Marcello Basílio
MARCELLO ANTÔNIO DE SOUZA BASÍLIO é, antes de tudo, um amante da ciência do saber, cultivada como uma planta rara, a qual aduba com os frutos do seu idealismo, nos sublimes jardins da sua existência. Como todo idealista, não se deixou macular pelas ambições de caráter pessoal, buscando sempre os caminhos da realização em conjunto com uma integridade indiscutível. Ele se divide em suas múltiplas atividades entre ser intransigente defensor dos princípios de direito, que dividem disposições legais e de conciliador dos anseios de natureza social, bem como os valores relativos ao aperfeiçoamento do Ensino em nosso Estado, tendo ainda sob sua responsabilidade a prática da justiça nas relações entre o Estado do Espírito Santo e os seus funcionários.
Nascido em Muniz Freire, em 18 de agosto de 1935, filho de Antônio Basílio e Carmem de Souza Basílio, seu pai foi Juiz de Direito em São Mateus quando o norte do Estado ainda não havia sofrido as depredações que colocam hoje em risco a ecologia local e a região ainda estava coberta de florestas e o Rio Doce só dava passagem por balsa e canoa (1939-1950). Tendo perdido o pai após um período de enfermidades provocadas por um desastre na estrada de São Mateus e Linhares, isto em 1950, coube a sua mãe viúva o importante trabalho de educar e encaminhar os nove filhos para uma vida honesta e produtiva.
MARCELLO BASÍLIO fez o curso primário em São Mateus no Grupo Escolar Amâncio Pereira e veio para Vitória em 1948 estudar no Colégio Salesiano. O curso científico fez no Colégio Estadual (UAGES). Freqüentou a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo concluindo o curso em 1963. Fez, depois, o curso de especialização da CEPAL em problemas econômicos em nível de pós-graduação. Em 1969 foi para São Paulo onde freqüentou o curso de pós-graduação em administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas daquele Estado. Obteve o grau de Mestre na Fundação Getúlio Vargas tendo, ao final do curso, obtido o 1° lugar da turma. Freqüentou nos Estados Unidos a University of Houston do Texas onde fez estágio sobre Administração Universitária. Também no Instituto de Monterey no México fez estágio sobre Administração Acadêmica.
A sua infância viveu no Norte do Estado da década de 40. Foi para São Mateus de colo e só veio conhecer a cidade onde nasceu Muniz Freire depois de adulto. Na Região de São Mateus, Conceição da Barra e Itaúnas viveu os melhores momentos de sua infância. Naquela época a melhor viagem de Vitória a São Mateus era por mar, através dos navios madeireiros das famílias Diaz e Castro. Quando criança lembra-se que pescava no cais da baía de Conceição da Barra ao lado casarão da família Castro. De repente percebeu que de dentro da casa dos Castro saía fumaça negra intensa. Era um sobrado com residência na parte superior e na parte de baixo depósito de combustível para navios. Percebendo o grande risco que corria naquele instante porque sabia que de onde vinha a fumaça estava cheio de tonéis de óleo combustível procurou colocar-se a salvo, presenciando então uma cena que não mais se apagou de sua mente: um operário da Serraria de Lauriano Dias se precipitou para dentro do incêndio e retornou com o tonel que pegava fogo não permitindo assim que ele explodisse e desencadeasse a explosão em cadeia. Saiu de lá de dentro com o tonel suspenso nos dois braços porém incendiado como uma tocha humana. Evitou uma tragédia arriscando a vida. Este gesto de profunda solidariedade humana é lembrado sempre por MARCELLO BASÍLIO como a maior demonstração de beleza interior da criatura humana, o que embora raro hoje em dia ainda acontece, porque nem tudo de bom morreu dentro das pessoas brutalizadas pela Sociedade de Consumo que tornou a maioria fria e indiferente à dor alheia.
A infância de MARCELLO é rica em detalhes curiosos como a corrida que empreendeu amedrontado com a possibilidade de uma onça o perseguir por ter pegado no colo o seu filhote. Cita ainda com grande emoção a chegada a São Mateus do primeiro ônibus, do Vitalino Biancuci, que se tornou famoso com o apelido de “Baú do Vitalino”. Numa região selvagem como foi São Mateus em sua infância, teve a felicidade de ouvir as arapongas cantarem no alto das árvores e os índios que queriam trocar objetos do mato por coisas da cidade, ficando do outro lado do rio por segurança. Viveu o encanto da floresta densa que podia ser contemplada em toda a sua exuberante beleza... O que não será visto mais... Nunca mais.
Ele assistiria ao início do fim, quando com a inauguração da Ponte de Linhares, a floresta foi devorada pela entrada do caminhão como meio mais fácil de transporte fazendo decair a navegação fluvial e marítima.
Seus pais, muito religiosos, educaram os nove filhos dentro de um ambiente de severidade na hora do estudo e da oração. E em sua lembrança hão de voltar sempre as cenas e imagens das festas folclóricas daquela época tão cheias de beleza e pureza, especialmente as festas de Congo.
O grande efeito de sua mocidade ocorreu quando com um grupo de amigos conseguiu escalar a Pedra dos Dois Olhos, onde dormiram sob um frio terrível. Nesta época já morava em Jucutuquara, em Vitória.
O casamento para ele é o melhor acontecimento para qualquer ser humano. Em verdade sempre diz que é um homem feliz. Casou-se com a pessoa certa na hora certa, escolhendo MARIZA FONSECA CASTRO DE REZENDE para companheira, tendo com ela os filhos: Fábio, Sheila, Ricardo e Marcelo Antônio.
Quando perdeu o pai aos 15 anos teve um grande desespero provocado pelo impacto e a sensação de insegurança. Estava numa idade em que o pai representava tudo para ele em relação às incertezas da vida. Isto foi superado com a união familiar. Os irmãos mais velhos é que tiveram que trabalhar para o sustento da família.
O seu maior desafio ele o entende ter sido quando foi fazer o curso de pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, em 1969. Não sabe até hoje se nenhum capixaba tenha feito o curso antes dele, mas sabia que atrás dele viriam outros. Quando recebeu o resultado das primeiras provas chegou a ficar desanimado. Não entendia o fato de ter tirado notas tão baixas. Perdeu por causa disto 10 quilos, estudando até altas horas da noite. A partir do segundo semestre começou a se destacar na turma. No quarto semestre terminou o curso em primeiro lugar, defendendo tese e obtendo o Grau de Mestre. Foi uma grande experiência e uma grande façanha de sua vida.
Não costuma jogar em loteria porque acha que o seu caminho tem que se palmilhado com esforço. Não espera nada fácil da vida. Todos temos que lutar para conquistar o que almejamos. O dinheiro é importante, diz MARCELLO BASÍLIO, mas não representa tudo na vida. Existem os ricos infelizes também. É necessário que o ser humano dê a sua contribuição pessoal quer pela inteligência, beleza, simpatia, pertinácia, afetividade, liderança etc., enfim todos os elementos necessários a criar um estado de felicidade consolidada. O dinheiro dá status na sua opinião e também prestígio em razão das condições materiais que permite amealhar e que pesam no contexto social.
Logo depois que fez o curso da CEPAL foi coordenar a Reforma Acadêmica Administrativa da UFES e a implantação do “Campus Universitário de Goiabeiras”. Acha que o sucesso desta missão permitiu o reconhecimento no âmbito da Universidade e na Sociedade capixaba ao esforço do seu trabalho.
MARCELLO ANTÔNIO DE SOUZA BASÍLIO é um lutador e nunca deixou de lutar. Ainda hoje luta tenazmente. No momento além da função de Secretário de Estado da Administração está implantando desde 1978 um seringal na Região de Bahia Nova, Guarapari, no Vale do Jacarandá. Vem se empenhando neste projeto e espera no corrente ano ainda atingir a meta das 40.000 árvores. A sua Fazenda especializou-se em seringueira e hoje tem um dos maiores viveiros do Estado para fornecimento de mudas a terceiros.
Sendo uma pessoa reconhecida confessa que sempre recebeu ajuda de amigos e graças a Deus ele tem a honra e o privilégio de possuí-los.
As suas maiores ambições foram: escrever um livro; implantar o “Campus” da UFES; freqüentar o curso de pós-graduação em Administração; servir de alguma forma ao Estado; achando ter conseguido realizar tais anseios, mas sem sentir ainda realizado. Pensa que ainda pode e deve fazer muita coisa pelo seu Estado e pelo País.
Analisando a si mesmo, MARCELLO BASÍLIO diz que o que é deve aos conhecimentos que adquiriu no plano acadêmico e a aplicação destes conhecimentos sobre a realidade. Na vida acadêmica, afirma ele, muitos foram os autores que contribuíram para a sua formação intelectual. Foram eles que o ajudaram a compreender o mundo complexo em que vivemos nas dimensões do espiritual, o material e o social. Acha que conseguiu formar a sua própria consciência sobre o mundo.
Sobre os Estados Unidos, tem grande admiração por este país e pelo que foi capaz de realizar, pelo bem-estar social que alcançaram e, principalmente, pela liberdade de expressão que o país assegura aos americanos. É realmente a Nação mais forte do mundo. Trata-se de uma economia gigante e auto-sustentável. O que o enfadonha nos Estados Unidos é a estandardização. O México é um país interessante que cativa pela alegria do seu povo, pela beleza de suas artes, pela história do seu povo, principalmente o elevado grau de civilização dos maias.
Aos jovens ele diria a mesma coisa que aos seus filhos: “SOMENTE COM TRABALHO, IDEALISMO E PERSEVERANÇA É QUE SE CONSEGUE ANTINGIR OS OBJETIVOS A QUE NOS PROPOMOS NA VIDA. OUÇAM MAIS OS ADULTOS”.
Com pleno conhecimento da problemática industrial do Estado e baseado nos trabalhos de pesquisa industrial realizados pelo órgão que dirige presentemente, apresentou ao CEBRAE em ação conjugada com o BANDES os seguintes projetos especiais para execução em 1979: a) Universidade–Empresa; b) Apoio Técnico Gerencial à Empresa Exportadora; c) Criação do Centro de Desenvolvimento Artesanal do Mármore em Cachoeiro de Itapemirim; d) Apoio à Micro Empresa Capixaba; e) Central de informações empresariais. Além destes projetos apresentou ao CEBRAE na área de Pesquisa os seguintes: Programa Paraquímico, Setor Hotelaria, Setor Gráfico. Todos os três com apoio financeiro do CEBRAE de ordem de 60% e sua execução estava prevista para 1979, através do CEAG – ES.
Além da grande folha de serviços prestados ao Espírito Santo, MARCELLO ANTÔNIO DE SOUZA BASÍLIO, recentemente com a mudança da Diretoria do CENTRO BRASILEIRO DE APOIO À PEQUENA E MÉDIA EMPRESA – CEBRAE, foi honrado com o convite para assumir uma Diretoria do CEBRAE no Rio de Janeiro, tendo declinado do convite por motivos particulares.
Para um homem que se demonstra acima de tudo um Proustiano tão orgulhoso do seu passado e ao qual sempre volta através de suas vivas lembranças, há de ficar sempre aquela indagação anônima feita por alguém a mostrar que os que curtem o passado, foram sempre grandes construtores do presente e serão forçosamente os conquistadores do futuro: “Que faríamos nós sem o amanhã? O passado, embora extremamente agradável de recordar, está morto. O presente está sempre a puxar por nós. Mas o amanhã é o paraíso do sonhador. Tudo é possível amanhã; nenhum sonho é demasiadamente louco, nenhum objetivo parece inatingível ...”
Fonte: Personalidades do Espírito Santo. Vitória – ES. 1980
Produção: Maria Nilce
Texto: Djalma Juarez Magalhães
Fotos: Antonio Moreira
Capa: Propaganda Objetiva
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2020
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