O outro lado da revolta de Queimado
Em 19 de março de 1849, registrou-se na Província um fato que a História denominou “Insurreição do Queimado”. Insurreição é sinônimo de revolta. E tudo aconteceu no Queimado, que é hoje município da Serra.
A história é simples de ser contada.
À margem esquerda do Rio Santa Maria da Vitória que servia de transporte para homens e mercadorias com destino ao interior da região, em certo ponto surgiu um povoado que se denominou São José do Queimado. Aí deveria construir-se uma igreja e não havia recursos para isso. A população era em geral muito pobre e os fazendeiros moravam longe e pouco se interessavam pelo assunto. Mas era uma freguesia e não podia deixar de ter uma igreja bonita, com sinos suspensos numa torre bem alta.
O pároco propôs-se edificar o templo.
Logo correu a notícia de que os escravos que ajudassem a levantar a obra receberiam, no dia da inauguração, a carta de alforria.
O entusiasmo tomou conta dos cativos que se lançaram ao trabalho movidos pelo cântico da liberdade. Os dias santos eram dias de festa e a festa era ver subir as paredes em cujos coroamento estaria o reconhecimento da sua condição de criaturas humanas.
Um ano inteiro trabalharam, isto é, em noites de luar, e aos domingos e nas horas de folga que tivessem nas fazendas.
No dia da inauguração, depois da missa, os escravos esperaram o cumprimento da promessa. Tudo lhes foi negado. O frade italiano, Gregório de Bene, negou tudo e se retirou apressadamente da paróquia.
Mas... teria havido mesmo essa promessa?
Condenar o Padre Bene por uma promessa que não sabemos se foi, realmente, feita, seria uma leviandade. O número de escravos que teriam ajudado a levantar o templo não passou de vinte ou pouco mais. E mais de duzentos participarem do levante.
Não teriam esses negros cativos se aproveitado do episódio para, sofridos e desesperados, fazer ecoar um grito de liberdade?
***
O sacrifício das vítimas serviu de alerta para que as autoridades e o povo em geral pensassem mais e se preocupassem com a terrível dominação do homem pelo homem.
Fonte: ESPÍRITO SANTO - História de suas lutas e conquistas, 2002
Autora: Neida Lúcia Moraes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2012
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