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Discurso do Marechal Castelo Branco na UFES

Presidente Castello Branco e alguns Generais

Habituado a considerar a sinceridade como o meio mais fácil de persuadir, desejo falar-vos com inteira franqueza. Em primeiro lugar, ao agradecer-vos a iniciativa com que me distinguistes de modo tão especial, peço licença para dizer que não recebo o vosso título como um ato de mera cortesia, ou o cumprimento formal de uma norma protocolar. Vejo, sim, a convocação que fazeis para que o Presidente da república, tornando-se membro desta ilustre Casa, adquira as franquias que permitem a livre enunciação do pensamento.

Assim, honrado em ter assento em vossas cátedras, falar-vos-ei como vosso colega. E o farei, principalmente para reiterar-vos idéias por mim já externadas sobre as graves responsabilidades que pesam sobre os professores. Não as responsabilidades comuns dos dias tranqüilos, quando a transmissão dos conhecimentos é quase a exclusiva missão dos mestres. Hoje, na verdade, elas são dobradas.

Bem sabeis o modo por que, até há bem pouco tempo, vimos os estudantes enganados e explorados pelas ambições políticas, que pretendiam fazer da juventude o instrumento dócil a serviço de estranhas ideologias e subversivo partidarismo, a agitação como que substitui o ensino. E se, já não subsistem as condições que permitiram e até estimularam aquelas deformações da vida estudantil, nem por isso devemos desconhecer que somente mediante um diálogo franco, constante, persuasivo, lograremos fazer com que seja restabelecido, nas Universidades, o primado do ensino.

Esse o grande e insubstituível papel do professor na hora atual. Isto é, cumpre-me restabelecer um diálogo frequentemente interrompido, mas essencial no bom convívio de professores e discípulos. E precisa fazê-lo sem ressentimentos, com a plena consciência de que os moços, pela própria contingência de serem mentalidades em plena evolução, precisam ser encarados com inteira tolerância. Quanto das suas atitudes não decorrem dos naturais entusiasmos da juventude?

Por isso mesmo seria erro imperdoável querer ater-se ao passado, por mais recente que seja. Até por que não deverá estar nos objetivos dos professores pretenderem afastar a mocidade estudantil da vida política do país. Pela sua própria condição intelectual é perfeitamente natural que, vivendo numa época em que tantas idéias, tendências e concepções políticas estão a inquietar todas as inteligências, não fiquem eles indiferentes ao debate, nem se conformem a uma posição de compulsório alheamento.

Sem dúvida é essa uma realidade que não poderemos ignorar.

Assim, a grande missão do professor consiste justamente, através do íntimo contato com os estudantes, não somente em orientá-los, esclarecendo-os e convencendo-os, mas também em fazer com que as idéias políticas, sejam elas quais forem, não interfiram na normalidade dos cursos. Certamente, o desaparecimento da exata noção sobre os convenientes limites entre as necessidades do ensino e as seduções das atividades políticas, e até partidárias, terá sido a base da inquietação e das perturbações instaladas nos centros de ensino. Daí, a necessidade em que se encontram os professores não apenas de ensinar, mas também de educar, no melhor sentido da palavra. Mas podemos estar seguros de que não será se afastando do estudante que ele alcançará realizar a grande missão que lhe cabe. Longe disso, será buscando o estudante, convivendo com o estudante, debatendo com o estudante, que logrará restabelecer um diálogo indispensável, e até urgente.

Mostra-nos tudo isso não apenas a extraordinária importância da tarefa reservada ao professor, na democratização do país, mas também, que a sua missão é intransferível. Somente ele e ninguém mais, a poderá levar a bom termo. Não a poderá delegar a ninguém, nem deverá admitir ou esperar que outrem a realize. O que vale dizer que, se ele não se empenhar em efetivá-la, somente restará um lugar vago e impossível de ser preenchido. Contudo, estou certo de que nenhum lugar ficará vago nesta hora em que o Brasil convoca todos os seus professores para uma grande obra de compreensão entre quantos participam da vida universitária nacional.

Ao iniciar este breve discurso que é, acima de tudo, a demonstração do meu reconhecimento pela honra que me conferistes, declarei-vos que vos falaria com a franqueza admitida de professor a professor, Acredito haver cumprido o prometido. Resta-me esperar que ela vos possa de algum modo ajudar na alta e difícil missão que vos está confiada.

 

Fonte: Visita do Marechal Humberto de Alencar Castello Branco ao Estado do Espírito Santo/ 1964 - Casa da Memória de Vila Velha, ES
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2012 

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