Quando o Penedo falava – Por Maria Stella de Novaes
Recordava-se uma velha escrava do que lhe contaram, na infância: — Muitas vezes, na quietude das ondas, na calma da brisa, ouvia-se a melodia dos sons de um búzio encantado, instrumento soberbo de um gênio residente, num misterioso palácio, oculto no Penedo. Em determinadas horas, fendia-se o rochedo, como talhado pelo relance de um raio, ou espada invisível de um titã. Logo, o vulto, semelhante a um príncipe intrépido e formoso, caminhava sobre as ondas, chegava à praia belíssima, ainda intata, pela ausência da civilização. Tomava o búzio lindo e refulgente, na irisação de sua madrepérola, e desferia música suave, harmoniosa e enlevante!
Alguém, certo dia, ouviu-lhe a história — Gênio bom e manso, fora enclausurado, no coração da pedra, para assistir a todos os triunfos e todas as amarguras da Terra Espírito-Santense. Conheceu, assim, as primitivas tribos, em completa selvageria, errantes, na opulência maravilhosa da floresta. Chegaram as naus lusitanas, na ambição das explorações e, depois, a caravela "Glória", trazendo um Donatário, para dominar os índios, verdadeiros senhores da terra. E aquele vulto misterioso assistiu à trucidação dos silvícolas, às investidas dos franceses e holandeses, ao cativeiro dos africanos, ao apostolado dos jesuítas e outras passagens da História do Espírito Santo. Encerrado, no Penedo, como se fora a alma da sentinela granítica de Vitória, presenciara a tudo, enquanto implorava aos deuses que protegessem a Terra Capixaba, felicitando-a e enaltecendo-a.
E, todas as noites, quando as estrelas cintilavam, o gênio voltava ao seu relato sincero e interessante. Recomendava-lhe, entretanto: Se denunciares a alguém minha existência, nunca mais teus olhos hão de me ver".
Logo, o búzio encantado soltava os primeiros compassos da melodia deliciosa e o vulto afastava-se... Parecia conduzido pelas vibrações etéreas e mágicas... Sumia-se, nos anfractos da rocha.
Fonte: Lendas Capixabas, 1968
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2015
Essa é a versão mais próxima da realidade...
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