Alves, Licinio Santos Conte, Jayme Navarro de Carvalho

Na década de 30, navios ingleses ancoravam em Vitória e seus marinheiros desembarcavam ávidos por uma partida de polo aquático. E iam os intrépidos atletas do Saldanha para o confronto. Bem ali em uma raia natural, demarcada por cordas fixas em boias e barcos, onde agora funciona parte do mercado da Vila Rubim.

Eram jogos repletos de perfumes. Da mata virgem, do oceano esplêndido e das moças da sociedade, que se acomodavam nos barcos debaixo das sombrinhas rendadas, para proteger a pele e amenizar o calor das muitas roupas.

O Espírito Santo tinha times fantásticos de polo aquático no Saldanha, Álvares e Náutico Brasil, entre outros clubes. Em 1934, um combinado entre Saldanha e Álvares enfrentou a equipe Durban da Marinha de Guerra Inglesa. Resultado: 7 a 0 para a equipe capixaba.

O Saldanha tinha um oceano ao seu dispor. Conta a lenda que alguns dos seus atletas mais corajosos pulavam das sacadas do Forte São João nas águas da baía. Marcelo Dessaune jura ter fotos comprobatórias. O maior atleta do esporte capixaba veio também da vocação do Saldanha para desenvolver esportes náuticos.

Wilson Freitas foi um dos maiores remadores do mundo. Participou de campeonatos mundiais e das Olimpíadas da Alemanha em 1936. Morreu prematuramente num desastre de avião, mas seu nome consta em todos os registros históricos da modalidade. Foi o máximo, insuperável skiffista.

Em 1933 e 1935 ajudou o Saldanha a vencer nada menos que o "Grande Prêmio dos Estados Unidos do Brasil", que tinha raia entre a antiga Villegaignon e a praia do Botafogo, no Rio de Janeiro. Contam os mais velhos que no Espírito Santo Wilson Freitas perdeu somente uma vez. Estava passando mal e não completou a prova.

As vitórias eram comemoradas com desfiles dos atletas pelas ruas, ostentando seus remos e os troféus. Das sacadas dos sobrados as pessoas aplaudiam orgulhosas. Era a identidade com os seus heróis que fomentava o sonho de prosperar.

Veio o tempo, o progresso avassalador. A explosão imobiliária fez com que muitos prédios fossem construídos em volta do clube, impedindo a sua expansão e dificultando o acesso dos sócios. O pior golpe foi a construção da Avenida Beira-Mar. Os remadores perderam o acesso à baía. Muitos casos de atropelamento (alguns até fatais) ocorreram e a região, deserta, acabou sendo ocupada por marginais.

E lógico que o "Colosso", como muitos o chamam, manteve-se competindo com dignidade. Ganhou inúmeros títulos no remo, basquete, voleibol, tiro e futsal. Mas não é a mesma coisa. Hoje ele vive do esforço de uma dúzia de beneméritos. Perdeu a sua pompa e preservou apenas o orgulho e os sonhos.

Dia destes estava escrito na camisa de um dos beneméritos: "Te vejo na Enseada". Uma alusão à permuta que chegou a ser esboçada com o Governo do Estado. Muitos chegaram a sonhar com a ida para a área "onde o Papa rezou a missa". A crise econômica, contudo, detonou os projetos, talvez definitivamente. Serve de alento saber que o Saldanha é um símbolo de resistência. Está na cor de sangue de sua camisa.

Manter o Saldanha com saúde é preservar a história de quase cem anos. História de lutas pela democracia, de educação através do esporte e de muitas glórias, na terra e no mar. O clube tem uma mística recente de funcionar com muitos sacrifícios e mesmo assim chegar longe.

Talvez a generosidade de pessoas como Alarico Duarte, do basquete, explique isso. Talvez o completo amadorismo não seja um mal tão determinante e estão errados os muitos defensores do profissionalismo. Como explicar um clube com tantos improvisos ser o melhor do país em várias modalidades nos últimos cinco anos?

Agora um fato para ilustrar o que é o esporte no Saldanha. Em 1991, a equipe de futsal juvenil havia se classificado em Colatina, a duras penas, para a fase final da Taça Brasil. Depois das comemorações, veio a realidade: o clube não tinha condições de enviar a delegação para o Rio Grande do Sul.

A primeira providência foi manter o terceiro goleiro no grupo. Este conseguiu com o pai da namorada, dono de uma casa de material esportivo, os uniformes de mangas compridas para suportar o rigoroso frio de Pelotas. Depois de três reuniões no Deares, algumas passagens aéreas foram cedidas. A Prefeitura de Vitória ofereceu outro tanto e o restante foi conseguido com pais de atletas e beneméritos.

Após uma campanha memorável (vencendo a Sadia (SC) por 6 a 3, o Olímpico (MG) por 9 a 2, a AABB/Maranhão por 7 a 3 e o Cruzeiro de Anil (MA) por 5 a 2), o Saldanha foi campeão da Taça Brasil derrotando na final a General Motors, de São Paulo, por 5 a 4, que havia estipulado como prêmio pela conquista um carro zero quilômetro para ser sorteado entre os atletas.

 

ESCRITOS DE VITÓRIA — Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES.
Prefeito Municipal - Paulo Hartung
Secretário Municipal de Cultura e Turismo - Jorge Alencar
Diretor do Departamento de Cultura - Rogerio Borges De Oliveira
Coordenadora do Projeto - Silvia Helena Selvátici
Conselho Editorial - Álvaro Jose Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco
Bibliotecárias - Lígia Maria Mello Nagato, Elizete Terezinha Caser Rocha, Lourdes Badke Ferreira
Revisão - Reinaldo Santos Neves, Miguel Marvilla
Capa - Remadores do barco Oito do Álvares Cabral, comemorando a vitória Baía de Vitória - 1992 Foto: Chico Guedes
Editoração - Eletrônica Edson Malfez Heringer
Impressão - Gráfica Ita
Fonte: Escritos de Vitória, nº 13 – Esportes- Prefeitura Municipal de Vitória e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 1996
Autor: Peter Falcão
Nascido em Vitória (ES).
Repórter de esportes do Jornal A Gazeta.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2020

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