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Quase lá - Imigração Americana

Eliza Adams Gunter

O deleite novamente difundiu-se pelo grupo, quando nos foi dito pelos camaradas que estávamos muito próximos a Linhares. Até então, não vimos sinais que indicassem a proximidade de uma vila. Freqüentemente nos prendíamos em bancos de areia, mas, como isso aconteceu dúzias de vezes a cada dia, não seria evidência de que nossa jornada estava próxima do fim. Trechos das canções daqueles nativos escuros elevavam-se no ar da noite, e embora, não tão harmoniosas como as notas do sabiá, as melodias soavam alegremente em nossos ouvidos. Diversos quilômetros mais se passaram da mesma maneira monótona. As florestas pareciam negras à distância, como as margens o eram, às vezes, a dois quilômetros de distância. As estrelas brilhavam radiantemente. A noite caía mais intensamente sobre nós. Sentimos o orvalho caindo. Foram requisitadas capas e xales para cobrir os pequenos que estavam dormindo.

Diversos quilômetros mais, sem variação do modo de viajar, do cenário ou posição, e nenhuma Linhares ainda à vista. Estávamos demasiados cansados para reclamar. Nossas cabeças doíam e desistimos em resignação completa, até que uma nuvem de mosquitos atacou-nos, quando as canoas passaram sob os galhos pendurados de árvores curvadas.

Nossos sentimentos então eram mais lúgubres do que podíamos expressar. Nenhuma luz à vista. Nada, em ambos os lados, exceto as árvores da floresta. Nada para ser ouvido além do chape dos remos e a miríade de vozes dos grilos e um guincho ocasional de um pássaro noturno. Estávamos em um estado de intrepidez indiferente, sério demais para dormirmos, e nossos olhos estavam mantidos em um olhar tenso em direção ao lado direito do rio. Finalmente, as “boas novas” foram pronunciadas. Os fragmentos de melodia que os camaradas continuaram a emitir, a cada momento em uma melodia mais nasalada e sombria, foram subitamente interrompidos e eles exclamaram, em um tom alegre:

“Linhares está aí.”

Quão encantador era ouvirmos vozes de um barranco alto ao qual estávamos nos aproximando. Ainda mais agradável foi ouvir instruções, distintamente dadas em português. Era a voz de uma senhora, que identificamos imediatamente como de uma americana. A senhora Anna Gunter, que esteve lá tempo suficiente para aprender a linguagem, falava de uma forma clara e fluente, e era respondida pelos camaradas. Ela os instruiu para outro ponto de desembarque, um pouco acima.

Nunca esqueceremos as boas vindas calorosas dadas pela família do Coronel Gunter. Eles prepararam a ceia para os viajantes cansados e, antes das nove da noite, estávamos descansando em nossa nova casa, que ele nos havia assegurado. Uma volta de cerca de um quilômetro, à luz das estrelas, trouxe-nos ao nosso domicílio. A casa, que era dividida entre a família do Dr. McDade e a nossa, era uma das melhores da vila. Era perfeitamente nova, coberta com telhas e piso de mogno. As casas foram-nos emprestadas por aquelas pessoas generosas, até que nós pudéssemos fazer nossos preparativos. Alguns deles vagaram suas próprias vivendas. A nossa nunca tinha sido ocupada, pois não estava completamente terminada e o proprietário possuía outra casa confortável.

Fomos compelidos a fechar as janelas (não havia caixilho) para manter os mosquitos fora. Esperávamos sentir-nos abafados, mas fomos surpreendidos. O ar era frio e agradável. A ventilação através do telhado mantinha uma corrente de ar que quase podia apagar velas. Dormimos profundamente a primeira noite e, à luz de um sol matinal do dia 6 de junho, lhe apresentaremos a vila.

 

Fonte: Nossa vida no Brasil – Imigração Norte-Americana no Espírito Santo 1867-1870
Autora: Julia Louisa Keyes
Tradução e notas: Célio Antônio Alcântara Silva
Publicação: Arquivo Público do Espírito Santo, 2003

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