A oligarquia dos Monteiro
As principais decisões políticas tomadas a partir do final da primeira década do século XX no Estado do Espírito passavam necessariamente pelo crivo dos Monteiro. Havia um inconteste predomínio dessa oligarquia familiar cujos protagonistas principais eram os irmãos Jerônimo de Souza Monteiro e Bernardino de Souza Monteiro. Estes conseguiram destituir do posto de principal liderança o ex-presidente Moniz Freire e, paulatinamente, foram se tornando hegemônicos na condução de política estadual.Todavia, essa oligarquia não se resumia a liderança dos dois irmãos, o seu braço atingia diferentes nichos de poder existentes no Estado, inclusive a Igreja, cujo bispo Dom Fernando de Souza Monteiro, que dirigiu a Igreja Católica em terras capixabas no período de 1902 a 1916, era irmão de Jerônimo e Bernardino.
A conquista da presidência estadual era a coroação do domínio exercido sobre a política nos Estados. De 1908 a 1930 os candidatos indicados para ocupá-la eram escolhidos, ou dependiam do beneplácito dos Monteiro, pelo menos de um deles. Lembremos que, até a eleição de 1916, esses se encontravam juntos, porém, a partir da campanha de 1920, os dois tomaram posições opostas e Bernardino passou a encabeçar a liderança política. Eleitos presidente ou através de seus candidatos, em decisões conjuntas ou em posições divergentes, os irmãos Monteiro dominaram a política espírito-santense durante um período considerável da Primeira República.
É importante esclarecer que a consolidação desse domínio não sucedeu facilmente, foi necessário um esforço no sentido de minar a resistência da oposição para, aos poucos, conseguirem que as suas decisões predominassem. Marcondes, político proveniente de Cachoeiro de Itapemirim, eleito em 1912, sob a escolha dos Monteiro, foi considerado, pela oposição como não capaz para exercer a presidência: Sua eleição e principalmente a de Bernardino, em 1916, dando mostras de que o Estado estava caminhando para se tornar um feudo familiar, foram marcadas por disputas intensas. Todavia, os Monteiro conseguiram estabelecer a sua vontade e assegurar o seu domínio na política capixaba.
Jerônimo de Souza Monteiro foi presidente do Estado de 1908 a 1912 e escolheu o seu sucessor, o Coronel Marcondes Alves de Souza, que se candidatou e foi eleito para o período de 1912 a 1916. A partir do ano de 1916 e com término em 1920, o governo ficou a cargo de Bernardino de Souza Monteiro. No pleito para o quatriênio 1920 a 1924, ocorreu a disputa que detonou a séria divergência que colocou os dois irmãos em lados opostos na política estadual e a intervenção federal garantiu a eleição do Coronel Nestor Gomes, candidato de Bernardino. Este se tornou o chefe do Partido Republicano e o todo poderoso na política Estadual até a sua morte em 1930, poucos meses antes do início da revolução. O presidente Florentino Avidos que governou o Estado de 1924 a 1928, foi casado com Henriqueta Monteiro Ávidos, irmã de Jerônimo e Bernardino e, por estar dentro do âmbito familiar, a sua candidatura foi aceita sem grandes divergências.
Jerônimo, a partir da dissensão com Bernardino, perdeu prestígio e poder de decisão dentro do Partido Republicano estadual. No vespertino Diário da Manhã, entre os anos de 1927 a 1930, o seu nome foi praticamente excluído das edições, sendo somente citado para sofrer críticas quando disputou a eleição ao Senado contra Joaquim Teixeira de Mesquita em fevereiro de 1927 e contra Florentino Ávidos na eleição realizada em outubro do ano seguinte, após renúncia do senador Mesquita. Com a existência de apenas um partido a nível estadual, o Partido Republicano Espírito-Santense e alijado do nível decisório deste, Jerônimo acabou por não participar das chapas propostas pelo Partido para as eleições senatoriais. Durante a Primeira República, os candidatos integrantes da situação já podiam considerar-se eleitos.
O ex-presidente, que era senador em fim de mandato, tentou-se reeleger-se como candidato independente, mas não conseguiu. Procurou reverter a situação a seu favor na comissão de poderes do senado, tentando imputar falhas na eleição para obstruir a confirmação do candidato que alcançou o maior número de votos, mas não logrou sucesso. Joaquim Teixeira de Mesquita obteve a sua homologação pelo Senado Federal em maio de 1927. Do mesmo modo, na disputa com Florentino, Jerônimo perdeu, tentou impugnar, foi derrotado novamente e Florentino foi reconhecido e tomou posse em novembro de 1928.
O nome de Aristeu Borges de Aguiar, para o quatriênio 1928 a 1932, foi uma opção de Florentino, acatada pelos demais “caciques” do partido, fundamentalmente Bernardino e o restante da bancada federal.
Fonte: Aristeu Borges de Aguiar um presidente atropelado pela história - A política e a economia capixabas durante os anos de 1928 a 1930.
Autor: Flávio Calmon Wanick (capixaba de Vitória, ES, é mestre em História Social das Relações Políticas pela UFES e graduado em Economia pela mesma Universidade.)
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