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O povoamento de Cachoeiro

Ruínas do Palácio das Águias, em Cachoeiro de Itapemirim, que hospedou Dom Pedro II - Foto: CBH Rio Itapemirim

A ocupação da Bacia do Rio Itapemirim é repleta de fatos históricos de importância, com destaque para o embate entre os índios e os portugueses, sendo que estes últimos se lançaram à corrida do ouro, encontrado em minas de Castelo.

A atual região onde está o município já foi, inclusive, uma frente aurífera resguardada pelo governo imperial. Tal fato promoveu a primeira ocupação efetiva do solo pelos mineradores portugueses.

Historiadores dão conta que a Gruta do Limoeiro, ponto de beleza natural, serviu de cenário de uma sangrenta batalha entre índios e os colonizadores, o que culminou com a expulsão dos portugueses que, escorraçados, passaram a colonizar a região de Marataízes, propriamente onde hoje é a Barra de Itapemirim (antigo Caxangá).

Contudo, após a independência do Brasil de Portugal, o próprio governo imperial passou a incrementar o povoamento, justificando, dessa forma, a utilização de mão-de-obra indígena nas lavouras e a consequente formação do aldeamento dos missionários da ordem dos Afonsinhos, onde é hoje o município de Conceição do Castelo.

Apesar da ocupação ibérica ter tido início no século XVI, quando da expansão da cana-de-açúcar como atividade econômica produtiva exclusiva da colônia, o acesso à região era difícil, com seus vales em garganta e, ainda, coberta de florestas fechadas, o que contribuiu para que ela ficasse desconhecida e de posse dos nativos.

A partir da segunda metade do século XIX, a ocupação territorial foi dinamizada com a introdução da cafeicultura. Isso se deu pela migração de produtores do Vale do Rio Paraíba do Sul e da região sul de Minas Gerais.

Tanto no ciclo da cana, como nesse período inicial da economia cafeeira, a ocupação foi baseada no modelo de latifúndio, com monocultura e mão-de-obra escrava.

No final do século XIX inicia-se o processo de imigração européia (predomínio de italianos), consolidando a colonização do território capixaba por volta de 1940.

As pastagens foram ocupando espaço na bacia como sucessão das lavouras de café, acompanhando, por um lado, os ciclos de expansão e retração da cafeicultua, conforme as mudanças no mercado internacional e nas políticas agrícolas.

Berço de gente famosa

A Bacia do Rio Itapemirim também é berço de personalidades de destaque em todo o país, como o cantor Roberto Carlos, o escritor Rubem Braga, o ator Jece Valadão e o produtor cultural Carlos Imperial, dentre muitos outros filhos famosos.

A cidade de Cachoeiro de Itapemirim é o principal centro econômico do sul do Estado. É conhecida como "A capital secreta do mundo", expressão que remete ao período que exerceu hegemonia no Espírito Santo.

Cachoeiro também acolhe a única fábrica de pios de ave da América do Sul, a Fábrica de Pios Maurílio Coelho, com mais de 100 anos de existência. Os pios são feitos em madeiras nobres provenientes de raízes de árvores extraídas no passado.

Porto de entrada para imigrantes

O Porto da Barra do Itapemirim foi a principal entrada de imigrantes portugueses, italianos, franceses, libaneses e holandeses que se instalaram e colonizaram o Sul do Espírito Santo, entre 1876 e 1930.

Foi também o principal escoadouro de produtos agrícolas, madeiras e minerais trazidos por tropeiros até o litoral, oriundos do interior e de Minas Gerais, e levados para a Corte no Rio de Janeiro e na Bahia, no período imperial.

O patrimônio arquitetônico remanescente da segunda metade do século XIX e início do século XX está presente no que ainda resta das ruínas do Trapiche, espécie de armazém; casarão Palácio das Águias, também conhecido como o casarão dos Soares; Igreja Nossa Senhora dos Navegantes e prédios das Oficinas da Estrada de Ferro Itapemirim.

O Palácio das Águias, inclusive, hospedou o imperador D. Pedro II. Da época do Império, ele atualmente corre o risco de ruir, tal o estado de abandono.

Linha do Tempo

1503 - O navegador português Gonçalo Coelho visita a costa capixaba, chegando a foz do rio Itapemirim em 1° de julho de 1503.

1556 - Pero de Magalhães de Gándova publica, em Lisboa, a obra "História da Província de Santa Cruz", que relata a descoberta do rio Itapemirim por Gonçalo Coelho. Fernão Cardim ratifica e registra a obra, incluindo também a descoberta do manate (peixe-boi), que foi descoberto pelos índios puris e goytacazes e era encontrado em grande quantidade no rio.

1560 - O padre José de Anchieta, também em Carta Provincial Geral, faz referência ao manate e ao grande Iguaraguã (nome dado ao rio Itapemirim pelos índios).

1771 - A Barra do Itapemirim, em Marataízes, é um antigo núcleo de povoação fundado pelos portugueses que exploravam as minas de Castelo, no alto Itapemirim, quando de uma fuga de um ataque de índios puris.

1812 - Surgimento da Vila de Itapemirim. O capitão Henrique Deslandes cria a primeira linha de navegação fluvial.

1815 - Constituição do Quartel da Barca, às margens do rio Itapemirim (hoje bairro Baiminas, em Cachoeira), no seu último trecho navegável, objetivando dar proteção aos garimpeiros e comerciantes que subiam com mercadorias e desciam com ouro nas tropas e seguiam de barco até a foz.

1840 - Surgimento da cafeicultura, dos armazéns, das vilas e fazendas ao longo do Itapemirim.

1850 - Vale do Itapemirim vira um importante pólo econômico, exercendo hegemonia inclusive sobre a região de Vitória, sendo o café a principal atividade.

1872 - Para se ter uma idéia da hegemonia da região, nessa data 72%  dos trabalhadores do campo no Espírito Santo eram escravos, sendo que 64% deles estavam na Bacia do Rio Itapemirim.

1887 - Inauguração da Estrada de Ferro Caravelas, que possuía 50 Km e ligava Cachoeiro ao distrito de Rive (hoje Alegre). Havia um ramal de 21 Km fazendo transposição para Castelo.

1890 - Cerca de 49% da população capixaba se concentrava na Bacia do Rio Itapemirim, o que correspondia a 135.997 habitantes.

1903 a 1908 - Surge os trilhos da Leopoldina Railway Company (Inglesa), que seguia a rota do café da capital Rio de Janeiro até Cachoeiro. Nos pontos de parada da ferrovia surgem vilas e cidades, como Muqui, Atílio Vivácqua, entre outras.

1925 - Surge o bonde em Cachoeiro.

1928 - Foi construída a Estrada de Ferro para Itapemirim, com objetivo de escoar também o açúcar para o Rio de Janeiro.

1960 - A Estrada de Ferro de Itapemirim é desativada.

Fonte da Linha do Tempo: Comitê da Bacia Hidrográfica (CBH) do Rio Itapemirim

Barão e colônia de escravos no Itapemirim

A história da Bacia do Rio Itapemirim (BRI) também registra a riqueza de homens como Joaquim Marcelino da Silva Lima, o Barão de Itapemirim, que foi a figura principal do Sul do Estado no século XIX, com suas fazendas de produção de açúcar e aguardente.

Grandes latifundiários dominavam a região de Itapemirim. Da Vila, estendiam sua soberania até Cachoeiro. De um lado do rio existiam 20 fazendas de açúcar, em sua maioria desenvolvidas a vapor. Essas fazendas abasteciam de aguardente e açúcar toda a província e exportavam ainda, em grande quantidade, para o Rio de Janeiro.

"Estava na bacia a maior colônia de escravos do Estado. Até hoje há vestígios desse período, como a comunidade de Monte Alegre, em Cachoeiro, onde vivem remanescentes de quilombolas", conta a socióloga Dalva Ringuier.

Outro grande incentivador do progresso ao longo da bacia foi o capitão paranaense Henrique Deslandes, que recebeu do governo imperial a concessão a vapor do rio Itapemirim.

Mais tarde, o ramal de extensão da Rede Ferroviária Leopoldina, implantado em 1912, para o escoamento da produção cafeeira, fez surgir várias cidades ao longo das suas paradas.

 

Fonte: A Tribuna, Suplemento Especial Navegando os Rios Capixabas – Rio Itapemirim - 23 de setembro de 2007
Expediente: Joel Soprani
Subeditor: Gleberson Nascimento
Colaborador de texto: Flávia Martins
Diagramação: Carlos Marciel Pinheiro
Edição de fotografia: Sérgio Venturin
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2016

Cidades do ES

Itaúnas - Por Adelpho Monjardim

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Situada na embocadura de importante rio, na orla marítima, possuidora de magnífico e extenso litoral, cedo desenvolveu-se, tornando-se próspera povoação, com intenso comércio com a Bahia

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