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A política brava – Por Jair Corrêa

Coronel Bimbim - Fonte Blog Frade Online

Depois do fim do Estado Novo, em 1945, quando foram criados os novos partidos, eu entrei na política. Entrei na UDN. Foi na época do Brigadeiro. Nós nos reunimos — éramos um grupo de amigos — e resolvemos fundar a UDN em Aimorés. Eu, o Elias de Sousa Carmo, o Oscar de Castro. O Florisvaldo entrou depois. E, do outro lado, havia o PSD do Álvaro Sales.

No tempo do Estado Novo, o prefeito de Aimorés era o Américo Martins da Costa, nomeado como interventor na época do Benedito Valadares. Eu escolhi a UDN porque era muito amigo do Elias.

A primeira eleição foi logo em seguida e eu já fui candidato, tendo sido eleito vereador. Em Aimorés nós ganhamos as eleições muitas vezes. Só perdemos a Prefeitura uma vez, para o Zequinha Henrique. Já o Governo de Minas perdemos várias vezes, o que nos colocava quase sempre na oposição. Chegamos a ganhar o Governo de Minas duas vezes, uma com Milton Campos e outra com Magalhães Pinto. Perdemos para o Juscelino, o Bias Fortes e o Israel Pinheiro. Os prefeitos eleitos pela UDN foram o Polastri, o Florisvaldo, o Deguinho, o Bimbim. O Bimbim foi no tempo do Magalhães Pinto. O Magalhães ficou danado comigo e me perguntou: "Mas você não tem outro camarada para escolher como candidato?" E eu respondi: "Mas doutor, nós estamos lançando o Bimbim só de raiva, só para irritar os adversários. E além do mais ele só tem a fama de ruim, mas é um bom candidato". E o Magalhães aceitou a decisão, tanto que foi a Aimorés em campanha e até almoçou lá em casa. Ele, o José Aparecido e o candidato a senador Darcy Bessone.

Eu fui candidato a vereador várias vezes e nunca perdi. E na última eleição de que participei cheguei a vice-prefeito na chapa com o Vidigal. Eu fiz dobradinha com o Vidigal porque ele insistiu comigo. Ele e o Israelzinho que chegou a dizer: "Jair, ajude o Vidigal. Seja o candidato a vice". Ai já era pela Arena, pois a UDN já havia desaparecido com a Revolução de 64. Depois que eu completei o mandato como vice-prefeito não fui mais candidato a nada.

Lá em Aimorés, praticamente, só havia dois partidos. E era uma briga feroz. Numa eleição, por exemplo, eu e o Alcino fomos ser fiscais em Mata Três. Mata Três ficava depois de São Sebastião da Vala, à direita de São Sebastião da Vala. Hoje se chama Expedicionário Alicio. O nome do lugar — Mata Três — já diz tudo. Lá se matava mesmo. Mas então eu fui com o Alcino fiscalizar as eleições lá. Foi na época da eleição do Zequinha Henrique. Nós éramos do partido contrário ao Partido do Zequinha Henrique.

Nós éramos da UDN; ele era do PSD.

Saí com o Alcino e chegamos lá em Mata Três, mais ou menos, às 9 horas da noite da véspera do dia da eleição. Nós íamos para a casa do José Heleno. E quando paramos o caminhão na praça, fomos cercados por uns seis ou oito homens armados. No caminhão estávamos só eu, o Alcino e o motorista. E eu, então, disse aos homens que nos cercavam: "Que manifestação bonita é essa que vocês prepararam para mim?" Entre eles, todos de revólver, estava até um safado que era nosso partidário. E eu me dirigi a ele: "Você está também metido nessa bagunça, rapaz?" Ele era nosso companheiro, ou melhor, tinha sido nosso companheiro até então. Mas vimos que ele tinha se mudado para o lado do Zequinha Henrique. Aliás, eles não sabiam que era eu quem iria fiscalizar as eleições lá. Eles só sabiam que iria um fiscal da UDN.

Os homens, todos com revólveres, não falaram nada. Ficaram ali, disfarçando, escabriados. E eu então sugeri que fossemos à casa do José Heleno. José Heleno era o nosso representante lá. Chegamos na casa do José Heleno e chamamos: "José Heleno, abra a porta", E nada. A porta não se abria. Afinal de contas, naquela altura, a parede da casa do José Heleno já estava crivada de balas. O José Heleno estava dentro de casa, mas não abria a porta de jeito algum.

Aí, como não havia jeito, eu disse ao motorista: "Sabe de uma coisa, vamos embora". Pois não havia mais nada a fazer ali, já que não podíamos sequer contar com a polícia que era do lado deles.

Começamos, então, nossa viagem de volta. Quando chegamos em Penha do Capim, tinham sido colocadas pedras na estrada, um verdadeiro muro de pedras. Era para o caminhão não poder passar. E, ao lado, vários homens de capa e espingarda. As papo-amarelo podiam ser percebidas debaixo das capas. Papa-amarelo era a 44, uma espingarda de 12 balas. E eu recomendei ao motorista: "Meta o pé aí no acelerador, dê um jeito de passar em cima das pedras que nós não podemos parar aqui de jeito nenhum". Aí passamos por cima das pedras sem sequer diminuir a velocidade.

Nessa época o Bimbim estava do nosso lado. E quando passamos em São Sebastião da Vala, eu mandei um recado para ele: "Diga ao Bimbim que eu fui fiscalizar as urnas de Expedicionário Alicio e eles não deixaram. Diga que ele deve tomar conta daquele negócio lá porque nós não conseguimos ficar". E quando cheguei em Aimorés, procurei o delegado para que fosse tomada alguma providência e ele desconversou: "Política é assim mesmo."

Só sei dizer que não houve eleição em Mata Três naquele ano. O Bimbim recebeu o recado. E as urnas foram abafadas, arrebentadas e não houve votação.

Também em São Sebastião da Vala houve problemas. A roubalheira foi grande e eu sabia que nós íamos perder as eleições ali. E eu então impugnei as urnas na hora da apuração. E ficou aquele impasse: apura, não apura. E eu alertei: "Não apure não que as urnas estão barrigudas. Nós vamos perder as eleições nessas urnas". Eram três urnas. O fórum estava, nesse momento, todo cercado por jagunços. Até que chegou um instante que o Elias disse: "Vamos deixar apurar". E nós perdemos a eleição ali.

* * *

Houve outra ocasião, quando nós concorremos contra o Israel Pinheiro, em que tivemos uma apuração tumultuada. Quando nós começamos a apuração já corria a notícia que o Israel Pinheiro estava na frente nas outras cidades de Minas. E o Álvaro Sales, antes de começar a apuração, pediu a palavra ao juiz e começou a falar. E disse que "a democracia estava agora imperando em Aimorés onde antes só existia a bagunça dos capangas". E eu era o delegado da UDN. Quando ele acabou de falar, eu pedi a palavra e disse me dirigindo ao juiz: "Excelência, nós estamos aqui para apurar um pleito e não para ouvir esses demagogos baratos como o senhor Álvaro Sales". O Álvaro, então, ficou uma fera. E colocou a mão num revólver que ele levava sempre na bolsa. E eu continuei: "Agora, sobre o que ele falou aqui, tenho a dizer o seguinte: quem implantou o cangaço, que é a miséria de Aimorés, foi ele mesmo. Foi ele quem trouxe esses bandidos para cá". Aí ele colocou a mão na bolsa e eu olhei para ele e disse: "Você está com a mão no revólver e eu estou desarmado. Mas eu posso ir em casa buscar o meu revólver também". E saí. O promotor, que era o doutor Moacir, saiu atrás de mim e me disse: "Jair, não faça isso". Mas eu insisti: "Ele está armado e o mesmo direito que ele tem de andar armado eu tenho também".

Fui em casa e peguei o revólver, apesar do doutor Moacir ter pedido à Ana para que não deixasse eu sair de casa. Quando ele fez o pedido, Ana respondeu: "O que eu posso fazer se ele não atende mesmo?" E eu avisei ao promotor "Se não me deixarem entrar, eu mato gente na porta do fórum". Aí cheguei no fórum, entrei e o Álvaro Sales ainda estava lá. E eu me dirigi a ele: "Você bota sempre a mão nesse revólver mas não tem coragem de atirar. Eu agora estou armado. Bote a mão aí de novo que você vai ver uma coisa". E o juiz, procurando interferir: "Jair, pelo amor de Deus, não faça isso". E eu: "Não, doutor. Deixe ele atirar. Ele não é valente?"

O fórum, nessa hora, estava cheio de gente engatilhada. Companheiros meus e companheiros dele. Aí o doutor Moacir chegou e disse: "Jair, vamos resolver esse negócio de outra forma". "Não há outra forma, doutor. Ele não é valente?", disse eu.

Aí chegou a mulher do Álvaro Sales gritando: "Querem matar meu marido, querem matar meu marido". Então o tempo fechou, as pessoas foram saindo correndo, o fórum foi sendo esvaziado. E com o fórum vazio, a apuração foi retardada. Ficou tudo para o outro dia.

No dia seguinte, eu estava lá na avenida, o Álvaro Sales passou e se dirigiu a mim: "Ei, "seu" Jair, como vai?" Ele era muito cara-de-pau, muito sem vergonha mesmo.

* * *

O Bimbim era do PSD. Lá no Alto Capim, terra dele, só ganhava o PSD. Até que ele brigou com o PSD porque o Álvaro Sales começou a querer mandar muito. Até então o Bimbim nunca tinha querido ser candidato a nada. O Álvaro Sales era muito exigente e o Bimbim se encheu com as exigências dele.

Quando da eleição do Zequinha Henrique como prefeito, o Bimbim já tinha brigado com o PSD e passado para a UDN. E quando o Zequinha Henrique foi morto em Baixo Guandu, o PSD botou a culpa no Bimbim.

 Com a morte de Zequinha Henrique, baixou em Aimorés a polícia do Juscelino para prender o Bimbim. Era a polícia do Governo do Estado, policiais de todo jeito, até delegado especial. O delegado especial, então, foi lá em casa falar comigo:

— O senhor é o "seu" Jair? — perguntou.

— Sou sim — respondi.

— O senhor pode ir ao Alto Capim falar com "seu" Bimbim para ele vir aqui em Aimorés depor?

— Eu não vou, não senhor. Não sou empregado de vocês para ir.

— Mas então o senhor tem que depor.

— Eu posso depor na hora que o senhor quiser. Mas eu não vou chamar ninguém, não, pois não sou empregado do Estado. O senhor que vá lá.

— Ah, mas lá é perigoso.

— E, realmente lá é muito perigoso — confirmei.

E o impasse continuou. Vai, não vai, vai, não vai.

Dias depois o delegado voltou a mim:

— "Seu" Jair, me ajude a resolver essa situação.

— Que situação? — perguntei.

— O velho — disse ele referindo-se ao Bimbim — não vem aqui depor, não.

— Então, você que tem força, deveria ir lá buscá-lo — disse eu.

Mas lá em Alto Capim o delegado não ia mesmo.

Mas como ele insistiu muito e eu vi que a coisa estava ficando feia para o Bimbim, resolvi ir lá em cima. E ao chegar em Alto Capim, percebi que havia muita gente na tocaia, vigiando. E eu ia dando com a mão assim, acenando, para poder passar.

Chegando lá em cima, encontrei o Totó, o Scárdua e disse a eles: "A situação não está boa. Não adianta resistir. Se ele tiver a oportunidade de sair, é melhor que saia. Para Afonso Cláudio, para outro lugar. Vocês vejam quem pode levá-lo. Façam isso logo que puderem".

Aí eles resolveram. O Scárdua e o Totó levaram o Bimbim para Afonso Cláudio e daí para outro lugar. Ele ficou perto de Guarapari um bocado de tempo e depois foi para o norte.

Eu voltei para Aimorés e disse ao delegado especial: "O Bimbim viajou". "Mas como ele viajou?", o delegado perguntou, surpreso. "Eu sei lá. Dizem que ele passou aqui por Aimorés e vocês não viram", disse eu.

"Mas não é possível", ele se espantou. "Pois é — reafirmei — ele passou por aqui e ninguém viu".

Aí a polícia invadiu a fazenda dele. Quebraram tudo, roubaram o que puderam roubar. E o Bimbim foi para Alagoas.

Os inquéritos foram abertos e só eu fui testemunha em cinco desses inquéritos para defender o Bimbim. Todos eles giravam em torno da morte do Zequinha Henrique. Quem acusava o Bimbim era o Álvaro Sales. Mas não foi o Bimbim quem mandou matar o Zequinha Henrique. E, ao que tudo indica, o crime foi por vingança. O Bimbim não tinha nada com isso.

Depois que os processos se concluíram inocentando o Bimbim, nós o elegemos prefeito. Ele voltou para a fazenda uns dois anos depois e nós o lançamos candidato para lavar a honra dele. E ele ganhou. Foi na mesma época da eleição do Magalhães Pinto.

Eu era quem o ajudava na administração. Ele ia lá todos os dias, sentava na cadeira de prefeito, e eu o ajudava a resolver os casos que surgiam porque era secretário dele. Ele era inteligente, não era nenhum bobo como muita gente achava.

Quando acabou o mandato, ele voltou para a fazenda, nunca mais se envolveu com política e acabou morrendo do coração.

O Bimbim não era bravo não. Só tinha fama. Ele não gostava era de ladrão. Lá onde ele morava, ladrão não tinha vez. Ele tinha uma força moral muito grande com aquele povo que convivia com ele.

* * *

A política em Aimorés sempre foi muito brava. Um farmacêutico, amigo nosso, por exemplo, morreu baleado na frente da sua farmácia, só porque botou na fachada uma faixa do nosso partido. Foi na Igrejinha. Era o Nélson Verneck. Os pistoleiros chegaram lá, arrancaram a faixa e o mataram.

Eu estava na casa de saúde quando o Nélson chegou baleado. Ele morreu lá. Aí chegou o Washington e eu apontei uma pessoa que passava na rua e disse: "Olha ali quem matou o Nélson". Era dito e feito. Havia sido aquela pessoa quem tinha atirado. Era muita impunidade.

* * *

Também o Alcebíades foi assassinado. Na porta do fórum. Ele era oficial de Justiça. Aliás, eu e ele seríamos mortos juntos. Mas na sexta-feira à tarde, me deu uma vontade grande de vir a Vitória. E o negócio era matar os dois — eu e o Alcebíades — na porta do fórum, pois sempre que eu saía de casa passava por lá para conversar com ele. E no sábado de manhã, eles iam nos pegar lá. E pegaram só o Alcebíades. Eu vim saber do acontecido na Praça Oito, em Vitória. Ele era do nosso partido, a UDN. Nesse dia — o sábado — chegou alguém lá em casa perguntando por mim. A Ana atendeu e disse que eu tinha viajado. E o homem disse, aliviado: "Viajou? Graças a Deus". A Ana ficou implicada com aquela expressão. Depois nós ficamos sabendo que o homem era uma tal de Corrêa, de Itueta, muito meu amigo, que soube que iam me matar. E foi lá em casa me avisar.

* * *

O Álvaro Sales era quem chefiava isso tudo. Mas ele era covarde demais. Só ficava valente quando usava a polícia. Aliás, quando houve o episódio da morte do Zequinha Henrique, o Isidoro esteve lá em casa para tentar me convencer a vir embora para Vitória. Um pessoal havia cercado a nossa casa e ameaçado invadir e me matar. E ficou aquele negócio de invade, não invade, invade, não invade. O Zequinha morava em frente lá de casa. E o Isidoro, coitado, saiu daqui de Vitória e foi lá em Aimorés para me chamar para vir embora. Mas eu não quis. "Pra quê? Eu não tenho nada com isso. Não fui eu quem mandou matar. Pra que fugir?"

E o pessoal ameaçando. Eu fiquei em casa, armado, esperando. Quem mais atiçava era uma escrivã que havia lá. E eu, pela manhã, saía para trabalhar e o pessoal ficava olhando, ameaçador.

* * *

A política de Aimorés só se pacificou depois que eu e o Vidigal tomamos posse. Aí também veio a Revolução de 1964, o Álvaro Sales perdeu e se afastou. A Arena, então, reuniu quase todo mundo. O Álvaro Sales morreu estupidamente. Do coração. Estava no consultório médico e pediu para ir ao banheiro. Ele tinha tomado aquele remédio para tirar radiografia. E lá no banheiro ele morreu.

 

Apresentação do Livro “Os Caminhos por onde andei” – Por José Carlos Correa

Foi durante as conversas que sempre tenho com meu pai que nasceu a idéia desta entrevista. Sempre gostei de fazê-lo recordar as passagens da sua infância e da sua juventude. É que percebi que essas recordações são por ele guardadas com muito carinho. Com admirável riqueza de detalhes ele descrevia os fatos, as datas, os cenários, os diálogos. E quando repetia alguma história meses depois, o fazia com notável precisão, com depoimentos rigorosamente iguais. Esse detalhe mostrava, com clareza, que suas recordações eram verdadeiras, rigorosas, fiéis, sem exageros ou omissões tão comuns nas conversas coloquiais.

Inicialmente planejei apenas gravar suas histórias. Queria guardar uma fita com aqueles casos mais conhecidos da vida de meu pai, que eu já tinha ouvido algumas vezes mas tinha sempre receio de esquecer algum dia. Ali estaria a sua voz, o seu jeito característico de falar, as suas memórias mais importantes, suas lutas, seus ideais. Seria, para mim, uma lembrança preciosa a guardar junto com os meus álbuns de fotografias.

Tudo combinado, passamos uma tarde inteira de um domingo de junho de 1988 a conversar diante do gravador ligado. E a medida em que ele falava, mais me convencia que estava diante de um documento importante. Porque enquanto a fita rodava, papai narrava com desenvoltura toda a sua vida, fluentemente, sem pausas, sem vacilações, sem o menor cansaço. E o que seria uma conversa despretensiosa, passou a ser uma entrevista comovente. Papai abriu seu coração, mostrou-se de corpo inteiro como realmente ele é: um homem de coragem, que viveu intensamente a sua época, que construiu uma vida de trabalho que é um exemplo e um orgulho para todos os que puderam compartilhar dos seus dias.

Quando ele colocou um ponto final na gravação, a noite já descia sobre Vila Velha. E ao acender a luz do seu quarto, onde conversamos, eu já sabia que tinha feito a entrevista mais importante da minha vida.

Foi então que decidi passar tudo o que havia sido gravado para o papel. Quem sabe, reescrever as histórias, rearrumá-las dentro de uma seqüência de mais fácil leitura e passar um exemplar para cada filho. E por que não também para os netos? Para as pessoas mais chegadas?

E comecei a transcrever o material. E quanto mais transcrevia mais percebia que a seqüência estava correta. Papai se mostrava um perfeito e competente contador de histórias. Até algumas idas e vindas, a citação de um fato mais recente antes de um mais antigo, um comentário perdido adiante referindo-se a caso já contado, até todas essas coisas tomavam a leitura mais agradável. E resolvi transcrever a sua fala até o fim.

O resultado é o que aqui está. Não foi preciso reescrever coisa alguma. Não foi preciso rearrumar nada. Bastou ouvir e passar para o papel.

A comemoração dos 80 anos de papai me dá a ocasião perfeita para fazer essa homenagem. Uma homenagem que, certamente é dirigida mais a nós, filhos e netos, do que a ele. Porque, em verdade, é ele quem nos dá esse presente no dia do seu aniversário. O presente de deixar, para cada um de nós, um pouco de sua vida, das suas lembranças, da sua emoção. O presente de podermos sentí-lo bem pertinho. Para sempre.

José Carlos Corrêa 

 

Fonte: Os caminhos por onde andei, Capítulo VII A política brava - 1989
Autor: Jair Corrêa
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2018

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