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Agapito - Por Elmo Elton

Praça 8, Centro de Vitória - 1938

Chamava-se Agapito Barcellos (de Almeida). Era natural de Guarapari (ES) e residia na vizinha cidade de Vila Velha, em companhia de duas irmãs, as quais cuidavam de trazê-lo sempre limpo. Ocupava uma sinecura no Estado. De 1930 a 1936, via-o sempre, de bonde, ora indo do Paul para Vila Velha, ora dai para o Paul, onde tomava a lancha que o deixava em Vitoria. E que, então, com minha família, residia eu nas proximidades da Vila Garrido, em casa situada bem defronte da, hoje extinta, linha de bonde. Eu e meus irmãos nos divertíamos com ele, tal sua espalhafatosa preocupação em acenar para nos, toda vez que nos via na varanda ou jardim de nossa casa.

Uma noite bateu-nos a porta, a ver se meu pai podia emprestar-lhe algum arame. Quando Agapito, muito agradecido e sorridente, tomou a condução que o levaria a Vila Velha, perguntei a meu pai que negocio era aquele de arame. Papai explicou-me, sério, que, em gíria, arame significava dinheiro.

Mas, sobre esse personagem pitoresco, leia-se o que dele disse escritor conterrâneo, em recente livro de memórias:

“Diariamente era visto na Praça 8, encostado na parede do antigo Café Globo - hoje uma agencia bancária - com as mãos as costas, bem arrumadinho, de paletó e gravata, observando, minuciosamente, todo o movimento da praça, passagem obrigatória dos transeuntes, não deixando escapar nada. Com as pessoas de sua intimidade, quando provocado, conversava respeitosamente.

Conhecia todo mundo pelo nome e profissão, respondendo, educadamente, qualquer indagação que lhe fosse feita.

- Agapito, você viu o Adelpho?

- O Adelpho Poli Monjardim acaba de entrar na Farmácia Aguirre com o senhor Carlos Nicoletti Madeira e o Dr. Gildo.

ou

- Agapito, você viu o Camargo?

- O Dr. Manoel Moreira Camargo saiu há pouco dos Correios com o Dr. Erildo Martins.

- Agapito, estou procurando o Plínio.

- O Plinio de Freitas Bruzzi a estas horas está na Prefeitura.

- Agapito, passou por aqui o Júlio do Majestic? O senhor Júlio Teixeira da Cruz ainda não, mas vai passar.

ou

- Você viu o Dr. Délio?

- O Dr. Délio Etienne Dessaune entrou no Petrochi com o Dr. Afonso Bianco.

ou ainda,

- Agapito, você viu o Políbio?

- O Dr. Políbio de Andrade foi para o Sagres com o Guilherme Pretti e o Eudóxio Barros.

Não errava uma.

No carnaval, Mário Grijó, Viriato Carvalho e eu, dos porões da residência dos Grijó, à rua 7 de Setembro, saímos fantasiados de "dominó" e viemos em direção da Praça 8, ponto de concentração dos foliões. Havíamos perdido de vista um grupo de moças fantasiadas de "sujo" que nos tinha passado um trote.

No seu tradicional ponto estava Agapito.

Mario, aproximando-se, modificando ao máximo a voz para não ser reconhecido, pergunta se ele tinha visto um grupo de "sujo " assim.

Não terminou a pergunta teve logo a resposta:

Elas moram na cidade alta e acabaram de tomar o bonde circular e vocês estão muito sem graça. . . seu Mário, seu Dário e seu Viriato.

Acabou com o nosso entusiasmo.(2)

Agapito faleceu na década de 40.”

 

Notas

(2) DERENZI, Dário. - Coquetel de saudades. Rio de Janeiro, Companhia Brasileira de artes Gráficas, 1980

 

Fonte: Velhos Templos e Tipos Populares de Vitória - 2014
Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter Aguiar Filho, fevereiro/2019

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