Análise da política adotada de eletrificação rural
A eletrificação rural é um dos fatores mais importantes para a permanência do homem no campo porque proporciona maior conforto e porque possibilita a utilização de equipamentos movidos a energia elétrica. A opinião é do presidente da Federação da Agricultura do Espírito Santo, Pedro Burnier.
Para ele, a eletrificação rural tem dois aspectos que precisam ser analisados. O social e o de produção. Para o desenvolvimento do social, é importante a rede de energia do sistema monofásico, que pode possibilitar maior conforto para o pequeno agricultor e ainda ser utilizada para desenvolver pequenos trabalhos com motores de menor potência.
Quanto ao aspecto de produção, segundo Burnier, é preciso levar em conta a possibilidade de aumento da produção agrícola com a instalação, por exemplo, de equipamentos de irrigação, que vão transformar em três a capacidade de produção do agricultor, principalmente no norte do Estado.
Castelo
Mesmo afirmando que o sistema trifásico tem condições de atender mais intensamente à maioria dos agricultores, Burnier ressalta a importância de trabalhos de eletrificação que estão sendo desenvolvidos pela prefeitura de Castelo, com a instalação de uma rede com custo mais barato e alcance maior para um número também maior de produtores rurais.
Neste sentido, ele acredita que o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo governo do Estado, através da Secretaria de Interior e Transportes e Escelsa, deve ter continuidade, levando, pelo menos,energia no sistema monofásico para todas as regiões do Estado, "porque através do monofásico é possível também atender uma parcela dos produtores rurais em suas necessidades básicas". Burnier chama a atenção, no entanto, para o fato de que a utilização da energia elétrica na agricultura vem sendo cada vez maior, principalmente para a irrigação no norte do Estado, onde já está se sentindo o aumento da demanda, em função da instalação de equipamentos maiores e mais potentes.
Neste sentido, afirma ele, tanto o Estado como a Escelsa precisam estar alerta para que a agricultura não fique prejudicada com a falta de redes de eletrificação rural. "Nós sabemos que a terra irrigada pode produzir três vezes mais do que se não fosse utilizada esta técnica e isto é muito importante para o Estado e, principalmente, para o norte, onde já é possível fazer até três plantios de feijão por ano com a irrigação".
O presidente da Faes faz, no entanto, um alerta no sentido de que é preciso analisar muito seriamente a questão da eletrificação rural com o sistema monofásico, que nem sempre atende às necessidades dos produtores rurais. Ele acredita ser importante, também, o apoio dos órgãos do Estado através da abertura de linhas de crédito específica para a eletrificação, que possibilitem ao grande, e, principalmente, ao pequeno produtor se beneficiarem da instalação de energia em suas propriedades.
Irrigação justifica esforço, diz Santos
Para o secretário da Agricultura, Ricardo Santos, só o fato de propiciar a irrigação em mais de sete mil hectares no Estado, o programa de eletrificação rural justifica os esforços do governo, "além do que nos últimos 12 meses registramos um incremento de 54% nas ligações em diversas propriedades, com o adicional de que hoje o programa contempla realmente os pequenos e médios produtores".
Salienta também que um dos fatores impulsores da eletrificação nos últimos anos reside na "municipalização do programa através de convênios, onde a Secretaria do Interior e Transportes coordena mas delega aos prefeitos a tarefa de responsabilidade pela execução das obras. Com isto, há maior mobilidade, tanto que em três anos de governo Gerson Camata a eletrificação dobrou mais que o verificado até então".
Como forma de direcionar aos pequenos produtores e também beneficiar o maior número possível de propriedades de acordo com a densidade populacional, ele lembra que o cadastro dos beneficiados é feito após minucioso levantamento a cargo da Emater.
"Além disso, o governo tem engordado consideravelmente a destinação de verbas através das linhas de financiamento propiciadas pelo sistema Geres-Bandes e dotações do Banestes. E não há outro caminho melhor do que criarmos cada vez mais condições para que a energia chegue ao campo, o que tende a se refletir em aumentos constantes de produtividade, como já observamos em relação ao feijão, por exemplo", acentuou Ricardo Santos.
Custos
Destaca ainda a redução de custos que vem sendo alcançada, citando como exemplo a eletrificação que vem sendo executada pela prefeitura de Castelo. Ali, como em diversos outros municípios, as primeiras linhas eram trifásicas, passando depois para bifásicas. "Hoje, através do sistema MRT - Monofilar Retorno por Terra - os custos caem em pelo menos 25% em relação às demais formas, como atestam as obras desenvolvidas por Paulo Galvão."
Afora a melhoria de produtividade, ele acentua que a energia no interior tem trazido maior conforto às populações e, com isto, "observamos que o índice de evasão do homem do campo tem caído consideravelmente. Tão ou mais importante que eletrificar o campo talvez seja o programa da reforma agrária. Os dois, contudo, têm que ser desenvolvidos paralelamente, como faz parte dos nossos objetivos".
E ao analisar as diferenças de diretrizes entre o programa de eletrificação desenvolvido no Estado na década de 70 em relação ao atual, o titular da pasta da Agricultura salienta que durante muito tempo a prioridade foi atender proprietários influentes. "Hoje, a democratização das linhas se faz fundamentada no princípio de que o mais importante é beneficiar quem produz e não tem recursos próprios para as ligações. Não tenho dúvidas que as futuras estatísticas vão demonstrar com precisão e de modo positivo os reflexos desta conduta", diz ele.
Fonte: A Gazeta, 10/04/1986
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2015
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