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UFES 65 anos - Por Ester Abreu

Carlos Xavier Paes Barreto

Comemorar é a tradição para preservar a História.

No século XX, os intelectuais do nosso Estado eram os que fizeram cursos de medicina e advocacia - os estudos superiores mais conhecidos na época - em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Porém só podiam realizar esses estudos os filhos de famílias abastadas ou, com sorte, aqueles que recebessem auxílio e pensões do poder público. Foram alguns desses diplomados os que deram impulso ao meio intelectual capixaba, proporcionando a criação de instituições culturais: em 1916, o Instituto Histórico Geográfico do Espírito Santo (IHGES), em 1912 a Academia Espírito-santense de Letras (AEL), 1930 a Faculdade de Direito do Espírito Santo, 1949 a Academia Feminina Espírito-santense de Letras, e em 1954, a Universidade do Espírito Santo (UES), que deu origem à Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Contudo, a semente para que a UFES pudesse com glória usar o seu lema "Docente omne gentes" (Ensinar todas as pessoas), para ela existir, houve a contribuição de muitos outros intelectuais que conseguiam estudar nas escolas de mais prestígio no país. Entre os capixabas que se empenharam pela criação, está Judith Leão Castello Ribeiro, a primeira mulher no ES a ser deputada e a entrar na Academia Espírito-santense de Letras, que participou, em 1947, das disposições constitucionais transitórias para a criação da Universidade Estadual do Espírito Santo.

É preciso registrar também a participação decisiva de instituições isoladas na instalação do desenvolvimento do ensino superior no Estado, tais como: as Faculdades de Farmácia, de Odontologia de Vitória, e a de Direito, fundada pelo pernambucano, Carlos Xavier Paes Barreto, um dos fundadores do IHGES e da AEL, e as Escolas Superiores: de Música, de Belas Artes, de Enfermagem. Em 1951, criou-se a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FAFI), que, transformada no Centro de Ciências Humanas e Naturais e de Educação da UFES, se agregará às demais instituições para tornar-se realidade, durante o governo de Jones Santos Neves, a Universidade do Espírito Santo. O local escolhido para assediar a nova instituição foi uma área de Maruípe, onde fica hoje a Casa do Cidadão. Tendo sido designado como reitor o professor Ceciliano Abel de Almeida. A UFES se instala em solenidade ocorrida na Escola Normal Pedro II, durante a noite de 26 de maio de 1954.

Mas o acolhimento da Universidade Estadual pelo sistema Federal foi outro caminho longo e trabalhoso, destacando--se entre seus o deputado capixaba Dirceu Cardoso, que, segundo registros, atravessava os Ministérios com o processo em mãos para as devidas assinaturas.Finalmente, em 30 de janeiro de 1961, o esforço da gente capixaba se viu recompensado com a assinatura aposta pelo presidente Juscelino Kubitschek ao documento de criava a nossa Universidade Federal pública.

Recordo, em síntese, esses fatos, pois, como aluna, participei na FAFI, quando se sonhava pela edificação da cidade universitária na área de Maruípe, de assembleias de reivindicação para a instalação da Universidade no espaço assinalado, que era ocupado pela Faculdade de Engenharia, e, em parte, tomado por famílias, dado o abandono da instalação. Também, compartilhei de assembleias estudantis que lutavam pelo reconhecimento da Universidade. Já como professora me envolvi no processo de transferência da antiga FAFI, que da Av. Jerônimo Monteiro, no centro de Vitória, mudou para as instalações do Campus de Goiabeiras, Av. Fernando Ferrari.

Neste mais de meio século de existência, a UFES passou por fases críticas que puseram à prova a sua vitalidade, mas ela não deixou de crescer, tanto em número de alunos, quanto em seu corpo docente, na produção científica, e no seu aspecto físico, representado por sua beleza natural, e por suas instalações, vão acontecendo, apesar dos entraves políticos e econômicos pelos quais passa todo o ensino público do país, e na produção de ideias. Presenciei, vi e senti, porque aqui estive, nesse Campus de Goiabeiras, desde o estabelecimento do primeiro prédio e dos outros que foram se agregando. São tantos que hoje me perco nas quantidades. Dificuldades físicas a UFES enfrentou nesse Campus. Contratempos houve, tanto dos professores e funcionários como dos alunos, quando aqui chegamos na década de 70. A lama dos caminhos, o escasso transporte, a falta de iluminação, tudo isso eram transtornos e reveses, mas entre todos os seus docentes, estudantes e funcionários uma esperançosa alegria de melhorias existiu sempre, e fez com que não se desistisse.

O mural produzido por Rafael Samú marca o primeiro edifício de apoio logístico, depois, houve a criação dos Cemunis (os quatro edifícios) e a criação dos ICs e muitos outros edifícios surgiram. Do Cemuni IV o Curso de Letras passou para o ICIII e nós professores e alunos sofremos com a lama, a falta de iluminação, a falta de abrigo e passarelas. Havia na entrada do ICII até visitantes aquáticos, peixes e cobras, e padecíamos com o estardalhaço do "bate estaca". Como o barulho nos perturbava durante as aulas! Mas, como cresceu a UFES em extensão física, edificações e cursos!

Quantos jovens pelo Campus de Goiabeiras passaram!! Quantos aqui estudaram e atuam com competência no país e no exterior! E a UFES foi-se interiorizando. Primeiro no projeto CRUTAC em que os nossos alunos iam para outros municípios e Estado e, depois, para os Campus de Alegre e São Mateus. Esse crescimento da UFES é meu orgulho de ainda nela atuar e orgulho também de ter feito meu curso de Neolatinas nessa instituição que me proporcionou um leque de conhecimento e o estímulo necessário para continuar a aprender.

Quando comecei os meus estudos, na segunda turma do curso de Bacharel em Letras Neolatinas, na FAFI, em 1955, reconhecido em 1956, as aulas eram noturnas e no antigo Colégio Normal Pedro II. No exame vestibular de português, o examinador era o Professor José Leão Nunes e dele constava uma redação e análise sintática de um canto de "Os Lusíadas" O de inglês era oral e a examinadora era a professora Zeli de Paula. No exame de francês, o examinador era o Professor Décio Cunha Neves, e constava de um ditado e um trecho para traduzir. No exame de latim devíamos fazer uma tradução de um discurso de "As Catilinárias" de Cícero. O examinador era o Professor Francisco Generoso. Tive professores inesquecíveis durante o meu curso de Bacharelado em Letras Neolatinas, de 1955 a 1959, nas diversas disciplinas, além dos já citados, estavam Wilson Aragão, de Filologia; Geraldo Costa Alves, de Latim; Guilherme Santos Neves, de Literatura Portuguesa; Clóvis Rabelo, de Literatura Brasileira; Padre Mateus Pianizza e Padre Virgilio Steffenini, de Língua e Literatura Italiana, Iracema Bogea e Maria Rachel Abreu Lima e Pereira, de Língua e Literatura Espanhola. Terminado o Bacharelado, professores, diretores e alunos moveram céus e terra para a criação do curso de Licenciatura e, em 1959, houve a formatura da primeira turma. Foram esses professores os baluartes do ensino de Letras da UFES. Assim honra e glória à UFES que tem um lema igualitário: Docete omne gentes.

 

Fonte: UFES: 65 anos – Escritos de Vitória, 33 – Secretaria de Cultura da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), 2019

Conselho Editorial: Adilson Vilaça, Ester Abreu Vieira de Oliveira, Francisco Aurélio Ribeiro, Elizete Terezinha Caser Rocha, Getúlio Marcos Pereira Neves

Organização e Revisão: Francisco Aurélio Ribeiro

Capa e Editoração: Douglas Ramalho

Impressão: Gráfica e Editora Formar

Foto Capa: David Protti

Foto contracapa: Acervo UFES

Imagens: Arquivos pessoais

Autora: ESTER ABREU VIEIRA DE OLIVEIRA

Professora Emérita da Ufes , membro do IHGEL, da AEL, da AFEL e da APEES.

Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2020

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