Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

Um capitão-mor operoso – Antônio Luis Gonçalves da Câmara Coutinho

Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho

A essa altura, Antônio Gonçalves da Câmara Coutinho já se havia emancipado, pois, com data de 1667, encontramos a patente de provisão de Antônio Mendes de Figueiredo no posto de capitão-mor do Espírito Santo – nomeação feita por proposta daquele, segundo consta do instrumento que se lavrou.(7)

Durante a administração desse Antônio Mendes, Vitória foi abalada por um “sucesso dos Religiosos de São Francisco”. De que natureza, não se conseguiu apurar, mas, da Bahia, o governador geral tomou providências junto ao comissário da Ordem para que “mandasse remediar o escandalo que causaram”, embora se presumisse que, na capitania, os do mosteiro tivessem “remediado tudo como convinha”.(8)

Os documentos permitem que se considere Mendes de Figueiredo um governante operoso e estimado dos seus jurisdicionados.(9)

Pelo menos, durante sua gestão, o Espírito Santo conseguiu remeter para a Bahia “parte do donativo, do Dote e paz”,(10) o que encorajou os sequiosos senhores do governo geral a expedirem provisão mandando cobrar os atrasados.(11)

 

NOTAS

(7) - DH, XXIII, 87-90.

– Antônio Gonçalves da Câmara Coutinho é o mesmo Antônio Luís Coutinho da Câmara a que nos referimos na foot-note n.º 9, do capítulo IX. Passou à História, como 28º governador geral do Brasil, com o nome de Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho. É curioso assinalar que o autor da História Genealógica da Casa Real Portuguesa o registrou, como, aliás, a toda a sua família, com o nome de Câmera.

Há grande discrepância, entre os autores que nos precederam, quando se trata de estabelecer a linha dos donatários do Espírito Santo. Veja-se, por exemplo, o trecho da História Genealógica da Casa Real Portuguesa relativo a D. Filipa de Menezes e mais o que contém, sobre o assunto, no Inventário organizado por Eduardo de Castro e Almeida.

Diz a primeira das obras citadas: “D. Filipa de Menezes, filha do aposentador-môr Lourenço de Sousa da Sylva, e de sua mulher D. Luiza de Menezes, como em seu lugar se disse. Casou duas vezes, a primeira com Ambrósio de Aguiar Coutinho e Camera, Senhor da Capitania do Espirito Santo no Brasil, e foy sua segunda mulher, a qual por sua morte casou com Francisco de Faria, almotacé-môr do Reyno, de quem não teve sucessão; e de seu primeiro marido teve Antonio Luiz Coutinho Da Camera nasceo no anno de 1638, que foy unico, e succedeo na Casa, e Morgado de seu pay e na Capitania do Espirito Santo, que vendeo à Coroa. Foy Almotacé-môr do Reyno por renuncia, que com merce delRey fez nelle seo padrasto, e parente Francisco de Faria, Commendador de S. Miguel de Bobadella na Ordem de Christo; servio de Aposentador-môr por seu primo o conde de Santiago; servio nas Armadas, foy Capitão de Mar, e Guerra, Governador de Pernambuco, Capitão General do Estado do Brasil, e ultimamente Vice-Rey da India, para onde partio em vinte e oito de Março de 1698. Todos esses lugares administrou com grande justiça, inteireza e notavel desinteresse, virtude, que praticou toda a sua vida, que acabou, vindo da India, mais cortado das semrazoens, com que offenderão o seu brio, e pundonor, que sempre conservou illeso, do que por effeito dos annos, e dos achaques; morreo no anno de 1702 tão cheyo de merecimentos, como de desgostos. Casou em Janeiro de 1674 com D. Constança de Portugal, que morreo em o anno de 1678, filha de Luiz da Silva Tello II Conde de Aveiras, e da condessa D. Maria de Portugal sua primeira mulher, filha do I Marquez de Cascaes, de quem teve João Gonçalves da Camera Coutinho Almotacé-môr” (CAETANO DE SOUSA, Hist. Genealógica, X, 603-4).

Diz o Inventário: “Consultas [2] do Conselho Ultramarino, sobre a competência dos donatários para nomearem os capitães-mores das suas Capitanias e sobre a nomeação que fizera D. Filipa de Menezes, viúva de Ambrósio de Aguiar Coutinho, como tutora de seu filho Antônio Luiz Coutinho, donatário da Capitania do Espírito Santo. Lisboa, dezesseis de outubro e vinte e seis de novembro de 1648” (ALMEIDA, op. cit., VI, 71).

– Relativamente ao verbete transcrito em primeiro lugar, ocorre observar que Coutinho vendeu a capitania a Francisco Gil de Araújo e não à Coroa, como escreveu D. ANTÔNIO CAETANO DE SOUSA. A respeito da simplificação do nome do pupilo de Filipa de Menezes, verificada no mesmo trecho, cabe reparar que, logo em seguida, se fala de um “Requerimento de D. Filipa de Menezes, no qual pede, como tutora de seu filho Antônio Luís Coutinho da Câmara” (ALMEIDA, Inventário, VI, 72). Um documento esclarece sobre a paternidade, o outro completa o nome. De tudo se infere que, menor e tutelado por sua mãe em 1664 (ver foot-note n.º 9, do capítulo IX), Antônio Luís Coutinho da Câmara é o mesmo que, em 1667, aparece com o nome de Antônio Gonçalves da Câmara Coutinho. Vê-lo-emos, dentro em pouco, figurar com o apelido histórico, quando estudarmos a cessão da capitania a Francisco Gil de Araújo. Aliás, já em 1671, aparece, na “Carta Patente de José Gonçalves de Oliveira por que Sua Alteza o proveu no cargo de Capitão da Capitania do Espírito Santo”, o nome oficial: Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho (DH, XXV, 93).

Dos autores consultados, só AMÂNCIO PEREIRA segue a linha de sucessão que parece correta e adotamos (Homens e Cousas do Espírito Santo, 9).

– E se ainda pairassem dúvidas ... aqui vai a introdução da carta de confirmação de doação da capitania, passada em Lisboa aos quatro de abril de 1667: “Dom Afonso por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém-mar em África, Senhor de Guiné e da conquista, navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia, etc. Faço saber aos que esta minha carta de confirmação por sucessão virem que por parte de Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho, fidalgo de minha Casa, filho legítimo e único que ficou por falecimento de Ambrósio de Aguiar Coutinho, que Deus perdoe, me foi apresentada uma carta de El-Rei de Castela por ele assinada e passada pela câmara digo pela chancelaria da qual o treslado é o seguinte: Dom Filipe por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém-mar em África, Senhor de Guiné e da conquista, navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia, etc. Faço saber aos que esta minha carta de confirmação por sucessão virem que por parte de Ambrósio de Aguiar Coutinho, filho mais velho de Antônio Gonçalves da Câmara, fidalgo de minha Casa e de dona Maria de Castro, sua mulher, me foi apresentada uma carta de El-Rei, meu senhor e pai, que santa glória haja, por ele assinada e passada pela chancelaria por que Francisco de Aguiar Coutinho, seu tio, irmão da dita dona Maria de Castro, sua mãe, teve e possuiu a capitania do Espírito Santo nas partes do Brasil, pela maneira...” (DH, LXXIX, 93).

– São da História Genealógica retrocitada (vol. VI) os seguintes esclarecimentos: o Ambrósio de Aguiar Coutinho, que se casou com D. Filipa de Menezes, era filho de Antônio Gonçalves da Câmara e de D. Maria de Castro. Esta, por sua vez, era filha herdeira de outro Ambrósio de Aguiar Coutinho. A nosso ver, a confusão que reinava entre os historiadores capixabas, a propósito da linha dos donatários, vinha da circunstância de terem existido dois indivíduos chamados Antônio Gonçalves da Câmara e dois outros Ambrósio de Aguiar Coutinho.

– Câmara Coutinho tomou posse do governo geral do Brasil em dez de outubro de 1690, transferido de Pernambuco, “onde mandava”, segundo a expressão de PORTO SEGURO (HG, III, 323). Zelou carinhosamente pelo desenvolvimento da colônia luso-brasileira, que governou até vinte e dois de maio de 1694. Contemporâneo de Gregório de Matos, foi objeto de crítica de várias das suas composições poéticas. Faleceu na Bahia, em 1701, quando regressava da Índia (VARNHAGEN, HG, III, 325). ACIOLI diz que Câmara Coutinho faleceu em 1702, “sendo sepultado na igreja do Colégio” (Memórias Históricas, II, 142).

(8) - DH, VI, 113.

(9) - Dirigindo-se aos “officiaes da Camara da Capitania do Espirito Santo”, a doze de setembro de 1671, o governador geral, Afonso Furtado de Castro do Rio de Mendonça (sic), dizia: “Ainda que tive muitas honradas informações do bom procedimento que nessa Capitania teve o Capitão-mor Antônio Mendes de Figueiredo” (DH, VI, 185).

(10) - DH, VI, 113.

(11) - DH, VI, 168.

 

Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, julho/2017

História do ES

 Thomas Cavendish

Thomas Cavendish

O ano era 1592. Vasco Fernandes Coutinho Filho havia morrido há três anos e deixado a administração da Capitania do Espírito Santo nas mãos de sua mulher, Luísa Grinalda 

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

O Espírito Santo na 1ª História do Brasil

Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576

Ver Artigo
O Espírito Santo no Romance Brasileiro

A obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro

Ver Artigo
Primeiros sacrifícios do donatário: a venda das propriedades – Vasco Coutinho

Para prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda

Ver Artigo
Vitória recebe a República sem manifestação e Cachoeiro comemora

No final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações

Ver Artigo
A Vila de Alenquer e a História do ES - Por João Eurípedes Franklin Leal

O nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto... 

Ver Artigo