General Osório Número 120 - Por Mário Gurgel
Entre outras de menos significação espiritual, nos chega a oferta de uma criatura residente na Rua General Osório número 120, para organização e patrocínio da festa de Natal dos menores da Casa do Menino. Diante da anotação e do assunto, nossa emoção voou da sala das audiências sombrias do político para o barracão triste e pobre que ainda assombra com a sua figura macabra a onda de construções modernas que enche o agora bairro da cidade.
Na nossa infância de filho da indigência, muitas vezes os únicos presentes de Natal que tivemos vieram da bondade de mulheres vizinhas, que, como essa Lúcia da cidade, enchia o coração de solidariedade e de amor para repartir o pouco que possuía com a garotada pobre daqueles dias. Esconder por que? Com medo do ridículo? Com receio da chacota e da mofa dos que tiram da mão dos cegos as moedas mais válidas e entregam aos menores, para darem aos que observam a impressão de caridade? Não! As Lúcias do nosso tempo estão vivas ainda muitas delas, casadas outras, algumas sem irem ao altar, mas rodeadas de tranquilidade e de paz, vivendo os instantes de sua esperada velhice, na contemplação das reviravoltas da vida.
Lúcia, que agora deixa um pouco as suas preocupações pessoais na lembrança de um irmão pequeno que ela sustenta; na saudade de um filho que ela não vê diariamente, ou na dolorosa sensação de um filho que ela não teve, essa Lúcia, rasgou o véu da timidez e do acanhamento para vir, como aquela simpática criatura de "... E O Vento Levou" participar das dores e das lágrimas dos que ela sente que pode auxiliar e proteger. Não se sabe exatamente por que ela teria desejado agir em favor dos menores. Na comunicação telefônica que fizemos para agradecer-lhe a lembrança e aceitar a oferta, não cabia indagações nem esclarecimentos. Tocada pelo sentimento e pela solidariedade, buscou, por intermédio de uma velha amiga sua, Corina dos Santos, transportar à nossa organização a sua simpatia e o seu auxílio, partilhando das festividades de dezembro ao lado das crianças cujas mães estão mortas ou ausentes, ou impedidas, nos hospitais e nos desterros sociais, de virem beijar os filhos e abençoá-los na orfandade. É apenas um coração de mulher, a alma incendiada de amor ao seu próximo, que bate à porta de um casarão para perguntar se alguém carece do seu socorro, sem indagar se há mérito ou não no seu interior, que intenções esconde os que o movimentam, que pensamentos agasalham os que respondem por ele.
Mesmo que desistas da ideia, Lúcia, de vir na Noite Santa trazer a tua mensagem de fraternidade e de beleza, aos meninos da Casa, nós te bendizemos pela tua atitude. Mesmo que te arrependesses da promessa feita, nós te agradeceríamos pela iniciativa espontânea. Mesmo que não creias, os meninos da Obra rezarão por ti, pelas tuas companheiras e pelos que enfrentam, noite e dia, as incertezas do mundo e as terríveis provações da sorte. Desejamos a tua felicidade como a compreendes, aguardamos a tua presença, quando julgares oportuno chegar.
Os meninos e meninas da rua, Lúcia, são os filhos prediletos de Deus. Eles mesmos são a imagem e a personificação do Cristo Menino que nasceu numa gruta, ignorado e desconhecido. Os reis, os poderosos, os grandes daquela época esqueceram a promessa dos seus profetas e riram da Mãe do Menino que o conduzia no ventre, nas dores sagradas do seu quase parto. Depois é que eles vieram, tomaram conta do Deus, acharam que o Cristo era só deles, que teria vindo para reafirmar que os ricos devem continuar mais ricos e que os pobres devem empobrecer mais para ganhar o Céu.
Não sabemos se entre os garotos internados existe alguém que te pertença. Ou alguém que pertence a alguém que queiras bem. Não influi. O importante, é, apenas, que pensaste em dar-lhes um minuto de alegria e felicidade... Deus premiará a tua virtude, fazendo que eles te amem como filhos teus e busquem nas suas horas de solidão e de isolamento lembrar tua fisionomia benfazeja. Esta é a mensagem que eles te mandam. — Lúcia, residente à General Osório, no número cento e vinte, daquela rua da cidade.
(O Diário de 22/10/65)
Fonte: Crônicas de Vitória - 1991
Autor: Mário Gurgel
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2019
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