O corredor da 25 de Março - Cachoeiro de Itapemirim
Não fosse pela efeméride que a denominação do logradouro encerra, a rua estaria fadada a notabilizar-se de qualquer forma; tanto pelas construções e empreendimentos como pelo fluxo dinâmico do passado que a memória cachoeirense conservou.
A denominação de 25 de Março, dada à rua, reporta-se à emancipação municipal, quando da instalação de sua primeira Câmara, naquele dia e mês de 1867.
Não sabemos, ao certo, quando a rua foi aberta, no entanto, podemos afirmar, com precisão, não ser logradouro dos mais antigos de Cachoeiro, vez que os cronistas relatam as primeiras construções da vila levantadas no lado norte do rio ou na Baiminas. Neste Último local, em razão do início da navegação fluvial, onde o rio deixava de ser encaichoeirado. De qualquer maneira, as margens ribeirinhas seriam terrenos os mais naturais para a expansão da vila, pelo caráter montanhoso das demais áreas, de difícil acesso. Segundo o cronista Rubem Braga, um dos mais notáveis de seus moradores, a rua era calçada de pedras irregulares (pé-de-moleque?) até o advento dos paralelepípedos, já neste século. Foi nas suas imediações que se construiu, em julho de 1887, a formidável ponte de madeira, com estrutura de ferro trazida da Alemanha, que passou a ligar, decisivamente, os dois lados da urbe que o rio dividia. Mas o acontecimento de maior impacto para o logradouro deve ter sido o assentamento dos trilhos da Estrada de Ferro Espírito Santo e Caravelas.
Começava no Porto João Marques (Baiminas) e prolongava-se por 780 metros de extensão pela 25 de Março até a primeira estação da Companhia (local onde está hoje o Grupo Escolar Bernardino Monteiro).
O Newton, outro Braga ilustre que ali habitou, ao enaltecer a figura de Bernardo Horta, que considera o mais notável personagem da história de Cachoeiro, enumera na 25 de Março ou nas suas cercanias, algumas de suas obras mais importantes, entre estas o Grêmio Cachoeirense.
O Grêmio Cachoeirense era uma antiga sociedade literária, fundada a 10 de junho de 1883 (instalada a 1º de julho), que congregava uma das mais importantes bibliotecas do Espírito Santo, daquela época, com, aproximadamente, 2.000 volumes. Tal a importância desta entidade que, em 1884, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ofereceu-lhe coleção trimestral completa de sua Revista (publicada desde 1839). O Grêmio sucedera, na realidade, o Tirocínio Literário, de duração efêmera, fundado em 7 de setembro de 1867.
Antônio Marins (Minha terra e meu município) fala do lançamento da pedra fundamental do prédio do Grêmio, em 5 de janeiro de 1887. No entanto, somente com a construção da Loja Maçônica "Fraternidade e Luz" (inaugurada a 5 de setembro de 1898) é que a biblioteca do Grêmio encontrou lugar definitivo.
O belo e sólido prédio da 25 de Março, construído pelo artista português José Mendes, segundo planta do engenheiro José Calazans, ficou pronto nessa época para abrigar a biblioteca pública do antigo Grêmio Cachoeirense e, à noite, uma escola para meninos pobres.
Bernardo Horta, doente e desgostoso, suicidou-se no Rio de Janeiro em 1913. Muito de seus empreendimentos também sucumbiram, ante a incúria e insensibilidade de alguns políticos de Cachoeiro. É o caso, por exemplo, do prédio da antiga Prefeitura (inaugurado simultaneamente à luz elétrica, em 1903, por Bernardo Horta).
É no sopé do morro onde ficava a antiga prefeitura que se inicia a 25 de Março. Hoje, asfaltada, perdeu muito de sua antiga característica, também a velha ponte de ferro e madeira, destruída em sua estrutura há alguns anos, é agora "Mercado Persa"; a Escola de Comércio do professor Herkenhoff sofreu grande ampliação; mas a tradicional Loja Maçônica "Fraternidade e Luz" ainda se mantém incólume, competindo com a antiga residência dos Braga. Esta última ao final de 25 de Março, é como o início de um "Corredor Cultural", que, dali, estende-se até a praça Jerônimo Monteiro.
A casa foi construída pelo primeiro prefeito eleito de Cachoeiro, coronel Francisco Braga, pai de Newton e Rubem Braga. Fica nas cercanias da comprida casa dos Martins e a ponte sobre o córrego Amarelo (obra também da administração Bernardo Horta), outrora caudaloso e pleno de lagostins. É de suas janelas, varanda, ou, sobretudo, do pé de fruta-pão, que os garotos Braga, curiosos, assistiam à passagem dos bois, na derradeira caminhada ao Matadouro da Baiminas. Quase defronte, o Centro Operário, do qual o coronel Braga fora benemérito diretor; ao lado do córrego, o colégio da tia Gracinha (Graça Guárdia), da qual jamais se esqueceram, em meio a tudo isso a Rua 25 de Março, memorável campo de peladas de bola-de-meia dos meninos de sua geração. O asfalto e os veículos em disparadas, dos tempos modernos, já não permitem mais que se ouçam o eco saudoso dos cascos dos animais nas pedras ou a gritaria dos meninos em ferrenha disputa pela bola-de-meia; já vai longe até mesmo o esplendor da Casa do Estudante; mas, a semente plantada naquele pedaço da 25 de Março recusa-se a deixar de germinar. Da velha Casa dos Braga ressurge a Academia Cachoeirense de Letras, o primeiro Conselho Municipal de Cultura instalado no Espírito Santo e a Casa da Cultura, para que a residência fora adquirida, com acervo da família Braga.
Tudo isso, faz da 25 de Março o "Corredor Cultural" da cidade por excelência, no qual incluiríamos, ainda, por extensão, o Bernardino Monteiro, prédios e entidades que valem a pena preservar para a memória e cultura cachoeirenses.
Fonte: Notícias do Espírito Santo, Livraria Editora Catedra, Rio de Janeiro - 1989
Autor: Gabriel Bittencourt
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2021
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