Morro do Moreno: Desde 1535
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Serra do Mestre Álvaro – Por Clério José Borges

Mestre Álvaro visto do mar na obra do artista, V. Mizliorat, 2013. Como Vasco teria visto este cenário em 23/05/1535?

A montanha do Mestre Álvaro é o mais setentrional e importante dos "Monadnocks" da costa brasileira. Durante milhões de anos, a erosão vai aplainando terrenos, destruindo as montanhas. Há, contudo, rochas mais resistentes, de granito ou gnaisse, e quando a erosão é muito intensa, restam montes isolados. O exemplo de um maciço isolado no Espírito Santo é o da Serra do Mestre Álvaro.

A altura do Mestre Álvaro é de 833 metros, conforme a Diretoria de Geodesia e Cartografia - Superintendência de Cartografia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. O monte Pascoal, avistado por Pedro Álvares Cabral e sua tripulação no dia 22 de abril de 1500, data do descobrimento do Brasil, possui apenas 536 metros de altura, ou seja, 297 metros a menos que a montanha do Mestre Álvaro.

Nos primeiros documentos cartográficos do século XVI, pode-se verificar a indicação do Mestre Álvaro, assinalado como ponto de referência para a navegação marítima. O Escritor Basílio Carvalho Daemon, no Livro "História e Estatística da Província do Espírito Santo", ao relatar a chegada de Vasco Coutinho ao Espírito Santo informa que o donatário tomou o morro do Mestre Álvaro como ponto de referência para sua navegação e rumo, quando por aqui aportou em 23 de maio de 1535: "1535 - Chega a 23 de maio deste ano à barra desta capital, tomando por ponto marítimo o pico do Mestre Álvaro, o donatário da Capitania do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho, acompanhado dos fidalgos portugueses Dom Simão de Castello Branco e Dom Jorge de Menezes que vinham degradados e outros, que o acompanharam, totalizando sessenta pessoas."

Recursos Naturais

O Mestre Álvaro abriga uma das últimas áreas de Mata Atlântica de altitude do Estado. Tornou-se Reserva Biológica e Parque Florestal - área natural protegida que proíbe a coleta e o consumo dos seus recursos naturais – através da Lei Estadual Nº 3.075, em 1976. Pela lei, o Poder Executivo declarou o Mestre Álvaro área de utilidade pública e autorizou um crédito especial para fins de ressarcimento dos direitos de posses e benfeitorias das propriedades particulares existentes dentro da área. A desapropriação não veio e, em 1991, uma nova Lei Estadual, a de Nº 4.507, transformou o Mestre Álvaro em Área de Proteção Ambiental (APA), categoria que permite a ocupação humana controlada no seu interior e uso sustentável de parte dos seus recursos naturais.

Um levantamento cadastral fundiário encomendado ao Instituto de Defesa Agro-pecuária e Florestal do Espírito Santo (IDAF) pela Prefeitura Municipal da Serra (PMS) informa que são mais de 100 propriedades privadas que compõe a APA de aproximadamente 3.470 hectares. O hectare é uma medida de superfície, que corresponde a 10.000 metros quadrados.

Principais elevações do Mestre Álvaro. Ponto de marcação a um mestre de Navio chamado Álvaro

A montanha do Mestre Álvaro possui várias elevações. Numa mesma Montanha existem elevações de 833, 451, 400, 337 e 200 metros de altura. O cume mais alto de 833 metros fica nas proximidades da nascente que forma o córrego Doutor Robson. Próximo à nascente do Córrego da Água Funda há uma elevação de 654 metros. Na região do atual Sítio Água Funda foi instalada a Aldeia dos Índios Temiminós, em Junho de 1564, depois da mudança de local ocorrida após a epidemia de Varíola, na Aldeia primitiva fundada em 1556.

Ainda no Morro do Mestre Álvaro, próximo à nascente do Córrego São Domingos, há uma elevação de 400 metros de altura. Nas proximidades do bairro Pitanga há outra elevação de 451 metros. Em Brejo Grande, no lado que fica em frente a Carapina e à BR 101, há uma elevação de 337 metros. Nascentes que abastecem o córrego Caburé saem de elevações de 200 e 400 metros de altura.

Mestre Álvaro é o Morro da Serra

O Mestre Álvaro é uma montanha com várias elevações (pontões). A maior elevação do Mestre Álvaro possui 833 metros de altura. Devido às diversas elevações existentes, o Mestre Álvaro deve ser denominado corretamente de Serra do Mestre Álvaro e não apenas de Morro, Montanha ou Monte. O povo, contudo, para simplificar, resolve chamar o Mestre Álvaro de Morro da Serra. A Serra possui também uma flora exuberante e morros com resquícios da Mata Atlântica, como o Morro do Vilante (Vigilante), com 427 metros de altura; Morro do Céu, com 414 metros de altura; Morro Cavada, com 362 metros de altura; Morro Grande, com 329 metros de altura; Morro das Araras, com 309 metros de altura e a montanha conhecida como Serra do Mururon, com elevações (pontões) com 328, 207 e 200 metros de altura.

Homenagem de Braz Lourenço ao Mestre Álvaro

O nome da montanha Mestre Álvaro foi uma homenagem do padre Jesuíta Braz Lourenço, que, com Maracajaguaçu fundou a Serra, ao Capitão e Mestre de Navio de nome Álvaro da Costa, seu amigo e filho do segundo Governador Geral do Brasil, Dom Duarte da Costa.

O padre Braz Lourenço foi confessor de Dom Duarte da Costa e de seu filho Álvaro da Costa na viagem de Portugal para o Brasil.

Álvaro notabilizou-se pela disputa com o primeiro Bispo brasileiro, Dom Pero Fernandes Sardinha, acerca da escravização dos indígenas no Brasil. Em 1556, Álvaro da Costa é morto num ataque Indígena, fato que traz grande comoção entre os coloniza-dores portugueses em Salvador e no Espírito Santo.

Por influência de Braz Lourenço, os habitantes da capitania passam a denominar de Álvaro o imponente maciço da Serra, por ser Álvaro da Costa, o mestre comandante de Caravela e o maciço um imponente guia para os navegantes.

Álvaro da Costa, filho de Dom Duarte da Costa

Álvaro da Costa (Falecido em 1556) Português, filho do governador-geral do Brasil Duarte da Costa. O padre Serafim Leite registra: "Dom Álvaro da Costa, filho do Governador, em 1556 empreende guerra, bem sucedida, contra os índios rebelados da Bahia." No livro "Cartas dos Jesuítas", Álvaro da Costa é citado como braço direito do pai e ostenta honras de herói e pacificador de colonos e índios. NOME DEFINIDO POR LEI. A Lei N.° 235, de 12 de novembro de 1897, torna Oficial o nome do morro da Serra como Mestre Álvaro. O Artigo primeiro da referida lei está redigido da seguinte forma: "São concedidas ao Governo Municipal da Cidade da Serra, para seu patrimônio, todas as terras devolutas que existem na montanha Mestre Álvaro, não excedendo a cinco quilômetros em quadro." Assina a lei, Constante Gomes Sudré, (Sodré) que foi o terceiro presidente do Espírito Santo, indicado pelo presidente Deodoro da Fonseca, tendo governado de 09 de setembro a 20 de novembro de 1890. Foi eleito vice-presidente em 1896, assumindo o governo devido à renúncia de Graciano Neves, de 23 de setembro de 1897 a 06 de janeiro de 1898. Na época o Governador do Estado era chamado de Presidente.

Levy Rocha e o Imperador Dom Pedro II na Serra

O Imperador do Brasil, Dom Pedro II, visitou a Província do Espírito Santo de 26 de janeiro a 09 de fevereiro de 1860. Logo ao chegar fez referência ao Mestre Álvaro, escrevendo que a montanha podia ser vista de até 60 milhas inglesas (96.651 metros, ou seja, quase 100 quilômetros) mar adentro com tempo bom, sendo um ponto de referência para a navegação em alto mar, usado por Mestres e Comandantes de embarcações marítimas.

Levy Rocha no Livro Viagem de Dom Pedro II ao Espírito Santo que conta a viagem do Imperador em terras capixabas relata: "O Imperador, a quem não escaparam os principais detalhes da viagem, após esquadrinhar os horizontes com o binóculo e a olho nu, lápis em punho, anotou na caderneta de bolso: Entrada do Espírito Santo, do lado do Sul, Moreno, Penha, Mestre Álvaro do lado do Norte que se vê com tempo claro até 60 milhas ao mar."

Nas suas viagens o Imperador Dom Pedro II anotava todas as informações obtidas. Deixou à posteridade 5.500 páginas de seu Diário registradas a lápis em 43 cadernos. Em suas anotações, o Imperador informa sobre a origem do nome Mestre Álvaro e anota outras informações que obteve através dos que participavam de sua caravana.

Sobre o assunto o Escritor e historiador, Fernando Antônio de Moraes Achiamé faz as seguintes observações: "Clério. Sou de opinião que você adote o texto abaixo, no qual os acréscimos que você fez estão entre colchetes (como é usual) e não entre aspas. Quanto ao Meireles, o nome dele pode ser atualizado para um "L" somente sem problema algum. Como desconheço aqui um "Conde Azambuja Meireles" (existiu um cônego Azambuja Meireles) e a família é realmente muito grande, sugiro que você deixe apenas "capitão Meireles", que é como o Imperador se refere em certa altura a esse personagem. Quanto ao juiz municipal (as iniciais dos nomes devem vir em minúsculo), o nome dele é indicado pelo Imperador e está OK. Quanto ao Azevedo, o imperador deixa um espaço em branco no diário para o segundo nome, mas se você tem certeza de que era o major Henrique Augusto de Azevedo, proprietário da fazenda Itapocu, ótimo; essa informação enriquecerá seu texto. Sugeri outra redação para o acréscimo referente ao D'Arlincourt. Um abraço e disponha do amigo Fernando." Segue o texto de Dom Pedro II: "O verdadeiro nome da alta montanha parece ser Mestre Álvaro, atribuindo-se esta denominação a ter ela servido de ponto de marcação a um mestre de navio chamado Álvaro, segundo ouvi do Meireles [capitão Meireles]. O juiz municipal [Antônio Joaquim Rodrigues] e o Azevedo [major Henrique Augusto de Azevedo, proprietário da fazenda Itapocu] disseram-me que o missionário Frei Gregório de Bene plantara uma cruz no lugar mais alto da montanha. O D'Arlincourt, [sargento mor, engenheiro do Império, Luís D'Arlincourt, falecido no Espírito Santo], segundo o Azevedo não subiu tão alto, fincando uma bandeira num cabeço que fica encoberto do lado da Serra pelo resto da montanha."

Mestre Álvaro teria sido um vulcão na antiguidade

A afirmação de que o Mestre Álvaro é de origem vulcânica e que teria sido um vulcão na Idade antiga, ou seja, há mais de 10 mil anos, é atribuída ao geógrafo Aires de Casal, em livro de 1917, onde consta: "o Mestre Álvaro teve um vulcão na antiguidade." D. Pedro II, em 1860, escreveu em seu diário que nada consta a respeito do vulcão no Mestre Álvaro, mas ouvi do Juiz Municipal, Antônio Rodrigues que "parecia haver aí ouro." Os primeiros colonizadores encontraram ouro no Mestre Álvaro, mas foi em pequenas quantidades e de pouco valor. Era ouro de aluvião. NOTA: Manuel Aires de Casal, popularmente conhecido como padre Aires de Casal (Pedrogão, 1754 - Portugal, 1821), foi um sacerdote, geógrafo e historiador Português, que viveu durante muitos anos no Brasil e se dedicou ao estudo da corografia (geografia e história) do Brasil. Aires de Casal teria pesquisado e visitado morros e montanhas da costa brasileira, inclusive o Mestre Álvaro, escrevendo o primeiro livro de edição brasileira, em 1817, com o título, Corografia do Brasil. Ele não registra Mestre Alvo e nem Mestre Álvares e sim, Mestre Álvaro. Em 1817, quando da publicação do livro de Aires de Casal, o nome Mestre Álvaro ainda não estava oficializado pela Lei N.° 235, do ano de 1897. No seu livro Corografia Brazílica, de 1817, Aires de Casal relata: "O monte Mestre Álvaro é uma montanha quase circular, vistosa, e a mais alta da costa, perto de três léguas afastadas da praia. Tem partes escalvadas e de rochedos. Noutra parte é povoada de matas com grandes pedaços cultivados, cujos agricultores são geralmente paroquianos da freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Serra, por estar dentro do recinto da sua circunferência. No monte é onde se criam árvores do melhor bálsamo, que sai da província. Fica entre os rios Caraípe e dos Reis Magos e teve um vulcão na antiguidade."

O ambientalista Ademir da Mata não concorda com a colocação de que o Mestre Álvaro seja de origem vulcânica. Em comentário na Internet relata, "Clério, oportunas e impecáveis as suas observações sobre o Maciço Mestre Álvaro. Por sua natureza de formação, o Mestre Álvaro é um granito maciço de rochas ígneas. Acredito serem as elevações decorrentes de dobras geológicas por ação de encontros de placas tectônicas e não de formação vulcânica." Em outro E-mail ele complementa dizendo, "Prezado Clério. Em primeiro lugar eu gostaria de deixar minha admiração pelo vosso empenho nesta árdua tarefa em resgatar informações históricas tão valiosas para a população brasileira, sobretudo a capixaba. Com relação ao Mestre Álvaro, eu não o classifico como um Monte, mas sim como um Maciço, pois é um conjunto de dobras tectônicas que, como já comentei, se originaram, por compressão da crosta em um passado muito remoto, mas como é corriqueiro chamá-lo de Monte, acredito ser melhor manter esta designação. O texto está ótimo e certamente despertará o interesse de pesquisadores no aprofundamento de futuras pesquisas.”

 

Fonte: Serra Colonização de uma cidade, História – Folclore – Cultura, ano 2015
Autor: Clério José Borges
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2015



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