O Saldanha e o seu oceano - Peter Falcão
Na década de 30, navios ingleses ancoravam em Vitória e seus marinheiros desembarcavam ávidos por uma partida de polo aquático. E iam os intrépidos atletas do Saldanha para o confronto. Bem ali em uma raia natural, demarcada por cordas fixas em boias e barcos, onde agora funciona parte do mercado da Vila Rubim.
Eram jogos repletos de perfumes. Da mata virgem, do oceano esplêndido e das moças da sociedade, que se acomodavam nos barcos debaixo das sombrinhas rendadas, para proteger a pele e amenizar o calor das muitas roupas.
O Espírito Santo tinha times fantásticos de polo aquático no Saldanha, Álvares e Náutico Brasil, entre outros clubes. Em 1934, um combinado entre Saldanha e Álvares enfrentou a equipe Durban da Marinha de Guerra Inglesa. Resultado: 7 a 0 para a equipe capixaba.
O Saldanha tinha um oceano ao seu dispor. Conta a lenda que alguns dos seus atletas mais corajosos pulavam das sacadas do Forte São João nas águas da baía. Marcelo Dessaune jura ter fotos comprobatórias. O maior atleta do esporte capixaba veio também da vocação do Saldanha para desenvolver esportes náuticos.
Wilson Freitas foi um dos maiores remadores do mundo. Participou de campeonatos mundiais e das Olimpíadas da Alemanha em 1936. Morreu prematuramente num desastre de avião, mas seu nome consta em todos os registros históricos da modalidade. Foi o máximo, insuperável skiffista.
Em 1933 e 1935 ajudou o Saldanha a vencer nada menos que o "Grande Prêmio dos Estados Unidos do Brasil", que tinha raia entre a antiga Villegaignon e a praia do Botafogo, no Rio de Janeiro. Contam os mais velhos que no Espírito Santo Wilson Freitas perdeu somente uma vez. Estava passando mal e não completou a prova.
As vitórias eram comemoradas com desfiles dos atletas pelas ruas, ostentando seus remos e os troféus. Das sacadas dos sobrados as pessoas aplaudiam orgulhosas. Era a identidade com os seus heróis que fomentava o sonho de prosperar.
Veio o tempo, o progresso avassalador. A explosão imobiliária fez com que muitos prédios fossem construídos em volta do clube, impedindo a sua expansão e dificultando o acesso dos sócios. O pior golpe foi a construção da Avenida Beira-Mar. Os remadores perderam o acesso à baía. Muitos casos de atropelamento (alguns até fatais) ocorreram e a região, deserta, acabou sendo ocupada por marginais.
E lógico que o "Colosso", como muitos o chamam, manteve-se competindo com dignidade. Ganhou inúmeros títulos no remo, basquete, voleibol, tiro e futsal. Mas não é a mesma coisa. Hoje ele vive do esforço de uma dúzia de beneméritos. Perdeu a sua pompa e preservou apenas o orgulho e os sonhos.
Dia destes estava escrito na camisa de um dos beneméritos: "Te vejo na Enseada". Uma alusão à permuta que chegou a ser esboçada com o Governo do Estado. Muitos chegaram a sonhar com a ida para a área "onde o Papa rezou a missa". A crise econômica, contudo, detonou os projetos, talvez definitivamente. Serve de alento saber que o Saldanha é um símbolo de resistência. Está na cor de sangue de sua camisa.
Manter o Saldanha com saúde é preservar a história de quase cem anos. História de lutas pela democracia, de educação através do esporte e de muitas glórias, na terra e no mar. O clube tem uma mística recente de funcionar com muitos sacrifícios e mesmo assim chegar longe.
Talvez a generosidade de pessoas como Alarico Duarte, do basquete, explique isso. Talvez o completo amadorismo não seja um mal tão determinante e estão errados os muitos defensores do profissionalismo. Como explicar um clube com tantos improvisos ser o melhor do país em várias modalidades nos últimos cinco anos?
Agora um fato para ilustrar o que é o esporte no Saldanha. Em 1991, a equipe de futsal juvenil havia se classificado em Colatina, a duras penas, para a fase final da Taça Brasil. Depois das comemorações, veio a realidade: o clube não tinha condições de enviar a delegação para o Rio Grande do Sul.
A primeira providência foi manter o terceiro goleiro no grupo. Este conseguiu com o pai da namorada, dono de uma casa de material esportivo, os uniformes de mangas compridas para suportar o rigoroso frio de Pelotas. Depois de três reuniões no Deares, algumas passagens aéreas foram cedidas. A Prefeitura de Vitória ofereceu outro tanto e o restante foi conseguido com pais de atletas e beneméritos.
Após uma campanha memorável (vencendo a Sadia (SC) por 6 a 3, o Olímpico (MG) por 9 a 2, a AABB/Maranhão por 7 a 3 e o Cruzeiro de Anil (MA) por 5 a 2), o Saldanha foi campeão da Taça Brasil derrotando na final a General Motors, de São Paulo, por 5 a 4, que havia estipulado como prêmio pela conquista um carro zero quilômetro para ser sorteado entre os atletas.
ESCRITOS DE VITÓRIA — Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES.
Prefeito Municipal - Paulo Hartung
Secretário Municipal de Cultura e Turismo - Jorge Alencar
Diretor do Departamento de Cultura - Rogerio Borges De Oliveira
Coordenadora do Projeto - Silvia Helena Selvátici
Conselho Editorial - Álvaro Jose Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco
Bibliotecárias - Lígia Maria Mello Nagato, Elizete Terezinha Caser Rocha, Lourdes Badke Ferreira
Revisão - Reinaldo Santos Neves, Miguel Marvilla
Capa - Remadores do barco Oito do Álvares Cabral, comemorando a vitória Baía de Vitória - 1992 Foto: Chico Guedes
Editoração - Eletrônica Edson Malfez Heringer
Impressão - Gráfica Ita
Fonte: Escritos de Vitória, nº 13 – Esportes- Prefeitura Municipal de Vitória e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 1996
Autor: Peter Falcão
Nascido em Vitória (ES).
Repórter de esportes do Jornal A Gazeta.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2020
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