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Outros tempos... Hanseníase

Hospital Dr. Pedro Fontes, 1935

O Hospital Dr. Pedro Fontes ou Colônia de Itanhenga foi inaugurado em 11 de abril de 1935 com o objetivo de atender aos pacientes portadores de hanseníase. Por ser uma doença de fácil transmissão (por meio das vias aéreas), os enfermos da época eram levados ao HPF, onde ficavam isolados. Esse era o único método de prevenção e controle da doença até então.

A partir de 1972, época em que foram descobertos a cura e o tratamento para a hanseníase, os hospitais-colônia foram banidos oficialmente em todo o Brasil. Por volta da década de 1980, orientado pelo Ministério da Saúde, o Hospital Pedro Fontes foi reformulado e parou de internar pacientes compulsoriamente. Além disso, também inaugurou o tratamento ambulatorial, estimulou a manutenção da unidade familiar e a reintegração social do paciente.

Hoje, a Colônia de Itanhenga continua tratando aproximadamente mil pessoas seqüeladas pela enfermidade. Todas elas moram no local. De acordo com o diretor geral da unidade, o médico Manoel Alves, o HPF é como se fosse uma pequena vila do interior.

O ambulatório do hospital, que desde 1972 atende a pacientes dos bairros adjacentes, conta com profissionais médicos de outras especialidades além da dermatologia, como clínica geral, ginecologia e odontologia, todos mantidos pela Secretaria de Saúde de Estado (Sesa).

Veja o discurso pronunciado pelo Dr. Antônio Aleixo, que era catedrático de Moléstia de Pele e Sífilis da Faculdade de Medicina de Minas Gerais, quando de sua vinda ao Espírito Santo, representando o governador Benedito Valadares nas festas do 4º Centenário do Povoamento do Solo Capixaba. A presença dele foi para inaugurar o Leprosário de Itanhenga como era chamada a Casa de Saúde para cuidar dos pacientes de lepra. Atualmente, o nome desta doença é mais conhecida como hanseníase.

“Senhor Governador de Estado e Senhores Secretários do Governo – Minhas senhoras e meus senhores – Peço vênia para congratular-me com o nobre povo espírito-santense, irmão de Minas Gerais, pelo acontecimento auspicioso da inauguração do Leprosário de Itanhenga, magnífica realização que vem trazer um contingente de inestimável valor para a luta contra a lepra em nosso País.

- Eis aqui um empreendimento que constitui motivo de legítimo orgulho para o povo deste Estado e que honra todos aqueles que não mediram esforços para levá-lo por diante. É uma obra que visa beneficiar a geração atual mas também e principalmente as vindouras.

Para por em relevo a importância do cometimento basta referir que sendo o número de leprosos do Estado do Espírito Santo de 500, segundo dados estatísticos meticulosos do Serviço do Dr. Pedro Fontes, dos quais nem todos em rigor são carecedores de isolamento em leprosário, esta colônia poderá, desde já, alojar perto de 300 doentes.

O confronto desses algarismos nos autoriza logo a afirmar que a luta contra a lepra neste Estado nos oferece perspectivas muito otimistas e, o que é mais, para breve prazo.

No entanto, na execução do plano da colônia de Itanhenga, não se cogitou tão somente isolar os lázaros, mas de assisti-los de maneira eficiente e, não somente sob o ponto de vista médico, como também sob o ponto de vista humanitário e social. Vê-se que a obra que ora se inaugura foi inspirada nos sentimentos de solidariedade humana, o que não é motivo de admiração, por isso que seus lineamentos obedeceram à ação do médico, isto é do homem que exerce apostolado da bondade, que é o apanágio da verdadeira medicina. Perfeitamente compreendeu o médico, no modelamento da sua obra, o elevado alcance do papel humanitário e social do problema da lepra, que não é exclusivamente médico, como querem alguns erradamente.

O problema médico é já de si extremamente árduo, porque requer, além do isolamento e da assistência dos doentes, a vigilância cuidadosa e dos suspeitos e dos conviventes de lepra, bem como a educação sanitária de todos, a cargo de Dispensários fixos e itinerantes. Por outro lado o problema social é, a meu ver, muito complexo e cheio de dificuldades que ultrapassam a nossa expectativa.

Para essa obra assim tão abrangente, de tão larga envergadura, julgo não errar afirmando, com meu testemunho sincero, que aqui se encontra o homem na pessoa do Dr. Pedro Fontes. Dá-se, aqui, justamente um desses casos singulares em que, como dizia Padre Vieira, os cargos não são cobiçados, porém os homens é que o são.

Justo é, todavia, não olvidar que esse homem de eleição permaneceria à margem dos cargos e de suas atividades mais produtivas, si não fora o apoio de um governo esclarecido e de ação como o do Exmo. Senhor Capitão Bley.

Graças, pois, a esse homem e a esse governo benemérito é que eu tenho a grande satisfação de assistir, nesse momento, a realização de uma etapa decisiva na campanha contra o mal de Hansen no Estado do Espírito Santo.

Congratulando-me com este povo por tal motivo, eu o faço de uma maneira particular, por ver que, por toda a parte, pelo Brasil afora, porfiadamente se trabalha pelo êxito dessa campanha, que não é somente regional, mas também nacional e que depois de afetar os indivíduos passou, à revelia dos antigos administradores, a interessar a coletividade inteira.

A cooperação é, portanto, necessária, diante de um mal que afeta a nossa sorte, a nossa economia e os nossos foros de cultura e de civilização.

Chefe do Serviço de Lepra no Estado de Minas Gerais, falando também em nome da Sociedade Mineira de Proteção aos Lázaros e como representante do Estado de Minas, a minha presença nesta inauguração traduz o vivo e sincero desejo de que me acho possuído de cooperar na luta de extermínio dos males insidiosos e ubiquitários que por toda a parte se expandem num contraste chocante com nosso progresso, que é admirável sob múltiplos aspectos.

No momento em que solemnisaes, a um tempo, o 4º Centenário da Colonização do Espírito Santo e a inauguração desta linda colônia de Hensenianos, como para mostrar sugestivamente que o saneamento da nossa gente representa um complemento necessário e imprescindível da obra gigantesca do desbravamento das selvas e dos sertões, da conquista dos aborígenes de toda a espécie, do povoamento do solo e da vitória da civilização, permite que vos traga a minha palavra singela, porém ungida dos mesmos sentimentos que animam o vosso povo, bem como os sanitaristas e a alta administração do vosso Estado."

Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Nº 10 dezembro de 1935.
Pesquisa de : Walter de Aguiar Filho



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