Renato Pacheco fala de Eugênio Sette em Praça Oito
Eugênio Lindenberg Sette (1918-1990)
Eug — era assim que, modestamente, Eugênio Sette, filho de D. Sílvia e do Dr. Sette, se assinava nas crônicas da década de 40, em A Gazeta, de que era redator. Entrementes, com o irrequieto João Calazans, já editava o Suplemento Literário de A Tribuna que seria, ainda hoje, uma publicação moderna em nossa imprensa.
Depois, na revista Vida Capichaba, de Manoel Lopes Pimenta, que dirigia com Eurípides Queiroz do Valle, Guilherme Santos Neves e comigo, seguindo a moda, publicou, na primeira página, uma série de crônicas inesquecíveis, subordinadas ao título de PRAÇA OITO, que trouxera de A Gazeta.
A Praça Oito, diz o cronista, "é do Povo como esta frase é de Castro Alves. E o povo não perdoa. Ninguém se agüenta, na Praça. Aquilo é um rolo compressor. Arrasa. Coventriza reputações. Desmancha poses e cartazes. Aniquila. Às vezes, aos poucos, outras vezes sumariamente. Zurze o couro alheio com uma força digna de Hércules. E nenhuma reação é possível, porque todos sabem de tudo e, ao mesmo tempo, ninguém sabe de nada. É o mesmo que se esmurrar o vento. Não há resistência. Na vida dos ilhéus, a Praça não deve ser menosprezada. Porque ela é um monstro de precisão — registra tudo. É um aparelho mecanicamente ainda não inventado, tamanho é o seu poder de captação, retenção e distribuição. Tudo, nela, tem sua razão de ser."
Um dia, na redação da revista, Guilherme Santos Neves e eu (metido, então, a editor de livros) tivemos a idéia de dar um presente de aniversário sui-generis a Eugênio: reunir em livro suas crônicas. Com o apoio, em segredo, da esposa Antonieta, que colecionara zelosa e amorosamente dezenas de originais, publicamos o livro Praça Oito em 1953, e no dia 1° de janeiro lá lhe fomos levar o livrinho maneiro, a sua casa nova, ao lado da residência do velho pai, objeto de seus sonhos e de tantos de seus escritos.
É este livro que, em boa hora, se reedita agora, graças à autorização da família e à iniciativa da Gráfica Espírito Santo, em sua parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisas da Literatura do Espírito Santo, da UFES.
De fato, Eugênio Sette está na primeira linha de nossos cronistas: a simplicidade, a compaixão, a visão amorosa sobre a vida, são algumas de suas características. O profissional de valor e pleno de atividades em sua própria carreira de advogado do Estado, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Espírito Santo, membro do Tribunal Regional Eleitoral, professor de Direito Comercial da UFES e detentor dos prêmios Augusto Lins e Colar do Mérito Judiciário do Tribunal de Justiça do Espírito Santo se despia de toda a grandeza tribunícia para discutir, humanamente, o padre que foi ver Gilda, filme que fez furor, quando exibido.
Professor de inglês na mocidade, sua sensibilidade poética fez com que traduzisse inúmeros textos norte-americanos, publicados no Correio da Manhã, do Rio, e depois enfeixados no livro Negros e Brancos — Poemas traduzidos.
Eugênio Sette deve ser lembrado sempre como o homem de bem que ele foi. Em 1975, numa das fases cinzentas de minha vida, ele me escreveu uma carta, a 10 de julho, em que relembra nossa (dele e minha) passagem pelo Partido Socialista, que era então motivo para que eu fosse desqualificado para determinado cargo público. Transcrevo alguns trechos:
"Hoje, na distância do tempo, é preciso reconhecer que o nosso socialismo, tão temido agora pelos seus opositores, não passava, na verdade, de um protesto à mesmice passado-udenista: — sempre os mesmos homens, sempre as mesmas caras, sempre as promessas incumpridas e incumpríveis... E foi na tentativa de mudar, que nos lançamos àquela legenda partidária, esquecidos, também, de que estávamos de certa forma, vinculados, direta ou indiretamente, por laços familiares aos elementos de proa que condenávamos. Éramos um grupo jovem, de uma juventude nascida entre duas guerras, sem rumo e sem prumo. Tão pobre era o nosso desejo, que nos limitamos a candidatos à vereança municipal. Ninguém ousou voar mais alto... Ninguém, é verdade, conseguiu se eleger, nem mesmo eu, que fui o mais votado... Nenhum de nós rapinou a Nação, o Estado ou o Município. Temos sido cidadãos prestantes à comunidade, sem objetivo de reconhecimento apregoado ou não. Temos sido, meu caro, e o importante é exatamente isto: ser com tranqüilidade e paz de espírito."
E concluiu:
"A estrada da vida é muito longa. Estreito é o beco da mesquinharia enorme..."
Sinto falta de muitos amigos que estão no lado de lá. Entre estes, que saudade das gargalhadas de Eugênio, das bananas homéricas de Eugênio, de sua visão pessimista quanto à Ilha, sem horizontes, o que certa feita causou-lhe quase confusão com o folclorista gaúcho Dante de Laytano, cuja esposa se chamava Ília, de sua colaboração como árbitro nos certames folclóricos que Mestre Guilherme inventara para gáudio da garotada, e nos quais, consoante o repórter Duarte Júnior, da Rádio Espírito Santo, Eugênio fazia soar "o seu tradicional apito"... Mas sobretudo aquele que em nossos momentos de dificuldade nos dava o caminho correto, humano, o conselho sensato de irmão mais velho.
Que os leitores novos saibam ver em Eugênio Sette o grande cronista que ele foi.
Por Renato Pacheco: Texto de introdução do Livro de Crônicas – Praça Oito
Fonte: Praça Oito, 2001
Autor: Eugênio Sette
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2014
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