Ainda o Rio Doce e as minas do Castelo
Em abril de 1809, por fim, Tovar conseguiu ir à corte, “onde expôs a necessidade de ser removido o ouvidor”, no que foi mais tarde atendido.(27)
Lá deve ter recebido ordens para visitar o rio Doce e promover seu desenvolvimento, pois, ainda em 1809, o percorreu, apresentando sucinta Memória em que apontava as obras julgadas indispensáveis à navegação comercial.(28)
D. Rodrigo de Sousa Coutinho continuava sendo o grande animador da obra que pretendia transformar o Nilo Brasiliense em instrumento vivo do progresso.
À povoação reconstruída sobre as ruínas da aldeia de Coutins, Tovar deu o nome de Linhares, em homenagem ao ministro de D. João.
Simultaneamente, promovia a ida de colonos para povoar a região. Dos poucos que atenderam ao convite do governador a História guardou o nome de João Felipe Calmon(29) – fazendeiro em Benevente – que, auxiliado por alguns escravos, fundou ali o “primeiro estabelecimento regular de agricultura”.(30)
À conta dos serviços prestados por Tovar à capitania cabe mencionar, também, o ressurgimento, que tentou, das minas do Castelo, “abandonadas mais pela sua pobreza do que pelo receio dos botocudos”,(31) diziam os capixabas descrentes das possibilidades do antigo pactolo de Pedro Cacunda.(32)
NOTAS
(27) - RUBIM, Memórias, 266-7.
(28) - O interesse da Coroa pelo rio Doce não esmorecera. Em 1807, no ofício dirigido ao visconde de Anadia, o governador conde da Ponte informava não lhe ter sido possível “cumprir com a brevidade que desejava ao que se [lhe] ordenou [...] sobre a futura utilidade da navegação do Rio Doce, para exportação dos gêneros das duas Capitanias de Minas Gerais e Espírito Santo, principalmente dos metais menos preciosos, como ferro e cobre” (ALMEIDA, Inventário, V, 467).
(29) - João Felipe de Almeida Calmon – Filho do morgado Antônio Pereira do Lago e D. Ana Joaquina Calmon (CALMON, Hist. Brasil, IV, 49).
– SAINT-HILAIRE escreveu a seu respeito: “Auxiliava, com a máxima boa vontade, os colonos que vinham estabelecer-se aí [em Linhares], tornando-lhes os transportes mais fáceis, recebendo-os em casa, procurando-lhes víveres. Ajudava, igualmente, aos mineiros no seu comércio, fornecendo-lhes canoas com remadores. Assim, todo o tempo em que Tovar foi governador da Província, João Felipe continuou tranqüilamente sua útil atividade. Rubim, no começo de sua administração, se entendia também muito bem com este prestativo colono, tendo o cuidado de consultá-lo em tudo que dizia respeito ao Rio Doce e a Linhares. Sem demora, entretanto, uma dessas intrigas obscuras, comuns entre os brasileiros, afastou dois homens cujo entendimento constante trazia tanto benefício. João Felipe veio a ser objeto de perseguição do governador, foi ao Rio de Janeiro pedir justiça e creio que morreu sem nada conseguir” (Segunda Viagem, 196).
– Também o príncipe de WIED NEUWIED teve palavras de simpatia para João Felipe Calmon, enaltecendo sua atividade de pioneiro e informando que foi o primeiro a instalar uma fazenda e um engenho de açúcar em Linhares (Viagem, 156-7).
– Outros dados para a sua biografia em Gov. ES, I, p. 206-7.
(30) - RUBIM, Memórias, 268.
– “Os quartéis e destacamentos foram estabelecidos: a navegação foi principiada, e os habitantes de Minas Gerais comunicaram-se pela primeira vez com os capitanienses por meio das correntes daquele Rio. Infelizmente o Rio Doce perdeu este zeloso aio, vindo suceder-lhe o atual governador Manoel Vieira de Albuquerque e Tovar, que devendo em tudo seguir os passos do seu antecessor, não aparece uma só cousa de mais lá nas belas planícies daquele terreno, porque os Quartéis da Regência Augusta, de Coutins, hoje Linhares, e do Porto de Sousa, fundados pelo imortal governador Pontes, são os mesmos que existem hoje. E se excetuarmos a João Felipe de Almeida Calmon, afazendado antes na vila de Benevente, onde ainda conserva o seu estabelecimento, e hoje transplantado em Linhares com alguns escravos desde novembro de 1809, não se vê ali outro lavrador capaz de adiantar a agricultura; sucedendo o mesmo no destacamento da Regência Augusta, onde se acha Joaquim de Queiroz há três meses que para ali foi estabelecer-se deixando o seu antigo domicílio no termo da Vila da Vitória. Alguns desertores, que viviam espalhados pela Capitania do Espírito Santo, e que sendo chamados pelo Governador atual para que ou se recolhessem às suas respectivas praças, ou fossem residir no Rio Doce, aceitaram este último partido; mas de nada podem servir estes homens sem os precisos, e competentes meios para o bem da agricultura, e a maior parte deles; bem como muitos pedestres desampararam aquele lugar delicioso, não por moléstias epidêmicas, mas pelo temor desmarcado que ali infunde o governador, desertando novamente cada um com sua arma das que desta corte foram para se fazer a guerra ao gentio” (CUNHA, Navegação, 4-5).
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, junho/2018
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
Ver ArtigoA obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro
Ver ArtigoPara prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda
Ver ArtigoNo final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações
Ver ArtigoO nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto...
Ver Artigo