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Jerônimo Monteiro – Os Primeiros Passos

Jerônimo Monteiro

Jerônimo Monteiro foi um predestinado. Surgiu no horizonte governamental na hora justa de sua maior dificuldade histórica. O Espírito Santo enquistara-se no caos da crise política, social e econômica. Os imigrantes viviam desorientados em suas glebas insuladas pela falta de comunicações, de escolas, de policiamento e de autoridades. Bandos de desocupados marginais incursionavam pelos municípios longínquos, levando a intranqüilidade, notadamente em Moniz Freire, Rio Pardo, Afonso Cláudio e Boa-Família,(21) e os habitantes da Capital, naquele clima já nosso conhecido, de porto sujo e de cidade desconfortável. Finanças arruinadas, descrédito internacional, baixa de preço do café, pobreza progressiva. Responsabilidade transcendental para governante cônscio de suas prerrogativas de homem de Estado. Foi sob essa atmosfera caliginosa que Jerônimo Monteiro ascendeu à curul presidencial.

Dum pequeno quadro estatístico, elaborado em 4 de maio de 1908, por Deocleciano Coelho, Contador do Tesouro do Estado, verifica-se que a receita caíra, entre 1898 e 1907, de 5.177.657$167 para 2.325.729$411.

A receita dum Estado é função da produção, do valor da mesma no mercado de consumo, da taxa dos tributos e de vigilância na arrecadação.

Desses quatro fatores só se pode influir em três, porque a lei da oferta e da procura, determinante do preço do produto, independe da vontade natural do administrador. Jerônimo Monteiro programara realizar um conjunto de obras e a reforma da estrutura econômica e política do Estado. Ante o panorama financeiro, dentro do qual o Espírito Santo se vislumbrava, o povo tinha direito de duvidar. Dias melhores se haviam passado e promessas se fizeram sem que se colimasse o bem comum, desejado e merecido por uma coletividade, que lutara pela sobrevivência séculos a fio.

Jerônimo enfrentava, pois, adversários aparentemente superiores: a falta de recursos (22) e o tempo. A descrença do povo se vence com realizações. Essas são tanto mais expressivas quanto mais rapidamente objetivadas.

O tempo é fator imponderável, não se domestica, independe da vontade humana. Tempo perdido é uma ilusão que morre. A humanidade caminho e no continuo espaço-tempo, imperceptivelmente, registra, no relógio de suas sensações, épocas e datas, que não mais se repetem.

A oportunidade é um instante singular, um satélite que intercepta nossa órbita; se lhe cravarmos um marco, iniciaremos o contagem de nova era.

Jerônimo Monteiro chantou, na trajetória histórica do Espírito Santo, a beleza do seu renascimento.

Dinheiro se economiza e crédito se adquire. Tempo se aproveita, sacrificando conforto e bem-estar pessoal. Métodos novos modificam o ritmo, alteram a velocidade, duplicam o rendimento. Bom administrador é aquele que se reveste de sadio otimismo e esposa princípios ditados pelo bom senso.

Foi trabalho hercúleo o de Jerônimo Monteiro. Não se deteve nas dificuldades próprias dos inexperientes. Ele meditara bastante sobre o peso, que iria demover. Mediu sua força e sentiu-se capacitado.

A primeira providência era readquirir o crédito financeiro. A prudência aconselhou o presidente a tributar o funcionalismo para garantir a pontualidade do pagamento da folha mensal. Os servidores públicos tiveram seus ordenados diminuídos, temporariamente, de dez por cento. O ato foi recebido com reservas, todavia sem recriminações. Melhor pouco e certo do que muito e duvidoso, diz o aforismo de nossos avós. Foram generosamente compensados. Jerônimo Monteiro instituiria, depois, a "Caixa Beneficente"(23) e determinaria a construção de vinte e oito casas para vendê-las, a longo prazo, a funcionários estaduais. Nasceram assim as Ruas Coutinho Mescarenhas, Gama Rosa, Henrique Coutinho, Dona Júlio e Padre Anchieta.(24) Foram confortáveis e modernas na ocasião. O funcionário se conheceu como ser humano. Sua cooperação transformou-se em entusiasmo; a timidez alçava às raias da idolatria.

 

NOTAS 

 

(21) Nesses municípios a própria polícia se tornou responsável pelo cangaço. Celebrizou-se tristemente o tenente Evaristo. 

(22) Contraiu o celebérrimo empréstimo de 1908 com os banqueiros Charles Vitor, de Paris, no valor de setenta milhões de francos franceses.

(23) Lei 720 de 5-12-1910 – Tomou o nome de “Caixa Beneficente Jerônimo Monteiro”, cujos benefícios aos funcionários são incontestáveis, principalmente o financiamento de casas próprias.

(24) Fundaram-se assim os “Palames” e os charcos de Campinho, hoje Parque Moscoso. A Rua D. Julia passou a se chamar Washington Pessoa, ex-prefeito de Vitória. Homem culto, organizador e equilibrado. As Ruas Henrique Coutinho e D. Juli chamaram-se respectivamente do Norte e do Sul.

 

Fonte: Biografia de uma ilha, 1965
Autor: Luiz Serafim Derenzi
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2017

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