Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

República, a grande transformação - Por Cristina Dadalto

Viaduto Caramuru, 1930

"E Vitória parecia mesmo um presépio que ainda mais belo se tornava à noite, com a iluminação feérica e colorida dos logradouros, tendo, fizesse luar, a lua como que caída do alto de seus montes para boiar nas águas mansas da baia."

Elmo Elton - Logradouros Antigos de Vitória.

 

A declaração da proclamação da república não provocou em Vitória qualquer movimento de insatisfação. Governava a província José Caetano Rodrigues Horta, que, em 20 de novembro de 1889, transferia o governo a Afonso Cláudio, então nomeado pelo governo provisório.

É um novo período que se inicia. Fase de progresso e de realização de obras que mudam a feição da cidade. Há influência do moderno urbanismo francês, é construída a Avenida Jerônimo Monteiro, o logradouro mais comercial, de maior trânsito e que abrigava os prédios mais valiosos da cidade. É o período de criação de novos bairros e de aterramentos.

Diz Luiz Serafim Derenzi: "Ao se proclamar a república, o Espírito Santo acorda de longo sono, cheio de pesadelos, e se apercebe de sua miséria física e moral. Valoriza seus filhos e passa a governar-se por si mesmo. (...) Os problemas administrativos são encarados com realismo. Adotam-se soluções."

Naquele período, Vitória contaria com homens públicos, organizados em conselhos, que iriam atuar gratuitamente. É elaborado um Código de Posturas, que passa a exigir licenciamento de obras, organiza o serviço de limpeza pública, policia as construções civis, protege as matas. Abre novos bairros. Vitória vivencia um efêmero progresso comercial.

Em 23 de maio de 1908 Jerônimo Monteiro assume o governo do Espírito Santo. Vitória havia estacionado, regredido economicamente - o comércio se encolhera. Ainda, segundo Luiz Serafim Derenzi, o Centro de Vitoria era assim: "Um bonde a tração animal trafegava pela cidade baixa, de Vila Rubim ao Forte São João, passando pelo largo da Conceição, ruas do Rosário, Cristóvão Colombo e Barão de Monjardim. (...) A Rua Primeiro de Março tinha o prédio mais alto da cidade. Aqui afluíam as damas ricas e elegante, da cidade para compras de seda, veludos, cambraias, perfumes, calçados, etc. (...) A Rua da Alfândega era a melhor. Um tanto estreita, com fachadas das casas mal alinhadas apresentava-se suficientemente reta. (...) O largo da Conceição não tem forma geométrica. Os urubus, empoleirados na cobertura do teatro, espreitam o lixo exposta à vista nas marés baixas, quando se descobrem os fundos das ruas do Rosário, General Câmara e São Manoel."

A cidade que Jerônimo Monteiro encontrou mantinha sua estrutura colonial. A Rua Duque de Caxias estava em decadência acelerada, o desconforto atingia os visitantes, que não encontravam hotéis de qualidade, a iluminação das ruas era feita à base de lampiões a querosene, as escolas eram em número insuficiente.

Pouco tempo após sua posse, Vitória começa a sentir os efeitos da mudança. É introduzida a energia elétrica e com ela surge o bonde elétrico, aposentando o bonde de burro. É reaberta a Biblioteca Pública, a Escola de Belas Artes é fundada. As ruas são urbanizadas e alargadas, recebendo tratamento de drenagem, aterros, água e esgoto. Constroem-se edifícios, jardins e parques: e as matas fronteiras à rua Sete de Setembro são desapropriadas.

Mas foi também no governo Jerônimo Monteiro que o Centro de Vitória viu alguns de seus patrimônios históricos serem demolidos. A igreja de Santiago, anexa ao velho palácio, foi desapropriada para dar espaço às exigências da reforma administrativa do Estado.

A capela de Nossa Senhora da Conceição foi derrubada para possibilitar a construção do Teatro Melpômene. E a igrejinha da Misericórdia, meio em ruínas, comprada por Henrique Coutinho, deu lugar ao edifício da Assembléia Legislativa. Aliás, foi Henrique Coutinho o planejador da expansão e melhoria da cidade no governo de Bernadino Monteiro.

Bernadino Monteiro daria continuidade às obras urbanísticas do irmão. As sociedades recreativas cresceram, as regatas se revigoraram, o Melpômene tinha noitadas agradáveis. Vitória se desenvolvia intelectualmente.

Foram tempos que duraram até a posse do coronel Nestor Gomes. Em seus dois primeiros anos de governo ficaram praticamente interditadas todas as obras da Cidade Alta, na Praça Costa Pereira, na rua Jerônimo Monteiro e na Zona da Capixaba.

A excelente situação financeira do Estado e os planos anunciados por Nestor Gomes transformavam Vitória numa terra de cabarés e jogatinas. A assunção do presidente Florentino Avidos, em 1924, vinha dar novo alento ao Centro de Vitória.

Foi a partir do governo de Florentino Avidos que Vitória passou a ser conhecida como cidade presépio, apelido carinhosamente recebido do médico e jornalista Aerobaldo Léllis, em crônica publicada, possivelmente, na revista Vida Capixaba.

No período de governo de Florentino Avidos várias edificações importantes para o Centro foram iniciadas: a construção do Viaduto Caramuru — planejado para ser uma linha de bonde, por onde bonde algum nunca passou, do Grupo Escolar Gomes Cardim (atual Fafi), a Imprensa Oficial, Arquivo Público, Biblioteca, Mercado da Capixaba — onde hoje tem sede a Secretaria Municipal de Cultura de Vitória.

Depois, nos governos que se seguiram, o Centro viu ser demolido o velho mercado na Avenida Jerônimo Monteiro para dar lugar à praça Oito, que teve parte ocupada pelo edifício dos Correios e Telégrafos.

E seguia a vida dos moradores do Centro de Vitória com relativa tranquilidade, quando, no verão que iniciava a década de 30, mais precisamente a 13 de fevereiro, a cidade viu-se em meio a uma situação traumática.

Parlamentares, jornalistas, acadêmicos e oposicionistas ao governo de Getúlio Vargas realizavam comício pela Aliança Liberal, na área fronteira ao Colégio do Carmo. Oradores postados nas janelas do colégio, cerca de 3 mil pessoas, acotovelavam-se na audiência, quando a polícia iniciou a repressão. Uma verdadeira chacina, que resultou em centenas de feridos e dezenas de mortos.

Depois desse episódio, poucas vezes o Centro viveu momentos de barbaridade de tal porte. E seguiu seu ritmo de desenvolvimento urbano e comercial sem muitas alterações, até 1960.

"Assim foi Vitória por anos seguidos... Acontece que, a partir da década de 60, começa a perder suas características..." lamenta Elmo Elton, em seu livro Logradouros Antigos de Vitória.

 

Fonte: Centro de Vitória, Coleção Elmo Elton nº2 – PMV, 1999
Texto: Maria Cristina Dadalto
Fotos: Judas Tadeu Bianconi
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2020

História do ES

França Antártica – Mem de Sá e Guanabara

França Antártica – Mem de Sá e Guanabara

Notícias levadas a Mem de Sá, por intermédio de alguém que esteve no Espírito Santo, davam conta dos franceses que se haviam estabelecido na Guanabara

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

O Espírito Santo na 1ª História do Brasil

Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576

Ver Artigo
O Espírito Santo no Romance Brasileiro

A obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro

Ver Artigo
Primeiros sacrifícios do donatário: a venda das propriedades – Vasco Coutinho

Para prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda

Ver Artigo
Vitória recebe a República sem manifestação e Cachoeiro comemora

No final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações

Ver Artigo
A Vila de Alenquer e a História do ES - Por João Eurípedes Franklin Leal

O nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto... 

Ver Artigo