Retratos da Cidade
Não sei se acontece com vocês. Comigo ocorre sempre. Vejo o Adelpho Monjardim passando naquele terno impecável, rumo decidido, e penso logo: ali vai Vitória. Para mim ele devia se chamar Adelpho Poli Vitória Monjardim. Está na face. Penso que ele é uma das últimas personagens que simbolizam a cidade, sua maneira simples e alegre de viver, aquele jeito de vila, mas nariz arrebitado de uma polis. Não sei aonde vai o velho prefeito, ou de onde ele vem. Só sei que cruza com as pessoas na rua concedendo-lhes aquele olhar rápido que substitui o como vai dos tempos em que era menor o número dos que encontrava nessas caminhadas.
Também lembro-me ocasionalmente de Otinho, que nunca mais vi nas ruas a declamar versos apaixonados, É outro que um dia vai ganhar busto de bronze, quando alguém, tardiamente, se aperceber do que ele significou de alegria para gerações de Vitória. Quando a cidade se recordar de como ele se parecia com aquela praça, como se fizesse parte dela, como os bancos, eternos, que servem de assento tanto para o descanso dos aposentados quanto para as incertezas dos desempregados.
Estes são apenas dois retratos de Vitória, que vão passando com o tempo. As transformações trazem novas identidades. Um shopping, por exemplo. Hoje, talvez o shopping que leva o nome da cidade seja um monumento mais reverenciado. Atire a primeira pedra aquele que ainda não pisou o brilho do seu granito vermelho, ou não arriscou um debruçar-se na amurada do seu segundo piso, vendo a vida mover-se na febre de consumo instalada lá embaixo.
Nesta vistoria pela cidade ocorre-me que outro retrato de Vitória seja seu contorno de linha, com tênues braças de pontes ligando-a ao continente. Embora poucos atentem para o que há sob seus pés, nosso chão não passa de um rasgo de terra, cume de alguma montanha que mergulhou no mar e se acomodou no fundo a tempo de permitir uns tantos 80 quilômetros quadrados de vaidade na superfície. Aos que porventura passem a temer novas acomodações, sugere-se vigiar as marcas ao pé do Penedo, sinalizando o nível das águas do canal.
É claro que sua inclinação pode ser outra – uma rua na Praia do Canto, um prédio no Centro ou um armazém na Vila Rubim. A minha maior identificação com a cidade, entretanto, é um cantinho na região de Maruípe, onde volto após cada dia de jornada. É ali – aqui, onde escrevo – que posso me espichar numa rede, à sombra das árvores no quintal, onde as rolinhas insistem em construir seus ninhos e procriar, impunemente.
Fonte: Escritos de Vitória, 1- Crônicas, Vitória-ES - 1993
Autor: Jonas Reis (Nascido em Colatina, ES, 1952. Em Vitória desde 1957 - Jornalista e Advogado)
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2011
GALERIA:
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