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Carnaforró pé-de-serra - Por Francisco Aurélio Ribeiro

Foto ilustrativa de Domingos Martins - Carnaval antigo de 1966 - Fonte PMDM

Terça-feira de carnaval, resolvemos deixar o bucolismo (e os borrachudos) do sítio "Cantinho do Céu" para curtir o carnaval na sede de Domingos Martins. E, com grande prazer, vimos que o carnaval de antigamente, com famílias inteiras fantasiadas nas ruas, atrás da bandinha, cantando as velhas e boas marchinhas do passado ainda existe. Capetinhas e fadinhas, havaianas e palhacinhos, o bloco dos bebezões, tudo transpirava inocência e alegria, o verdadeiro espírito do carnaval, que se perdeu com a violência, as drogas, o sexo desregrado que a tudo contaminaram. Às dez da noite, acaba o carnaval, as crianças são levadas pra casa pra dormir, e a avenida fantasiada se torna o palco de um grande forró coletivo. Não mais o "você pra lá eu pra cá até quarta-feira", mas centenas de casais, muita mulher com mulher (homem com homem, não!) arrastam os pés num dois pra lá, dois pra cá animado, alegre, divertido, pra tudo se acabar à meia-noite. Como na festa da Cinderela, o encanto se quebra com as badaladas do sino. Fantasiados ou não, já sóbrios com tanta agitação, o baile, a festa e o carnaval terminam pra todos, sem brigas, sem drogas, sem sexo explícito, sem arrastão. Palmas pro povo martinense que sabe brincar um carnaval com alegria, como deveria sem em todos os lugares e sempre!

Estou organizando o livro A Vitória do meu tempo, de Areobaldo Lenis Horta(1883-1953), médico capixaba que nos deixou suas memórias sobre costumes e pessoas da Vitória de sua infância, num saboroso relato. Em um dos capítulos, ele nos fala sobre "O Carnaval, o Entrudo" do final do século XIX. Assim nos conta: O major Victor Carlos de Oliveira tinha uma casa comercial no centro da cidade "com o melhor stock (assim mesmo) de coisas para o carnaval." Aos nove anos, encantou-lhe, na loja, uma fantasia de macaco, "toda encarnada, de cauda longa e cheia, instrumento com que, os que nela se metiam, se ocupavam em distribuir rabanadas pelas crianças que, nos dias de carnaval, saíam à rua desacompanhadas." Naquela época, chamava-se fantasia de "trágica". Encantado pela "trágica" de macaco, ele pediu aos pais a fantasia, mas "a polícia só consentia em tais fantasias, depois que o menino tivesse doze anos". Naquele ano, 1892, teve de sair de "dominó feito em casa, de um chitão estampado, de fundo branco, com capuz igual." Todos saíam pelas ruas fantasiados, mascarados, para não serem reconhecidos. E assim, descreve, "metidos, eu e meu irmão, nos dominós, tendo ao rosto máscaras de papelão, cobertas internamente de cera, para refrescar, brincamos pela primeira vez no carnaval, percorrendo as ruas e levando as nossas sacolas de estalos e limões de cheiro, para o jogo do entrudo. Estes foram feitos por minha avó paterna, que possuía quatro formas para tal fim. Só no ano seguinte usei a "trágica" de macaco, comprada na casa do major Victor por cinco mil réis, incluída uma máscara de arame." Lembro aos leitores que a fantasia de dominó consistia numa túnica longa e leve, de amplas mangas e capuz, geralmente preta, e que os limões de cheiro eram feitos para se jogar nas pessoas um líquido perfumado, mais tarde transformados em lança-perfumes, no que se chamava, naqueles entonces, "entrudo", precursor do atual carnaval.

Muito ainda pode ser lido no livro do dr. Areobaldo, que era filho do prof. Lellis e pai do dr. Lenis, juiz de direito, meu compadre, e que foi um dos maiores foliões naquela época em que se podia "brincar" o carnaval. Na verdade, esse deveria ser como antigamente ou, em Domingos Martins, hoje, o único verbo a ser conjugado na festa de Momo, "brincar", uma brincadeira sã e divertida que os povos africanos nos trouxeram e que remonta a antigos cultos a Isis, no ancestral Egito.

 

Fonte: Adeus, amigo e outras crônicas – Editora Formar, 2012 - Serra/ES
Autor: Francisco Aurélio Ribeiro
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2020

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