Desmatamento é o maior problema – Rio Itaúnas
O déficit hídrico aliado ao clima seco, aos solos pobres e à baixa cobertura florestal, proveniente do acelerado processo de desmatamento, geram um efeito devastador para a região da bacia do rio Itaúnas.
No final da década de 90, ela sofreu uma grave seca, que causou sérios prejuízos à população e à economia local, o que justificou o decreto de estado de calamidade pública por parte da maioria dos prefeitos da região e a inclusão da área na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
“A cobertura florestal da bacia é muito baixa, principalmente nas partes alta e média, áreas que funcionam como ‘caixas d’ água’ e, por isso mesmo, precisam de maior vegetação para regular o fluxo de água”, explica o gerente do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), Fábio Ahnert.
De acordo com Fábio, que responde pela área de recursos hídricos do instituto, não ter florestas compromete no aspecto erosivo. O que ameniza, segundo ele, no caso da bacia do rio Itaúnas, é o fato dela possuir um relevo mais plano.
“A topografia plana ajuda a diminuir o potencial erosivo. Isso porque a erosão está associada a muita chuva e morros. Na bacia do rio Itaúnas temos o contrário: poucas chuvas e planícies”, destaca.
Por outro lado, ele frisa que, próximo aos cursos dos rios, há solo bem susceptível à erosão, já que as áreas mais críticas estão nas calhas, o que, na sua avaliação, sugere que as margens possuem pouca vegetação ciliar.
A escassez de chuvas é um outro problema. O índice pluviométrico varia em média de 900mma1100mm por ano. Para se ter uma idéia, na região serrana, os índices estão em 1600mm, cerca de 50% maior do que na bacia do Itaúnas.
Para o especialista em recursos hídricos Edmilson Teixeira, há um aspecto que deve ser observado: “O problema do déficit hídrico, associado à ação do homem por meio do desmatamento, se torna uma agravante para o desenvolvimento.”
Segundo ele, é difícil manter a população na região, já que não há atividades para envolvê-la.
“A tendência é de que ela vá para os grandes centros, que no nosso caso é a Grande Vitória, alimentando bolsões de miséria”, avalia.
Rios nascem e morrem ao longo do ano
A falta de chuva cria um problema extra para as atividades econômicas instaladas ao longo da bacia do rio Itaúnas. É que muitos afluentes são intermitentes, ou seja, nascem e morrem ao longo do ano.
“Por se tratar de uma região de baixa pluviosidade (poucas chuvas e muita evaporação), alguns afluentes secam em período de estiagem, em função da falta de chuva, e voltam a ter água corrente nos períodos das cheias”, explica o subgerente de Recursos Hídricos do Iema, Cláudio de Almeida.
Segundo ele, esse fator é negativo para as atividades econômicas, já que há dependência e instabilidade quanto ao uso da água desses córregos.
Grupo faz diagnósticos
A tarefa de diagnosticar os problemas da bacia do rio Itaúnas e, a partir deles, buscar soluções foi realizada pela primeira vez pelo Grupo de Estudos e Ações em Recursos Hídricos, o Gearh, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), sob a coordenação dos professores Edmilson Teixeira e Antônio Sérgio Mendonça.
O estudo, que foi intitulado “Diagnóstico Preliminar da Bacia Hidrográfica do Rio Itaúnas”, durou cerca de oito meses e foi realizado no ano de 1997.
Ele é o mais completo trabalho feito sobre a bacia do rio Itaúnas, por conter diagnósticos fisiográficos (solo, relevo, hidrografia e biologia) e sócio econômicos.
“Nele, mostramos os problemas e sugerimos soluções. Devido às características naturais próximas àquelas encontradas no Nordeste do País, a região precisa analisar de forma cautelosa a divisão da água, já que a sua falta é um inibidor do desenvolvimento”, argumenta Teixeira.
Do Gearh nasceu, em 2005, o Laboratório de Gestão de Recursos Hídricos em Desenvolvimento Regional (Labgest), que é vinculado ao curso de Engenharia Ambiental da Ufes.
O grupo, que possui cerca de 30 integrantes, realiza estudos para comprovar como a água pode se tornar fator indutor ou limitante do desenvolvimento das regiões.
O que é déficit hídrico?
É quando a relação do que chove, comparado com o que se perde por evaporação, fica negativa, ou seja, chove menos do que evapora.
As maiores dificuldades
A região da bacia do rio Itaúnas se apresenta como uma das mais frágeis do Estado, considerando a questão da disponibilidade hídrica
• Os recursos hídricos são escassos
• Observam-se deficiências no abastecimento d’ água e no seu tratamento
• Não existe tratamento de esgoto em várias comunidades
• Os esgotos domésticos são a principal fonte de poluição dos mananciais
• Verifica-se a ausência de cobertura vegetal às margens dos mananciais e nascentes
• Muitas propriedades utilizam água para a irrigação das culturas
• Desvio de cursos d’ água em alguns afluentes
• Existem potenciais impactos do lançamento de dejetos industriais das usinas de álcool e farinheiras sobre os mananciais da bacia do rio Itaúnas
Fonte: Diagnóstico Preliminar da Bacia do Rio Itaúnas, do Grupo de Estudos e Ações em Recursos Hídricos (Gearh), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)
Fonte: A Tribuna, Suplemento Especial Navegando os Rios Capixabas – Rio Itaúnas - 29/07/2007
Expediente: Joel Soprani
Subeditor: Gleberson Nascimento
Colaboradora de texto e fotografia: Flávia Martins
Diagramação: Carlos Marciel Pinheiro
Edição de fotografia: Sérgio Venturin
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2016
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