Sumé – Por Maria Stella de Novaes
Enviado, eleito de Tupã, Sumé aparecia, nas praias do sul do Espírito Santo, a fim de conciliar as tribos, em lutas contínuas, e ensinar-lhes a agricultura, de modo que substituíssem as guerras pelo trabalho e, assim, tivessem fartura e felicidade.
Surgiu, de modo original, no horizonte, como se acompanhasse o levante do Sol, aproximou-se, lentamente, da praia, caminhando sobre o mar, quando, certa vez, os goitacás comemoravam uma derrota dos seus inimigos.
Era impressionante a figura de Sumé: — fisionomia doce; barba sedosa, que lhe cobria o tronco e alongava-se aos pés, chegava, mesmo, a tocar nas ondas; olhos ternamente azuis. Espetro da suavidade! ...
Numa revelação do seu poder, com um simples aceno, acalmava os elementos, em fúria, ao passo que se abria a espessura da mata, para a sua passagem fácil, incólume. Feras medonhas vinham deitar-se, mansamente a seus pés.
Admirados, perante a singular figura de Sumé, todo poder e bondade, os índios acalmaram-se; tomaram-no como conselheiro, depois de cientificá-lo dos feitos gloriosos da tribo.
Sumé louvou tanta bravura daquele povo simples e puro; penalizado, procurou ensinar-lhe meios de uma vida mais saudável e abastada. Mobilizou os homens válidos, a fim de que fizessem provisões de caça, pesca e outros alimentos, para os velhos, as mulheres e as crianças. Deveriam, depois, acompanhá-lo. Iam desbravar, cavar a terra, e obrigá-la, assim, a dar-lhes o sustento diário.
Ouviram-no os silvícolas: — "Grande Mãe é a terra! Mãe generosa. Basta-lhe amor, carícia e afago, para que se abra, logo, prodigiosamente em toda a sorte de bens e venturas!"
Objetou-lhe, porém, o astucioso pajé: — "Como, pois, grande Santo, ela nos tem dado somente espinhos e répteis?"
Respondeu-lhe Sumé: — "Porque não a tendes amado, fervorosamente, e trabalhado com perseverança. Deveis regá-la, com o suor de vossas frontes. Cavai-a. Ela rasgar-se-á, para dar-vos a renovação da vida."
Seguiram-no. Cumpriram suas instruções. Atiraram sementes ao solo trabalhado. E, assim, foram caminhando e trabalhando, até os limites das terras dominadas pelas outras nações. Ordenou-lhes, então, o instrutor que retrocedessem.
Oh, deslumbramento!...
Frutas, cereais, flores!...
Sumé ensinou-lhes a devida utilização de tudo. Arrancariam, por exemplo, a mandioca, para a farinha.
A inveja, porém, não se fez esperar. Ressentidos, perante o prestígio daquele benfeitor, alguns pajés tramaram a revolta dos ingratos. Por isso, numa tarde, quando a assistência dos que se conservaram puros e dóceis rodeava o mensageiro e ouvia-lhe os ensinamentos, uma flecha, atirada de longe, atingiu-lhe o peito!
Impassível, Sumé arrancou-a e foi-se retirando, lentamente, para o mar, olhando, porém, calmo e sorridente, para a terra, enquanto outras flechas sucediam-se, arrancadas, sempre, sem magoá-lo.
Assim, aquela visão deslumbrante afastou-se... afastou-se... até desaparecer, misteriosamente, além, muito além, deixando, nos maus, o prêmio do remorso, e, nos bons, o pungir de uma grande saudade!
(Esta lenda, com pequena variante, encontra-se também, no livro "Contos Pátrios", de Olavo Bilac e João Ribeiro.)
Fonte: Lendas Capixabas, 1968
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2016
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