Capixaba - Por Maria Stella de Novaes
Uma lenda relacionada com a chegada rumorosa dos lusitanos à Capitania do Espírito Santo conta-nos que, entre os ádvenas, havia um jovem de cabelos dourados, olhos que refletiam a cor do céu, e porte airoso. Ombreava-se com a força dos guerreiros íncolas. E apaixonou-se pela princesa belíssima, destinada, segundo o código da tribo: — seria a esposa do mais valoroso combatente autóctone.
O amor, porém, se interpõe à decisão do pajé. À noite, quando Jaci inundava de luz as margens do Xapinhangas, vinha o homem louro carpir, ao rumor das águas, a saudade da pátria e dos seus ancestrais, ao passo que, à distância, através da folhagem, a princesa da selva contemplava, enlevada, sua estranha figura.
Foi-se, naturalmente, encurtando a distância, entre aqueles corações talhados para um futuro superior à dureza dos moldes da época e, certa vez, a carícia de um beijo despertou o notívago do seu melancólico cismar. Sim, os lábios virgens da linda princesa desvendaram-lhe a fonte da felicidade, no misterioso ermo do mundo, que se incorporava ao Poder da Coroa Portuguesa.
O Amor triunfou da Saudade! Amor silencioso e oculto, revelado, apenas e forçadamente, com o nascimento de uma criança de tez rosada e cabelos ondulados e louros, em contraste com os caracteres da sua tribo.
— Seria a encarnação de uma flor de ipê!
A ruminar essa interrogação, voltou-se o cacique para o conselho dos magos e, chamada à confissão, a transgressora dos preceitos superiores recebeu o veredicto cruel: — o repúdio à criança, filha do branco aventureiro. Seria sacrificada, a fim de que se afastasse, da tribo, o furioso castigo de Tupã!
Confrangeu-se o coração materno! Resolveu a princesa fugir com a filhinha, cada dia, mais encantadora e bela! Vence a mataria do Continente, guiada pelas cintilações dos pirilampos, até que, numa praia, encontra uma piroga abandonada pelos sequazes do pajé inclemente, que perfuraram de lanças o corpo forte do seu amado, o jovem colono! ...
Alucinada pela dor e pelas decisões dos seus chefes, a índia embarca. Depõe a filha num berço de folhagem, e rema... rema... vertiginosamente! Domina a fúria das ondas, até alcançar a Ilha figurada aos aborígines, como envolta no mistério do isolamento.
— Por que Tupã a destacara das suas terras? Cercara-a de água?
Aporta a índia intrépida numa laje fronteira ao Penedo. Dificilmente, caminha uns metros, para cair exausta! Aconchega a filhinha ao calor do seu corpo arquejante e adormece, à vigilância de Iara, que entoa mavioso canto de aviso ao Curupira e ao Saci, para que afastassem, para longe, os maldosos anhangás e os pios do urutau, enquanto não raiasse a aurora e o Sol derramasse, na Terra, a força reconfortante do seu calor.
Aos gorjeios dos pássaros, que saudavam os esplendores da manhã, despertaram famintas, aquelas duas criaturas marcadas pelas conseqüências da civilização. Ignoravam, porém, que, às súplicas de Rudá, havia Tupã concedido ao seu pranto o dom de adubar a terra circunvizinha, coberta, já, de lindo verdor. Na folhagem, quase rasteira, o orvalho assemelhava-se às lágrimas vertidas, à noite, pelos seus olhos macerados, no sofrimento!
Continuou, porém, o milagre do Amor: — À medida que a princesa deserdada contemplava aquele tapete esmeraldino, repontavam hastes finas e fortes, encimadas de espigas ornadas de borlas douradas. Pareciam feitas dos cabelos sedosos e louros de sua filha. Estavam recobertas de grãos coloridos, com o tom moreno da sua própria tez!
Surgiu, assim, na terra dos goitacás, uma roça de milho, — CAPIXABA, a fim de que a primeira mameluca tivesse alimento, crescesse ao abrigo das privações e do castigo, e pudesse contar aos seus descendentes a origem do topônimo, que se estenderia a todos os recantos da terra espírito-santense:
TERRA CAPIXABA!
Fonte: Lendas Capixabas, 1968
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2015
No caminho da Penha, (hoje Ladeira do Convento), ainda sem a calçada de lajes e divisão, nos Sete Passos murados, havia uma pavorosa assombração!
Ver ArtigoEra assim chamado um irmão leigo franciscano, que viveu alguns anos, em Vitória, e passou, depois, a residir na Ermida das Palmeiras, onde preparou a construção do Convento
Ver ArtigoNo trabalho intenso de defesa da Ilha, certo dia, o guerreiro procurou dessedentar-se, na fonte misteriosamente originada
Ver ArtigoSofria a população de Iriritiba, ou Reritiba, e suas vizinhanças as conseqüências de forte e prolongada estiagem
Ver ArtigoNa Pedra do Diabo, existem sinais, — relevos e incisuras, semelhantes a marcas de pés e cruzes
Ver ArtigoA foz do Marinho, onde entrou e foi subindo... subindo, até que, no lugar chamado Caçaroca, submergiu toda a imensa riqueza
Ver ArtigoConta-nos uma lenda que o Penedo é mágico, por isso, na passagem de um navio pela sua frente, os viajantes devem atirar-lhe moedas
Ver ArtigoLembra-nos o lugar chamado Muribeca, no Município de Itapemirim, um dos mais antigos redutos, ou fazendas, fundados pelos jesuítas, no Espírito Santo
Ver ArtigoA Insurreição do Queimado representa, de certo, no Espírito Santo, a passagem mais dolorosa do século XIX
Ver ArtigoE, lá, na ermida em que se deu o desenlace, ajoelhado ainda e mãos postas no altar, Frei Palácios parece, enlevado, a rezar!
Ver Artigo