A Cruz de Muribeca - Por Maria Stella de Novaes
Lembra-nos o lugar chamado Muribeca, no Município de Itapemirim, um dos mais antigos redutos, ou fazendas, fundados pelos jesuítas, no Espírito Santo.
Mesmo após a retirada dos padres, distinguia-se pela igreja consagrada a Nossa Senhora das Neves, anexada à paróquia de Itapemirim, em 1771.
Sua história perpetuou-se, na lembrança dos capixabas, em conseqüência de uma lenda regional, relacionada com os seus fundadores. Resume-se, no seguinte:
— Como todos os lugares onde trabalharam os padres da Companhia, possuía aquele sítio uma Cruz plantada no alto de um cômoro. Dominava a planície e o horizonte. Sua origem remontava a um sacerdote chamado Almeida que partiu de Vitória e procurou os campos de Muribeca, para fundar um aldeamento de índios. Seus confrades edificaram, depois, a capela de Nossa Senhora das Neves. Tudo corria bem, até que, um dia, chegou-lhes a notícia de que, em Lisboa, tramava-se contra a Ordem, a fim de que seus membros fossem expulsos de todo o domínio lusitano.
Reuniram-se, então, os padres e decidiram ocultar tudo o que representasse valor: — ouro, prata, baixelas, alfaias, paramentos, etc. Arranjaram, para isso, uma arca bem fechada e cuidaram de dar-lhe um destino incógnito a estranhos. Poderiam, assim, reaver seus inestimáveis bens, quando regressassem às suas missões apostólicas. Providenciaram um carro e um carreiro, que surgiram, certa vez, inesperadamente, no terreiro enorme, entre os escravos e os índios surpresos.
À meia-noite, quando todos repousavam, os padres, entoando Salmos e Ladainhas, abandonaram a aldeia e foram abrindo caminho, para o mar. Em certo ponto, cavaram o solo e ocultaram o seu fabuloso tesouro. Logo, porém, num tremor impressionante, abriu-se a terra e engoliu o carro, os bois, o carreiro e os viajantes! ... No alto do cômoro, ponto de convergência das fendas, surgiu uma cruz: — a Cruz de Muribeca.
Passaram-se os anos. Certa vez, um soldado, que estivera a serviço d'El-Rei, desertou... Rumou para a Capitania da Paraíba do Sul. Alcançou-a à noite, na praia, em direção à Barreira do Siri, no Itapemirim. Deteve-se então, aturdido, apavorado, no meio de uma restinga. Sentiu que lhe faltava o chão! ... Parecia estar petrificado, cercado de vultos semelhantes a uma procissão de cadáveres! Cabeças negras informes, ar monótono, caras bisonhas, zumbido de insetos!...
Cenáculo de espectros!...
Horror!
Num esforço alucinante, conseguiu dominar-se. Ergueu-se e moveu as pernas. Encetou a marcha e seguiu para o interior. Deu alguns passos e deteve-se novamente, assombrado, agora, diante de um facho ardente, sobre uma coluna atravessada por uma barra: — Era a Cruz de Muribeca, onde se concentrava a assombração!...
Lia-se, na travessa:
Assim mesmo, qual sou, abandonada,
Eu vi aquele que me deu a terra;
Olhou, em derredor as gentes todas,
E fez, num torvelinho, o pó dos montes
Condensar-se no céu, em noite escura.
O desertor leu a estrofe e seguiu o seu caminho. Adiante, sentiu tudo estacionar-se: — o céu, o mar, o vento... Silêncio... Escuridão! Lamentos inarticulados, ao longe...
Parou. Procurou refletir; sentiu, porém, a seguinte súplica:
Orai por nós, que somos pecadores,
Por tudo, neste mundo, cobiçar!
Orai, para o perdão de nossas culpas,
Ali, está um tesouro, — ide-o buscar.
Conta-se que, até aquele dia, quem passasse, por ali, seguia ou voltava, assombrado.
Aquelas almas faziam penitência. Salvaram-se, porque, durante trinta anos, foram celebradas missas, em sua intenção, para que seus pecados fossem perdoados.
(Esta lenda se encontra na coleção de Gomes Neto e, em parte, nos jornais da Biblioteca Pública do Espírito Santo).
Fonte: Lendas Capixabas, 1968
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2015
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