Um Estado virtual
Udelino Alves de Matos, retirante do sul da Bahia, chegou ao povoado de Cotaxé, em Ecoporanga, aproximadamente em 1940. Como milhares de outros lavradores, transformou-se em posseiro de terra. Movido, porém, pelo senso de justiça e pelo senso de oportunidade, acabou assumindo o papel de líder dos camponeses pobres na luta contra os ricos fazendeiros e seus pistoleiros.
Para corrigir distorções nas questões de posse de terras, o baiano Udelino organizou os lavradores em um movimento que misturou a questão fundiária com a pregação religiosa. Com discursos fundamentados na Bíblia, Udelino prometia conquistar terras, criar uma sociedade mais fraterna, justa e muito religiosa, um verdadeiro paraíso.
Mas o líder os agricultores foi além. Sugeriu que se criasse o Estado União de Jeová. Nesse novo estado, a população seria formada somente por lavradores. Com esse objetivo em mente, um abaixo-assinado foi elaborado e o próprio Udelino, em 1952, protocolou o documento, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. A petição estava dirigida a Getúlio Vargas, o "Pai dos Pobres", que governava o país naquele momento.
Sem esperar a resposta do abaixo-assinado, os jeovenses - cerca de 850 posseiros - começaram a organizar o "novo Estado". Uma bandeira foi confeccionada: era verde com uma faixa branca diagonal. Um hino foi composto, exaltando a construção de "um mundo novo, de paz, amor, liberdade, onde vivia feliz o povo, igual na felicidade, tendo oficinas e escolas, onde ninguém peça esmolas, nem sofra necessidades".
O distrito de Cotaxé foi escolhido para ser a capital provisória do virtual Estado. Lá, protegida por trincheiras, foi erguida a Casa de Tábuas como sede do governo. Deste "rancho", verdadeiro quartel-general, Udelino começou a despachar. Por meio de bilhetes, fazendeiros foram ameaçados de morte e intimados a abandonarem o território de União de Jeová.
O discurso de Udelino estava transformando a região em uma Nova Canudos, despertando o ódio dos fazendeiros e chamando a atenção das autoridades.
Em 1953, o governador do ES, Jones dos Santos Neves mobilizou as tropas da Polícia Militar e despachou-as para a região. O "exército" jeovense foi acuado por uma ação conjunta das forças policiais de Minas Gerais e Espírito Santo. A batalha dos jeovenses foi perdida: O Estado União de Jeová foi destruído, antes mesmo de entrar no mapa. Udelino passou a viver foragido da polícia e nunca mais se ouviu falar dele.
Fonte: História do Espírito Santo - Uma abordagem didática e atualizada 1535 - 2002
Autor: José P. Schayder
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2010
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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