Eduardo Wilberforce adentrando na Baía de Vitória em 03/09/1851
EDUARDO WILBERFORCE — Afonso de E. Taunay, em magnífico ensaio crítico publicado no JORNAL DO COMÉRCIO de 26 de agosto de 1945, sob o título "IMPRESSÕES DE VITÓRIA E SEUS ARREDORES (1850)", nos brinda com diversas traduções de um livro em inglês, editado em Londres em 1856, da autoria do jovem aspirante a oficial da marinha de guerra da Grã-Bretanha, Eduardo Wilberforee e sob o título:
"Brazil viewed through a naval glass
with notes on slavery and the slavetrade
by Eduard Wilberforce
Late of H. M. Navy
London, Longman, Brown, Green and Longman 1856".
O seu autor fazia parte da oficialidade da corveta de guerra da Marinha Inglesa GEYSER, sob o comando do capitão de fragata Eduardo Tatham, a serviço de combate ao tráfego negreiro.
Moço ainda, um simples midshipman, revela entretanto, em sua obra, boa base de cultura e pendores poéticos que o levaram a não se eximir de cantar em versos, a impressão profunda que lhe causou o encantamento da Baía de Vitória, logo que o seu navio transpôs a barra que lhe dá acesso.
Traduziu-os Taunay:
Levemente deslisa o nosso navio
Como uma ave marinha de asas abertas
Através de estreitas correntes onde a fragrância insufla
Fecundantes sopros primaveris
Altas, em uma das margens, às grimpas das montanhas,
Enrugam rochas, amontoadas sobre rochas,
De onde muitos ribeiros se precipitam
Claros como fios de prata
Ali, no cume, entre rochedos eretos
Ergue-se velho edifício
Que deve ter desafiado os mais violentos embates da tempestade
Ou as mãos presunçosas do inimigo.
Do outro lado ilhas baixas se avistam
Onde os verdes cactos vicejam
E onde por baixo de ramalhenda cortina
Descansam os beija-flores
E o enrugado oceano brandamente sorri
Onde, em suave quietude repousam
Os espessos cachos de pequenas ilhas
Em seu seio enganador.
Repitamos a estrofe:
"Ali, no cume, entre rochedos eretos
Ergue-se velho edifício
Que deve ter desafiado os mais violentos embates da tempestade
Ou as mãos presunçosas do inimigo."
Era o já então velho Convento da Penha e mal sabia o moço poeta que em seus versos cantava a verdade, pois que realmente o velho edifício sempre desafiou as tempestades e, das culminâncias onde se acha correram os holandeses que o pretenderam assaltar.
Wilberforce sentiu-se atraído pelo impressionante edifício que, ao alto mar é avistado pelos navegantes, dominando os píncaros do monte em que se acha, cobrindo de branco as rochas pontiagudas de seus extremos.
Foi, entretanto, impedido de ir lá, tendo os seus anseios estranhamente vetados pelo médico de bordo.
Teve, por isso, de se valer de um colega mais graduado para lhe colher impressões que desejava registrar.
E assim o fez. Esclareçamos, entretanto, a questão de datas. Na tradução feita, Taunay não conseguiu precisar a data ou ano em que o GEYSER esteve em Vitória.
Pareceu-lhe ser em 1850 e que a 10 de dezembro deste ano aquele vaso de guerra britânico ancorava na Guanabara. A 11 de fevereiro e isto conseqüentemente já em 1851, aprisionava o brigue brasileiro MAGANO, a pouca distância da barra carioca.
Ao que tudo indica, o cruzeiro do GEYSER entre o Rio de Janeiro e a Bahia, foi demorado.
Nos registros do Convento da Penha figura a visita do seu comandante Eduardo Tatham a 3 de setembro de 1851, juntamente com o Primeiro-Tenente John H. Crang.
Coincide, assim, a afirmativa de Wilberforce de que foi impedido de lá ir e que colheu impressões por intermédio de um companheiro mais graduado que, certamente, foi o referido Primeiro-Tenente John H. Crang.
"Convento que nada tinha digno de nota", disse o seu informante e sobre o que registrou entre parêntesis:
"Quanto me envergonho de ti, ó herege camarada que destes larga a este sentimento".
Prosseguindo com as impressões de seu colega, Wilberforce diz que a capela conventual era pequena, dispunha de órgão, sendo o edifício habitado por freiras mestiças nenhuma das quais se mostrou visível aos visitantes hereges, e comenta:
"embora o meu camarada não haja visto uma só das habitantes do convento alguns dos rapazes mais moços desembarcados sob o comando de nosso mestre de armas contaram que se haviam defrontado com algumas delas vestidas do modo mais primitivo".
O jovem inglês parece que não acreditou muito nos informes desses marujos que, mais tarde, foram encontrados nas ruas de Vitória "alguns a cambalear selvagemente pelas vias da cidade e outros sentados pelas esquinas como se fossem carpideiras a prantear sobre os disparates e os vícios de sua época." É ainda o próprio Wilberforce quem diz e, segundo Taunay, o faz pérfida e toleironamente:
"Convém lembrar que estes rapazes eram protestantes e os protestantes nunca podem falar a verdade até quando não têm motivos para agir de outro modo. Haviam estes moços provavelmente, sido educados a mentir desde o berço. E deviam saber que todos os santos são virtuosos não se aventando a lançar estigmas sobre a santidade de "Sua Santidade" ."
Na visita feita a Vitória, Wilberforce não visitou o Convento: colheu impressões através de terceiros. Mas esteve em visita ao Presidente do Espírito Santo em seu palácio, encontrando na pessoa daquele potentado (sic) personagem baixote e gorducha que vestia paletó com botões de latão".
Em setembro de 1851 o Presidente da Província do Espírito Santo era o bacharel José Bonifácio Nascente Azambuja.
Compensando a sua ironia, arremata o midshipman com um registro que, afinal é favorável às autoridades espírito-santenses, quando afirma:
"Em todo caso as autoridades espírito-santenses pareciam ser adversas ao tráfico. Dois navios estavam fundeados em frente a Vitória. Recentemente capturados, eram um deles brigue de trinta toneladas, apenas, vindo de Cambinda com 180 míseros africanos".
NOTA: Comandante Eduardo Tacham e o Primeiro Tenente John H. Crang do vapor de guerra inglês GEYSER, estiveram no Convento da Penha no dia 3 de setembro de 1851
Fonte: O Convento da Penha, um templo histórico, tradicional e famoso 1534 a 1951
Autor: Norbertino Bahiense
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2017
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