Réu Papagaio - Por Carminha Corrêa
O ano era 1977. O local: redação do jornal A Gazeta, na rua General Osório. Já passava das 18 horas, fechamento de edição. Paulo Maia, então secretário de redação, grita, como era de costume, para a Editoria de Polícia: "Acidente grave na avenida Beira-mar, tem um monte de presunto. Tudo envolvendo dois ônibus. Carminha, corre para o local, e não perca nenhum detalhe. E não esqueça o fotógrafo."
O horário era de pique, época de grandes engarrafamentos no centro e de ônibus lotados. Realmente, devia haver mesmo um "monte de presunto" (para quem não sabe, cadáveres). E, já imaginando a cena do jeitinho que Paulo Maia queria: corpos para todos os lados, ensangüentados, corre-corre, sirenes de ambulâncias, inúmeros curiosos à volta e a Polícia tentando passar uma corda para isolar o local do povo aflito e tenso. Gildo Loyola já todo preparado, duas câmeras fotográficas em punho, para não perder nenhum lance. Afinal, a foto da primeira página tinha que sair dali, daquele local fúnebre, triste. Desde o fechamento histórico de O Diário os jornalistas tentavam, em vão, conquistar o espaço sensacionalista daquele antigo vespertino. Bons tempos aqueles em que a Imprensa sacudia a cidade e o leitor corria diariamente para as bancas, ávido por notícias sensacionais.
Minha cabeça de "foca" (repórter iniciante) e medrosa ia trabalhando angustiada, pois sempre temia que este momento chegasse um dia. O temor e pavor de sangue, acidente, pessoas tragicamente feridas, assassinadas, violentadas, de alguma forma me perseguia, e não conseguia vencer o pânico de ter que chegar e olhar toda a cena, sem perder nenhum detalhe. Dentro da Kombi, rezava para que os corpos, se é que havia, já tivessem sido recolhidos, removidos, transferidos, qualquer coisa. Pedia a Deus que me poupasse daquela cena.
O "trágico" acidente narrado por Paulo Maia realmente envolvia dois ônibus. Isto já se podia ver de longe, pois não pudemos chegar mais perto com o carro. O tumulto era generalizado, conforme descrito. A multidão também estava aglomerada e agitada. "Meu Deus," pensava, "o Senhor não me ouviu e agora chegou a minha vez de estrear na coluna policial com a matéria sangrenta do dia." O coração batia forte.
Mas qual não foi a minha surpresa: Deus realmente me ouviu e de imediato percebi que não havia corpo algum. Os dois motoristas dos coletivos que colidiram discutiam com o policial de trânsito. Mais atenta, observei que a batida não era nada parecida com o descrito por Paulo Maia. Uma leve colisão e nenhum ferido.
Outra surpresa. Ao questionar o policial sobre as causas do acidente, obtive como resposta: um papagaio. Pensando ter entendido errado, perguntei ao motorista do ônibus que sofrera a batida: um papagaio, respondeu. Isto é brincadeira, depois de tanto sofrimento, pensei. Ainda não satisfeita, entrei no coletivo e o motorista causador da confusão explicou detalhadamente: "Estava dirigindo, com o carro lotado, todo mundo em pé se segurando como podia. De repente, um papagaio voou e veio se instalar nos meus pés. Assustado, perdi o controle da direção e acabei batendo no carro da frente." E o papagaio: desapareceu do local, fugindo do flagrante. O seu dono, é claro, também.
E assim, ficamos sem a foto trágica da primeira página, mas trocamos pela cômica manchete: PAPAGAIO PROVOCA ACIDENTE NA BEIRA-MAR.
Fonte: ESCRITOS DE VITÓRIA — Imprensa – Volume 17 – Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES.
Prefeito Municipal - Paulo Hartung
Secretário Municipal de Cultura e Turismo - Jorge Alencar
Sub-secretário Municipal de Cultura e Turismo - Sidnei Louback Rohr
Diretor do Departamento de Cultura - Rogério Borges de Oliveira
Diretora do Departamento de Turismo - Rosemay Bebber Grigatto
Coordenadora do Projeto - Silvia Helena Selvátici
Chefe da Biblioteca Adelpho Poli Monjardim - Lígia Maria Mello Nagato
Bibliotecárias - Elizete Terezinha Caser Rocha e Lourdes Badke Ferreira
Conselho Editorial - Álvaro José Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco
Revisão - Reinaldo Santos Neves e Miguel Marvilla
Capa - Amarildo
Editoração Eletrônica - Edson Maltez Heringer
Impressão - Gráfica e Encadernadora Sodré
Autor do texto: José Costa
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2018
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