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Os preparativos para a segunda viagem ao interior do Brasil - Auguste Saint-Hilaire

Rio Itabapoana

Regressando de sua viagem à Capitania de Minas Gerais e de seus distritos diamantinos, Auguste Saint-Hilaire espera poder obter no Rio de Janeiro notícias de seus familiares na França, afinal, já se passaram praticamente três anos de sua estadia no Brasil, e desses, cerca de um ano e três meses (15 meses) passados em peregrinação pelo interior de Minas.

Durante o período em que esteve no Rio de Janeiro à espera de notícias, Saint-Hilaire dedicou grande parte de seu tempo na organização, catalogação e remessa dos itens coletados durante sua segunda viagem a Minas Gerais.

Dada a demora no sistema de correspondências, devemos lembrar que a viagem pelo Atlântico poderia chegar a até três meses, sendo o trajeto cumprido, em sua grande maioria, entre 45 a 60 dias, Saint-Hilaire decide que “para não ficar à toa durante esse intervalo, resolvi consagrar alguns meses a visitar o litoral que se estende ao norte da capital do Brasil”(155).

Durante os preparativos da viagem o viajante reclama das peripécias que sempre cercam os viajantes que se dedicam a percorrer o território brasileiro, segundo ele “tive grandes contrariedades, como acontece sempre neste país no meio dos preparativos de uma viagem por terra”(156), no entanto os preparativos conseguem ser finalizados a fim de se iniciar a caminhada. A comitiva ficara composta de:

 

um número de animais de carga suficiente para transportar minha bagagem e minhas coleções, meu doméstico francês, o índio Firmiano, um tropeiro chamado José, que me foi enviado de Ubá e do negro Zamore, que um negociante francês estabelecido no Rio de Janeiro me havia pedido para levar comigo afim de habituá-lo às viagens e ao serviço dos animais(157).

 

Enfim, posto em marcha no dia 18 de agosto de 1818, Saint-Hilaire poderá perceber, já nos primeiro momentos de sua viagem, as privações as quais estará sujeito e pelas quais Maximiliano já havia passado, sendo talvez, a principal delas, a ausência de uma estrada ou caminho bem estruturado para atender aqueles que para o norte do Rio de Janeiro pretendiam seguir. Segundo Saint-Hilaire “grandes estradas ligam a capital do Brasil a Minas e a S. Paulo; mas, à época de minha viagem não existia nenhum caminho entre o Rio de Janeiro e as províncias do norte”(158), isso devido, principalmente, ao fato de que

 

era então quase sempre por mar que se ia de um porto ao outro; caravanas regulares nunca percorriam a costa, sendo pouco conhecido o trabalho com animais de carga. Quando por acaso se desejava viajar por terra do Rio de Janeiro ao norte do Brasil, seguia-se até as lagoas de Saquarema e Araruama, por um desses caminhos que já mantém comunicação entre a capital e as fazendas das vizinhanças; contornavam-se em seguida as duas lagoas, e, excetuados pequenos trechos, não se fazia outra cousa, até ao rio Doce, que caminhar sobre uma praia arenosa, batida pelas vagas(159).

 

Assim como Maximiliano, a última paragem de Saint-Hilaire em terras cariocas foi na fazenda Muribeca, às margens do rio Itabapoana, divisa geográfica das duas capitanias. Apesar da insistência do proprietário para que Saint-Hilaire pernoitasse na Fazenda, o mesmo optou por prosseguir viagem rumo ao Espírito Santo. Não há como precisar a data em que o viajante adentrou em terras capixabas, a única coisa que podemos ter certeza por suas narrativas é que os temores que avassalaram Maximiliano três anos antes, foram os mesmos que acometeram Saint-Hilaire ao se dirigir a essas terras.

O que se tem conhecimento é que “em 10 de outubro desse ano [1818] chega a essa capitania o notável naturalista Auguste de Saint-Hilaire, dirigindo-se ao rio Doce e dali a Minas”(160), e que o mesmo “conheceu de perto o Rio Doce, até Linhares, onde chegou a 22 de outubro, conduzido em pirogas pelos soldados pedestres do quartel de Regência Augusta”(161). Durante todo o seu percurso “anotou números, dados históricos, observações sobre indústria, agricultura, comércio, alinhou reflexões a respeito da civilização dos índios, costumes dos brancos e etc”(162).

 

NOTAS

(155) SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagens pelo Distrito dos Diamantes e Litoral do Brasil... Op. cit., p. 242.

(156) Ibidem, loc. cit.

(157) SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagens pelo Distrito dos Diamantes e Litoral do Brasil... Op. cit., p. 242.

(158) Ibidem, loc. cit.

(159) Ibidem, p. 243. Vale aqui a pena resgatar o fato disso já ter sido comentado ao longo da viagem de Maximiliano, que durante a maior parte de seu percurso percorreu o caminho do Rio de Janeiro ao Espírito Santo pela beira mar.

(160) DAEMON, Basílio Carvalho. Província do Espírito Santo... Op. cit., p. 294.

(161) HARUF apud DAEMON, Basílio Carvalho. Província do Espírito Santo... Op. cit., p. 294.

(162) OLIVEIRA, José Teixeira de. História do Estado... Op. cit., p. 280.

 

PRODUÇÃO

 

PAULO CESAR HARTUNG GOMES

Governador do Estado do Espírito Santo

 

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JOÃO GUALBERTO MOREIRA VASCONCELLOS

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RICARDO SAVACINI PANDOLFI

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CILMAR CESCONETTO FRANCESCHETTO

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AUGUSTO CÉSAR GOBBI FRAGA

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Conselho Editorial

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Michel Caldeira de Souza

Rita de Cássia Maia e Silva Costa

Sergio Oliveira Dias

 

Coordenação Editorial

Cilmar Franceschetto

 

Coordenação de Arte

Sergio Oliveira Dias

 

Revisão Ortográfica

Jória Scolforo

 

Projeto Gráfico e Capa

Alexandre Alves Matias

 

Agradecimentos

Grupo de Trabalho Paisagem Capixaba

 

Impressão e Acabamento

Gráfica Dossi

 

Fonte: Viagens à Capitania do Espírito Santo: 200 anos das expedições científicas de Maximiliano de Wied-Neuwied e Auguste SaintHilaire/ 2. ed. rev. amp. Vitória, Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2018
Autor: Bruno César Nascimento
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2020

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