Capixabas x Argentinos
De Vasco Fernandes Coutinho muito pouco se sabe. Sabe-se, por exemplo, que recebeu em doação, a 01.VI.1534, 50 léguas na costa do Brasil e que aqui chegou a 23.V.1535. Já de sua esposa, concubinas e descendência, o pouco que se sabe permanece envolto nas brumas misteriosas do tempo.
Felgueiras Gayo (1750-1831) (Felgueiras Gayo, Manuel José da Costa. Nobiliário das famílias de Portugal), cita sua ascendência, seu casamento e sua descendência legítima e apenas um bastardo (Vasco Fernandes Coutinho), sem, no entanto, indicar quem seria a mãe. Consta do testamento desse segundo Vasco (Oliveira, José Teixeira de. História do Estado do Espírito Santo), datado de 05.VIII.1588, o nome de Ana Vaz, como sendo sua mãe, para a qual destina uma tença, após sua morte. Salvador (Salvador, José Gonçalves. A Capitania do Espírito Santo e seus engenhos de açúcar (1535-1700)) confirma esse nome, acrescentando "de Almada" ao mesmo, além de lhe atribuir mais uma filha (a seguir, veremos que não se confirma essa hipótese), Maria de Melo Coutinho, que viria a ser esposa de Marcos de Azeredo.
Essa pequena introdução vem apenas recordar o que a historiografia capixaba sabe a respeito, uma vez que pesquisas genealógicas realizadas nos últimos anos, apesar de não ser em terras capixabas, vem lançar novas luzes sobre a descendência do primeiro donatário da capitania do Espírito Santo.
A Genealogia é uma das ciências auxiliares da História. Quando levada a sério, sem o intuito de, simplesmente, encontrar um ancestral nobre, pode revelar dados históricos antes não percebidos, que, às vezes, podem tornar-se surpreendentes.
Um estudo sobre a Genealogia de um dos próceres argentinos, levado a público em 1995, por González Bonorino (González Bonorino, Jorge F. Lima. Don Juan de Melo Coutinho y Da. Juana Holguin de Ulloa. In: Boletin 191, do Instituto Argentino de Ciências Genealógicas, pgs, 40 a 46.), membro do Instituto Argentino de Ciências Genealógicas, nos remete ao Espírito Santo, ao observarmos o contrato de casamento acertado a 07.V.1590 (Carte de Dote - Arquivo Nacional da Bolívia. Escritura n. 41.), em La Plata, entre Juana Holguin de Ulloa (neta de um dos conquistadores do Alto Peru (Bolívia) Pedro Alvarez Holguin e Beatriz Tupac Yupangui, princesa inca, sobrinha de Atahualpa, décimo terceiro Inca (Cunha Bueno, Antonio Henrique, e Barata, Carlos de Almeida. Dicionário das famílias brasileiras, em CD.) ) e João de Melo Coutinho.
João de Melo Coutinho nasceu em Vitória, entre 1565 e 1570, e seria filho de Catarina de Melo e Manoel Fernandes, e neto materno de Vasco Fernandes Coutinho e Ana Vaz Almada.
Seria, também, irmão de Maria de Melo Coutinho, acima citada, casada com Marcos de Azeredo (esse consórcio originou os Azeredo Coutinho, com descendência até nossos dias).
Segundo González Bonorino, João de Melo Coutinho teria acompanhado sua tia Yamar (Guiomar ?) de Melo (outra filha de Vasco Fernandes Coutinho, pai), que era casada com Ruano Tellez, fiscal da Real Audiência de Charcas, em La Plata. Teria esse Ruano Tellez partido das Ilhas Canárias em 1581, para assumir seu cargo de fiscal, e passado por Vitória, onde acabaria de casando com Yamar de Melo. Sabe-se que já estava no efetivo exercício do cargo em 1583, em Charcas.
João passa sua juventude em La Plata, onde acaba se casando em 1590, com Juana Holguin de Ulloa. Nessa cidade teria tido uma filha natural, Isabel de Melo Coutinho, que, de seus dois casamentos, deixou numerosa descendência.
O casamento com Juana Holguin de Ulloa deu-lhe outros dois filhos:
1. Ana de Melo Coutinho, nascida em Buenos Aires, c. de 1591, casada duas vezes: a primeira, com Juan Diaz de Ojeda, a 05.VI.1605 (Carta de Dote (Arquivo Geral Nacional, Sala IX, 48-1-3, Fs.232) (Para casar com Juan Diaz de Ojeda – 16.V.1611) – Outorgada por Juana Holguin de Ulloa e seu segundo marido: (Detalhe) - .....cento e cinqüenta arrobas de açúcar que deve Marcos de Azeredo a minha esposa, ...... e o dito Marcos de Azeredo é morador do Espírito Santo, costa do Brasil.), em Buenos Aires, sem descendência, e, a segunda, com Antonio Hurtado de Melo, a 22.VIII.1611, com descendência (Ana faleceu depois de março de 1638 (Testamento (Arquivo Geral Nacional, Sala IX, 48-4-1, Fs.189) – (Detalhe) – Em Buenos Aires, 10.III.1638: "Declaro que o licenciado Ruano Tello, fiscal que foi da Real Audiência de La Plata, foi casado com Yamar de Melo, tia de meu pai João de Melo ......" - "Declaro que o dito meu pai (quando de casou com a dita minha mãe), lhe devia, na capitania do Espírito Santo, o capitão Azeredo, que o era na dita capitania, que é nos estados do Brasil, e que estava casado com a irmã do dito meu pai, seiscentas arrobas de açúcar e destas me deu em dote a dita minha mãe quando me casou com o primeiro marido trezentas arrobas, e que não foram cobradas até agora. Que se cobre tudo agora e herdem meu filho e minhas filhas em partes iguais."), (entre seus descendentes está a esposa do príncipe herdeiro da Holanda, Máxima Zorreguieta Cerruti (Lux-Wurm, Hernán Carlos. Ascendência de Da. Máxima Zorreguieta, Princesa de la Corona de los Países Bajos. 2002.) - Décima-Segunda avó), e,
2. Francisco de Melo Coutinho, nascido em Buenos Aires, c. de 1593, casado com Juana Gómez de Saravia, a 24.XI.1611, deixando numerosíssima descendência (Máxima Zorreguieta Cerruti também se encontra entre seus descendentes – Décimo-segundo avô).
Sua estada em Buenos Aires é novamente comprovada em 1594, pois em uma planta da cidade, desse ano, aparece seu nome como dono de um dos solares ali existentes.
João de Melo Coutinho faleceu em 1601, vitimado em um duelo, no qual se bateu contra Jácome Ferrufino.
Os primeiros tempos da colonização do solo sul americano continuam envoltos em mistérios, alguns dos quais nunca serão totalmente esclarecidos. Apenas hipóteses serão levantadas, mas nunca comprovadas. A Carta de Dote de Juana Holguin de Ulloa não deixa dúvidas quanto à filiação de João de Melo Coutinho, segundo os pesquisadores que a ela tiveram acesso. A Carta de Dote e o Testamento de sua filha Ana de Melo Coutinho confirmam outros dados genealógicos.
No Brasil, o Dr. Gilson Nazareth (O imaginário fidalgo de uma sociedade burguesa – 1998 – UFRJ – INÉDITA) tratou do assunto em sua tese de doutoramento, em 1998. No Espírito Santo, ao que me consta, nada se sabia. Em Buenos Aires, sob os auspícios do Instituto Argentino de Ciências Genealógicas, várias tem sido as pesquisas e artigos publicados, em seus boletins. Espero que essa divulgação possa vir a ser o início de uma série de outras pesquisas, que visem a aclarar o passado distante dos primórdios da nossa (permitam-me assim dizer, apesar de não ser capixaba de nascimento) antiga capitania, ainda tão obscuro, tão pouco pesquisado, tão carente de esclarecimentos.
De resto, apenas que não poderemos mais execrar os vizinhos argentinos: segundo as pesquisas dos principais genealogistas platinos, não existe, hoje, na Argentina, nacionais de origem criolla (diz-se do espanhol radicado definitivamente na América. Passaram a compor a elite local, apesar de não exercerem o poder, de fato, entregue este que era, aos representantes da Coroa espanhola, que retornavam à Corte, após o término de seus mandatos) que não sejam descendentes de João de Melo Coutinho, ou seja, são todos descendentes de um capixaba...
Fonte: Tópicos de genealogia capixaba, 2012
Autor: Paulo Stuck Moraes
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