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A Pedra do Diabo – Por Maria Stella de Novaes

Capa do Livro: Lendas Capixabas, 1968

Encontra-se a Pedra do Diabo, no lugar chamado Inhanguetá, na Estrada de Contorno, em Vitória. É uma dessas curiosidades observadas, em diversas rochas, no Brasil, distinguidas pela imaginação popular, que as relaciona com esta ou aquela passagem lendária.

Na Pedra do Diabo, existem sinais, — relevos e incisuras, semelhantes a marcas de pés e cruzes. Originou-se, por isso, a lenda, igual a muitas outras, quanto ao poder de Santo Antônio sobre o príncipe das trevas. Vejamos:

— Pertencia o Sítio Inhanguetá a um avarento, convencido de que não precisava de Deus. Concentrava sua ambição, nos bens terrenos. Para que Deus? Ele, o fazendeiro, era um espírito forte! Ficassem as crendices, para as mulheres.

— Os pobres?

Que se arranjassem...

— Os escravos?

Ao mundo vieram, para trabalhar... E trabalhavam, mesmo, sem o menor conforto, sob o pavor dos castigos incríveis!

Igualmente, não satisfeito com as suas posses, o ambicioso avançava no que podia tomar dos vizinhos.

Perante essa mentalidade voltada somente para o dinheiro, mentalidade "pão-duro", como se diz, agora, foi-se divulgando logo a notícia de um contrato com o demônio.

Sim, o povo começou a temê-lo, como parceiro de Satanás. Dizia-se mesmo que ambos escondiam o dinheiro, sob uma pedra, que somente o demônio podia remover.

Chegou, porém, o dia da provação. Uma praga, nunca vista, começou a destruir as plantações. Tudo se foi acabando!...

— Castigo! — exclamavam os prejudicados, pelo avarento. — Ele não respeita nem os domingos! ...

Voltou-se o "pão-duro" para o amigo, — o seu amigo, o diabo, que lhe impôs o sacrifício do seu único filho, em recompensa à extinção do flagelo. Somente assim, poderia recuperar a fortuna.

Exausto de vagar pelas terras privadas de plantações e de ver dizimados os rebanhos, alucinado, inconsciente mesmo, o avarento aceitou a proposta de entregar o rapaz ao terrível sócio, numa sexta-feira, à meia-noite, sobre a misteriosa pedra, nas proximidades da casa grande. Insensível, porém, à grandeza do coração materno, relatou o projeto à esposa, que se apegou, logo, com Santo Antônio, certa do poder desse taumaturgo sobre o inimigo das almas. Recomendou-lhe a salvação do filho estremecido. Ambos, mãe e filho, confiaram-se à proteção do Santo que, na juventude, livrara-se da tentação infernal, traçando uma cruz, na pedra do Convento, onde morava.

No bolso do rapaz, foi posta uma estampa de Santo Antônio.

Na ignorância ou no desprezo dessa dupla invocação piedosa, no dia marcado, o fazendeiro convidou o filho para a excursão noturna e, na hora certa, — ao cantar do galo, — abandonou-o, sobre a rocha.

Fiel ao contrato, aparece o demônio, para arrastar o jovem à sua caldeira.

Mais poderoso, porém, atento à súplica do seu devoto, surge Santo Antônio. Risca uma cruz, na pedra, e impõe a retirada do diabo.

Ouve-se um estrondo, seguido de uma fumaça de enxofre. E, logo, ficaram, na laje, as marcas da Cruz, dos pés de Santo Antônio (a menor) e do demônio (a maior).

Sim, o príncipe das trevas não podia triunfar, num lugar batizado "Santo Antônio", desde a época do seu descobrimento. (13/6/1535)

 

Fonte: Lendas Capixabas, 1968
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2015

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