Muares no Espírito Santo – Por Ormando Moraes
Em matéria de transporte, o Espírito Santo sempre ocupou posição secundária em relação a outras regiões do País. Vasco Fernandes Coutinho, primeiro donatário de nossa Capitania, deve ter sido um homem tímido e acomodado, que não quis ou não pôde enfrentar a resistência dos indígenas e o mistério de rios, serras e florestas virgens. E já no século XVIII, quando colonizadores desta Capitania quiseram abrir um caminho para as "Minas Gerais", a Coroa portuguesa baixava ordens severas contra a pretensão, tendo ficado muito conhecida, na ocasião, a frase do Conselho Ultramarino: "Quanto mais caminhos houver, mais descaminhos haverá". Na realidade, o que havia era o temor de que novos caminhos facilitariam a evasão do quinto do ouro devido à Coroa e, com isto, nossa penetração para o interior ficou muito retardada. (2)
Assim, o Estado não se desenvolveu e até o início do século XIX não tivemos grandes problemas de meios de transporte, mas os muares (burros e bestas) foram chegando aos poucos para atender a pequenas necessidades na Capital da Província e nos modestos lugarejos que iam surgindo à beira-mar ou a pouca distância para o interior, tais como Guarapari, Benevente (atual Anchieta), itapemirim, São Mateus, Serra e Viana. Basta dizer que, segundo Ignácio Accioli de Vasconcellos, in "Memória Statistica da Província do Espírito Santo", em 1828, não havia em todo nosso território mais do que 100 muares.
Só a partir da segunda metade do século passado, com a chegada dos imigrantes italianos, a derrubada das matas e a formação e crescimento das lavouras de café, nas regiões serranas, é que se tornou mais intenso o uso de muares no Espírito Santo, principalmente no começo deste século e se estendendo até os anos 40.
Então, o que se viu, atravessando serras e vales, enfrentando caminhos e picadas mal abertos, cheios de pedras, buracos, atoleiros e precipícios, dias seguidos, sob o sol ou sob a chuva, foi a epopéia das tropas e dos tropeiros transportando a produção do Espírito Santo, especialmente o café.
Nota (2): OLIVEIRA, José Teixeira de - História do Estado do Espírito Santo - Fundação Cultura do Espírito Santo - 2ª edição - 1975
Fonte: Por Serras e Vales do Espírito Santo – A epopéia das Tropas e dos Tropeiros, 1989
Autor: Ormando Moraes
Acervo: Edward Athayde D’ Alcantara
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2016
Entretanto, burros, mulas e bestas foram presença importante em nossa ilha para serviços nas antigas fazendas de Jucutuquara, Maruípe e Santo Antônio
Ver ArtigoO muar seria o ideal para essa tarefa e desde 1764 a Coroa havia autorizado sua criação dentro do "continente do Estado do Brasil", mas o Conde da Cunha, não a transmitiu aos governadores de São Paulo e das Minas Gerais
Ver ArtigoEm Muniz Freire, Estado do Espírito Santo, as tropas são, ainda hoje (escrevo em 1957), muito usadas
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