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O Frade e a Freira – Por Adelpho Monjardim

Foto postal Colonvist C. 1963 - Acervo: José Luiz Pizzol

Entre os municípios sulinos de Itapemirim, Rio Novo e Cachoeiro de Itapemirim, a mão do Senhor chantou um dos mais notáveis monumentos da natureza — O Frade e a Freira. São dois imensos rochedos de centenas de metros de altura, encimando verdejante montanha. Despida de vegetação, a relva vai beijar o sopé dos colossos. Jamais a natureza se esmerou tanto em requinte. Ela esculpiu, no granito, dois religiosos, perfeitos em seus mínimos detalhes.

Quando o Espírito Santo possuir turismo organizado essa estupenda formação rochosa, burilada pelos elementos, caprichosos e incomparáveis artistas, será a atração de nacionais e estrangeiros.

Ali, conhecido desportista cachoeirense, aficionado do alpinismo, encontrou a morte ao tentar escalar a Freira. Despencando-se de considerável altura esfacelou-se sobre as rochas.

Em torno de platônico amor entre dois religiosos, criou-se delicada e poética lenda. Ali, em épocas remotas, viveram um frade e uma freira. Impossibilitados de se unirem, fiéis aos votos que professaram, Deus, por piedade, converteu-os em dois blocos de granito para que assim se eternizasse aquele santo e puro amor.

Dois consagrados poetas capixabas, Benjamim Silva e Paulo de Freitas, este da Academia Espírito santense de Letras, inspirados na lenda enriqueceram a poesia brasileira com dois sonetos que se tornaram clássicos.

Assim Benjamim Silva sentiu e exteriorizou a lenda:

 

O Frade e a Freira

Na atitude piedosa de quem reza

E como que num hábito embuçado,

Pôs, naquele recanto, a Natureza,

A figura de um frade recurvado.

 

E, sob um negro manto de tristeza,

Vê-se uma freira tímida, a seu lado,

Que vive ali rezando, com certeza,

Uma oração de amor e de pecado.

Diz a lenda — uma lenda que espalharam,

Que aqui, dentre os antigos habitantes,

Houve um frade e uma freira que se amaram.

 

Mas, que Deus os perdoou, lá no infinito

E eternizou o amor dos dois amantes

Nessas duas montanhas de granito.

Não menos inspirado, Paulo Freitas cantou-a com lírica ternura:

 

O Frade e a Freira

Tendo nas mãos estrelas cintilantes,

as contas cintilantes de um rosário,

aqueles dois rochedos tão distantes

parece que estão lendo um breviário.

 

Alguns dizem que Deus os fez amantes

nestas florestas do Brasil lendário,

e, na prece, nos divinos instantes,

ei-los juntos, no mesmo santuário.

 

O Frade faz lembrar imenso grito

do silêncio perdido no infinito,

eterna queixa formulando a alguém.

 

Dizem que a Freira, quando a noite vem,

sorrindo, escuta a queixa dos amores

e as pedras trocam beijos entre flores.

 

Fonte: O Espírito Santo na História, na Lenda e no Folclore, 1983
Autor: Adelpho Poli Monjardim
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2016

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