Ontem, Hoje e Amanhã - Por José Carlos Corrêa
Vindos da Cidade Alta, onde moravam meus tios e primos, descíamos por detrás do Palácio para passear no Parque. Ainda sem os muros e as grades de hoje, o Parque era cercado por lambe-lambes, trilhos de bonde, pipoqueiros, árvores e belos sobrados. O passeio se prolongava entre jardins e lagos, o descanso nos bancos, o programa de calouros da Concha Acústica até terminar com um suco de caju e torrada petrópolis no recém-inaugurado Dominó. À tarde, um bom filme no Santa Cecília, sem esquecer do paletó como era exigido à entrada. Nada mais chique para quem vinha do interior para passar alguns dias de férias na capital do Espírito Santo.
Foi assim que o Parque Moscoso entrou na minha vida de visitante fugaz. Morador nunca fui, embora eu e Dodora tivéssemos caído de amores por um apartamento num prédio em construção em frente ao Cine São Luiz logo que decidimos a data do nosso casamento. Fizemos as contas, somamos o nosso dinheirinho, e o Parque Moscoso acabou por perder dois simpáticos futuros moradores. Gostávamos muito dali pois o Parque na época era o melhor lugar da cidade. Lá morava a Lurdinha, melhor amiga de Dodora, no Edifício Moscoso. Eu trabalhava por perto, em A Gazeta, na Rua General Osório, além de fazer as refeições no Sesc da praça Misael Pena onde Dodora cursava a Escola de Serviço Social. Os melhores cinemas estavam lá e ir ao cinema era o melhor programa do fim de semana. Mesmo que a chuva forte inundasse as ruas e nos deixasse ilhados sem poder sequer chegar ao ponto de ônibus. Isso o Setembrino, quando foi prefeito, resolveu e acho que foi por causa disso que votei nele tantas vezes. Mesmo sem ser sócio, era possível também frequentar as domingueiras do Clube Vitória e dançar, até não poder mais, ao som das eletrolas estereofônicas.
Quando chegaram os filhos, o Parque se tornou passeio obrigatório aos domingos. Eles adoravam dar pipoca aos patos, andar de trenzinho, olhar os macacos e passar horas nos brinquedos. Eles e eu. Ou, quem sabe, mais eu do que eles. O Parque havia sido reformado pelo prefeito Crisógono e estava novinho em folha. Havia tantos peixes nos lagos que, uma vez por ano, a Prefeitura liberava a pesca para as crianças, numa gincana animadíssima. Melhor programa, pra quê?
De lá para cá a cidade cresceu e nos puxou todos para a zona norte. Para a Praia vieram os novos edifícios, as praças, comércio, os consultórios dos médicos e dentistas, os bancos e agora, até os cinemas. Nossas passagens pelo Parque Moscoso se tornaram cada vez mais raras, mas mesmo assim um dos nossos passeios preferidos ainda é percorrer os seus arredores.
Aí, então, como numa volta ao passado, começamos quase sempre pela Cidade Alta. Damos a volta no Palácio e chegamos ao Parque pela General Osório e avenida República. Lurdinha não mora mais no Edifício Moscoso, A Gazeta já não está na General Osório e os filmes do Santa Cecília são muito diferentes do que eram. Mas dá para ver que, dentro do Parque, uma multidão de Paulos Henriques e Marianas continua dando pipoca aos patos, andando de trenzinho, olhando os macacos. E é claro, passando horas e horas balançando nos brinquedos.
Quem sabe ainda volto lá com os netos?
Fonte: Escritos de Vitória nº 6 - Parque Moscoso, PMV e Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo, 1994
Autor do texto: José Carlos Corrêa, nascido em Aimorés (MG), em Vitória desde 1963, jornalista e engenheiro
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2019
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