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Movimento que desenha a cidade – Jardim da Penha

Jardim da Penha anos 70 Conjunto dos Bancários

A natureza crítica das dificuldades que permeiam o cotidiano da maior parte da população mundial vem conduzindo a formação de agrupamentos de pessoas em torno de movimentos que debatam, expressem e reivindiquem alternativas às extremas necessidades a que estão submetidas. Assim, são constantes e legítimas as manifestações em busca de terra, teto, água, luz, transporte, tratamento sanitário e médico, emprego... No entanto, o sentido básico e emergencial dessas ausências faz com que sejam desconsiderados ou deixados em plano menos relevante outros elementos geradores de subjetividade, delineadores da identidade, definidores de expressão e significativos de uma comunidade, de uma época. Desse modo, são menos comuns os movimentos urbanos que refletem sobre a qualidade da paisagem urbana, o desenho, o volume das construções que, ao serem erguidas, poderão constituir, ao contracenar com o meio existente, a imagem de um querer coletivo.

Em nosso país e em nossa cidade, essa é uma rara atitude, que torna especiais os movimentos de bairro que tangenciam a questão do desenho da paisagem urbana. O pioneiro e mais ativo, nesses termos, em Vitória, é o da Associação de Moradores de Jardim da Penha - AMJAP. Criada em 1983, em função da reação contra o aumento das prestações do Sistema Financeiro de Habitação, a AMJAP passou em seguida a reivindicar infra-estrutura urbana e defender a manutenção do gabarito de quatro pavimentos no bairro, o que equivalia, segundo a Associação, a preservar o caráter de comunidade. Estes foram seus principais argumentos não só na defesa desse caráter, mas também na consolidação de expressiva atuação político-partidária e na construção de oposição à administração municipal.

Nessa trama, de todos os temas abordados pela AMJAP, o mais constante e sempre atual, dado o interesse imobiliário pelo bairro, vem sendo, então, evitar a verticalização das construções, marcando uma imagem que se quer própria, diferenciada de seus vizinhos Praia do Canto e orla de Mata da Praia. O modelo de ocupação do bairro, caracterizado pela continuidade arquitetônica de edifícios de quatro ou cinco pavimentos, tornou-se, então, definidor de um território, marco de ação política. Esse foi o exercício que inseriu em Vitória a atuação de movimentos de bairro na discussão sobre a altura das edificações na cidade, decisão que até então era tomada pelo poder público sob forte pressão do mercado construtor e incorporador, sem a participação de outros agentes. Nesse sentido, a AMJAP, além de emprestar experiência técnica e política a outras associações de moradores, como a de Jardim Camburi, garantiu para Jardim da Penha seu atual desenho volumétrico, fazendo contrastar, na paisagem de Camburi, a linha de altura de seus edifícios com o de setores urbanos próximos.

É fato que a qualidade do ambiente urbano abrange elementos que transcendem a questão relativa à altura das edificações. É fato, também, que o setor imobiliário, mesmo negociando com outros atores urbanos, mantém força e insistência no argumento de verticalização da cidade. No entanto, ver desenhado, construído na paisagem, o perfil urbano tramado por um movimento de bairro torna possível imaginar ações mais amplas: movimentos que, ao desenhar a cidade, zelem pela vida, aliando manifestações de cunho básico, e até de sobrevivência, ao desenvolvimento da experiência estética de dialogar com os elementos naturais e construídos desse lugar.

 

Este texto origina-se de trabalho anterior da autora: Transformação planejada de territórios urbanos em Vitória (ES): o bairro Camburi. Dissertação de mestrado, São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 1995.

 

Escritos de Vitória – Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES.
Prefeito Municipal: Paulo Hartung
Secretária Municipal de Cultura e Turismo: Silvia Helena Selvátici
Sub-secretário Municipal de Cultura e Turismo: Rômulo Musiello Filho
Diretor do Departamento de Cultura: Rogério Borges de Oliveira
Diretoria do Departamento de Turismo: Rosemary Bebber Grigatto
Chefe da Biblioteca Adelpho Poli Monjardim: Lígia Maria Mello Nagato
Bibliotecárias: Elizete Terezinha Caser Rocha
Lourdes Badke Ferreira
Conselho Editorial: Álvaro José Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco
Revisão: Reinaldo Santos Neves, Miguel Marvilla
Capa: Vitória Propaganda
Editoração Eletrônica: Edson Maltez Heringer
Impressão: Gráfica e Encadernadora Sodré

 

Fonte: Escritos de Vitória, nº 16 Movimentos Sociais, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo – PMV
Texto: Eneida Maria Souza Mendonça
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2018

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