Da Carta de Anchieta de 1584 – Por Norbertino Bahiense
As CARTAS JESUÍTICAS constituem fontes preciosas da história do Brasil nascente.
Entre elas, vamos buscar uma de Anchieta, do ano de 1584 e dela extraímos um pequeno trecho que muito representa como documentação dos primórdios da história que neste livro desenvolvemos. São registros do grande missionário ao qual tanto deve a Pátria e a quem coube a glória de, em messes imortais, derramar em nossas plagas recém encontradas, todas as belezas dos abençoados princípios cristãos.
Eis o trecho:
"Na capitania do ESPÍRITO SANTO há duas vilas de Portugueses perto uma da outra meia légua por mar. Em uma delas, que está na barra e chamam Vila Velha, por ser a primeira que ali se fez, está num monte mui alto e em um penedo grande uma ermida de abóboda que se chama Nossa Senhora da Penha, que se vê longe do mar e é grande refrigério e devoção dos navegantes e quase todos vêm a ela em romaria, cumprindo as promessas que fazem nas tormentas, sentindo particular ajuda na Virgem Nossa Senhora, e diz-se nela missa muitas vezes. Esta ermida edificou-a um Castelhano com ordens sacras chamado Fr. Pedro, frade dos Capuchos, que cá veio com licença de seu Superior, homem de vida exemplar, o qual veio ao Brasil com zelo da salvação das almas e com ele andava pelas aldeias da Bahia em companhia dos Padres. Desejando de batizar alguns desamparados e como não sabia letras nem a língua, porque este seu zelo não fosse, non sine scientia, batizando alguns adultos sem o aparelho necessário, admoestado por Padres, lhes pediu um escrito algum aparelho na língua da terra para poder batizar alguns que achasse sem remédio e os Padres não pudessem acudir e assim remediava muitos inocentes e alguns adultos. Com este mesmo zelo se foi à capitania do Espírito Santo onde fez o mesmo algum tempo, confessando-se com os Padres e comungando a miúdo, até que começou e acabou esta ermida de Nossa Senhora com a ajuda dos devotos moradores, e ao pé dela fez uma casinha pequenina à honra de S. Francisco, na qual morreu com mostras de muita santidade. Há mais nesta capitania quatro ou cinco engenhos a três léguas e quatro léguas, por mar e por terra, com Índios. Há ao longo da costa, 8 léguas para o sul e outras 8 para o norte, quatro ou cinco aldeias de Índios que os nossos visitam por mar e às vezes por terra, onde há conversão e se batizam e casam -ordinariamente. Além destas tem duas aldeias muito populosas de Índios, algumas três léguas da vila por água com suas igrejas, as quais há muito sustentam e têm nelas residência, e onde se tem ganhado e ganham muitas almas e sempre do sertão vêm índios à fama delas e morar com seus parentes e fazer-se cristãos ."
O trecho acima do Padre Anchieta, é da Carta XXIX das CARTAS JESUÍTICAS. Publicação da Academia de Letras em 1933, páginas 301 a 334 e onde, na nota VI, Antônio de Alcântara Machado conclui "de que foi escrita entre 21 e 31 de dezembro de 1584."
O referido trecho tem parte citada na nota 22 pág. 238 do livro de Frei Basílio Rower neste mencionado e nessa nota Frei Basílio faz referência à Carta de Anchieta de 1572. A parte referida é igual ao que figura na Carta de 1584 a que se refere Alcântara Machado, parecendo assim haver engano na menção do ano de 1572 como data da mesma Carta de Anchieta, (Veja-se capítulo IV desta obra).
Fonte: O Convento da Penha, um templo histórico, tradicional e famoso 1534 a 1951
Autor: Norbertino Bahiense
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2017
Carta de doação da Governadora Luisa Grinalda e seu adjunto o Capitão Miguel de Azeredo, desta Capitania do Espírito Santo, em 1591
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