Pedro Furão – Por Elmo Elton
Capataz da Capitania dos Portos, foi grande animador de antigos carnavais de Vitória, num tempo em que, nos dias momescos, velhos e novos foliões (gente da raia miúda) batiam à porta de pessoas amigas, cantando e arrecadando dinheiro:
Minha muié já é veia
não pode mais trabaiá.
Vamos comprá argodão
pra minha véia fiá.
Pedro Furão, típico homem do povo, preto, alto, muito simpático e falante, embora portador de ligeira gagueira, era visto em toda parte, sempre arrodeado de amigos, também de mulheres, já que presidente de vários clubes recreativos e blocos carnavalescos. Fundou, na Fonte Grande, mas com sede na rua Pereira Pinto, hoje desaparecida, o clube Chuveiro de Prata, com bloco do mesmo nome, e, mais tarde, já noutro local, o Chuveiro de Ouro, também com bloco organizado, e, em seguida, o Ipiranga, este no distrito de São Torquato.
Tinha um amigo de folia: - seu Zé Pereira, indispensável integrante de todas as diretorias daqueles clubes e blocos. Zé Pereira, embora analfabeto, andava sempre com um dicionário de Inglês debaixo do braço, expressava-se com gabolice, adulterando as palavras, o sentido das frases. Certa vez, em meio a animada reunião, perguntou a Pedro Furão qual seria o itinerário do bloco Chuveiro de Prata, durante o carnaval. A resposta foi um disparate:
- Calça branca com camisa verde.
- Estou satisfeito, senhor presidente! respondeu o indagante. E, virando-se para os presentes, repetiu a mesma tolice que acabara de ouvir.
- O intinerário, ouçam bem, o intinerário é calça branca com camisa verde.
O Chuveiro de Prata fazia sucesso, e enquanto desfilava pelas ruas estreitas de Vitória, Pedro Furão, à frente, ia gritando, eufórico:
- Quebra putada, quebra mais putada!, embora o dito cordão fosse integrado mais por mocinhas e crianças do que mesmo por adultos.
Pedro Furão, nos últimos anos de vida, residiu na rua São João, no alto do morro da Vila Rubim, onde promovia marujadas, com a nau catarineta construída por ele próprio e moradores do local, os participantes vestidos a caráter, "tudo muito bem organizado e bonito".
Era casado com Dona Manuela, senhora de comportamento exemplar, dedicadíssima ao esposo e aos filhos, mas, mesmo assim, traída pelo marido, já que este foi sempre homem de muitas amantes, com as quais ia deixando descendentes.
Quanto a Zé Pereira, sabe-se que morava em Argolas onde fundou o Clube Bataclan, sendo presidente e orador da entidade, ali iniciando cada baile com esta advertência:
- Senhores sócios, sou cidadão anarfabeto, muito ingnorante, mas exija respeito nos baile, já que aqui tanto as casadas como as solteiras são todas virgens.
Os presentes aplaudiam-no:
- Apoiado, apoiado, muito bem!
E os arrasta-pés - tudo na mais perfeita ordem - só terminavam mesmo madrugada alta.
Porque muito patriota, hasteava, todos os domingos, a bandeira nacional na fachada de sua casa, sendo que algumas pessoas, zombeteiras, lá iam cantar o Hino Nacional, estropiando, irreverentes, letra e música do hino, encerrando-se cada solenidade" com espalhafatosos vivas ao seu promotor. Uma pândega!
(Informação da professora Zulmira Ferreira.)
Fonte: Velhos Templos e Tipos Populares de Vitória - 2014
Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter Aguiar Filho, fevereiro/2019
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