Os “Grandes Coisas” - Por Hélio de Oliveira Santos

Esta estória passou-se há uns 30 anos atrás. Estava meu irmão Alberto, o Atila Bezerra (figura muito conhecida na sociedade de Vitória e Rio, que já foi Ministro da Fazenda, hoje aposentado pelo referido Ministério, compositor e que também arranha um violão) e se não me falha a memória também o nosso Asdrubal Soares, e mais uns amigos, todos doutores, formados em advocacia, engenharia e outras doutorices...
Lá pelas tantas, mais ou menos nove horas da noite (já tinham tomado uns uísques), resolveram fazer umas serestas aqui em Vitória. E lembraram-se do Alceu. O Alceu, hoje aposentado, era na época funcionário do Banco Hypothecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais. Ele tinha uma vozinha bonita, aranhava bem o violão, e estava sempre pronto a uma serenata, junto com amigos.
Foram a casa do Alceu ( ele morava na Duque de Caxias, na parte que tem aquela descida que dá para a Praça Costa Pereira, antiga Independência) e com cuidado, para a mulher dele não ouvir chamaram-no para a seresta. O Alceu também gostava de tomar umas e outras e com muito cuidado apanhou o violão e saiu com os doutores...
Entraram no carro e começou a romaria das serestas. E o carro, com umas três garrafas de uísque dentro. E canta aqui, canta ali, e os seresteiros, inclusive o Alceu mandando brasa, no uísque. E essa serenata entrou pela madrugada adentro, até que, já todo mundo mais pra lá do que pra cá (inclusive o Alceu, já cheio e também já rouco de tanto cantar, e também já com os dedos bêbados pois já não conseguia tocar mais nada) resolveram levar o Alceu em casa, e depois cada um tomar seu destino.
Pararam o carro em frente a casa do Alceu, e com muita dificuldade (ele morava no segundo ou terceiro andar, e o prédio não tinha elevador) foram carregando o Alceu pela escada, escada essa de madeira, que rangia como o diabo. Conseguiram botar o Alceu dentro de casa, e sua mulher estava dentro do quarto com a porta fechada e a luz acesa.
O Alceu parou em frente ao quarto de dormir do casal, e antes que a mulher desse a bronca, ele foi dizendo, com voz de bêbado.
- Meu bem, não fique preocupada. Eu estava com o Dr. Alberto, Dr. Atila, Dr. Asdrubal , e mais uns doutores!
Aí a mulher dele nessa altura já uma fera respondeu alto:
- “GRANDES COISAS!!!”
Como quem diz, o que adianta sair com doutores, para chegar em casa neste estado? Podia sair com qualquer um, que talvez chegasse em melhor situação...
Fonte: “Estórias de Boemios e Outras Estórias”, 1978
Autor: Helio de Oliveira Santos
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro de 2013
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