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A Capitania da Paraíba do Sul e o Convento da Penha (1698)

Convento da Penha, visto do Morro do Marista - 2015

Entre o acervo de documentos arrancados aos arquivos pela paciência e pelo patriotismo de Alberto Lamego, documentos inéditos e que só vieram a público em sua maravilhosa obra "A TERRA GOITACÁ", brinda-nos aquele emérito historiador com um da mais alta relevância para o desenvolvimento de nossa obra, pois que nele se comprova, embora através de uma queixa e de um testemunho, a existência e a importância do Convento da Penha em 1698.

O nosso objetivo — o de focalizar a antigüidade de um Convento que se mantém até hoje abrigando uma santa reverenciada por todos, no mesmo local em que se encontra desde o século em que Pedro Alvares Cabral aportou ao Brasil, com uma seqüência histórica e religiosa ininterrupta e das mais brilhantes, encontra, no documento publicado por Alberto Lamego, mais uma confirmação irretorquível em favor da história do tradicional templo que tem atraído ao seu recinto desde as figuras mais representativas da Pátria e de fora, até os mais simples representantes do próprio povo.

Trata-se de uma carta de Fernando da Gama, datada de 29 de dezembro de 1698.

A 1° de abril de 1697, o Provincial da Ordem de S. Antônio do Rio de Janeiro, à qual estava subordinado a Aldeia de Santo Antônio de Guarulhos, em Campos, ali fundada desde 1659, pedia ajuda a El-Rei para a citada aldeia. Para se apurar a procedência da necessidade alegada, foi ouvido o governador do Rio de Janeiro, Artur de Sá e Meneses. Estando, na ocasião, no Rio de Janeiro, Fernando da Gama que havia sido capitão-mor da terra goitacá sobre a precariedade da aldeia de Guarulhos, informou o mesmo ser procedente o estado de pobreza que a atingia, alegando que "se passam bem não é sempre, porque naqueles Campos a maior parte das esmolas que ali se dá é para o Convento de N. S. da Penha na capitania do Espírito Santo a quem eu dou 30 bois, todos os anos por ordinária que lhe dá a Casa do Sr. Salvador Correia.. ."

Eis a preciosa carta de Fernando da Gama:

"Senhor General, Meu Senhor.

A petição de Fr. Cristóvão da Madre de Deus, feita a S. M. que Deus Guarde li, como também a dos padres assistentes na aldeia de S. Antônio da Paraíba em que narram a sua miséria e pobreza e em que pedem a S. M., uma ordinária como esmola e como V. S. fia da minha consciência, a verdade pura que lhe devo, pura e verdadeiramente, conforme a minha inteligência, defiro a V. S. a minha informação, como quem lá esteve e conhece tudo que há nesta matéria.

Nos primeiros de abril do presente ano de 98, vim da Paraíba e deixei naquela aldeia o superior dela Fr. Francisco da Encarnação, homem de idade e de muita virtude e o seu companheiro Fr. Gonçalo, frade moço, de bom procedimento, ambos confessores e muito assistentes ao bem espiritual daquele povo, como vi e experimentei, pois atualmente, um ou outro me vinha assistir à fazenda do Visconde de Asseca, meu senhor, a administrar os sacramentos de que necessitávamos, sem nota de omissão ou escândalo. A mesma caridade usam com os demais moradores, ficando sempre um na aldeia pregando a boa doutrina aos índios.

Outrossim me consta que, largando o P. Matias Texeira de Mendonça a vigaria de S. João da Praia, abandonando os seus fregueses no princípio da quaresma para se fazer frade de N. S. do Carmo, foram esses mesmos religiosos assistir à dita vila, desobrigando os seus moradores, dizendo-lhes missas, com riscos de suas vidas, pelo muito que tem o rio da Paraíba, 8 ou 10 léguas abaixo. Estes religiosos sustentam a si e a todos aqueles rapazes crioulos que vão domando e instruindo no serviço daquela Igreja e a todos os enfermos da aldeia.

Item, atualmente estão agasalhando a todos os religiosos que vão e vêm da Capitania do Espírito Santo para esta cidade e nas mudanças do Capítulo e Congregações, que são muito como frades.

Item, aos Provinciais e Visitadores que vão e vêm nas visitas gerais, também agasalham e como na sua pobreza não são avaros, como pobres socorrem a todos que ali há. Este convento e aldeia não tem mais renda que alguma mandioca que cultivam com alguns índios mais domésticos e muitas vezes a compram com o seu dinheiro, e o peixe que com alguma abundância vão pescar longe, em certas lagoas, que salgam para algum provimento e algumas esmolas que se lhes fazem por conveniência de seus préstimos, como a fazenda do Sr. Visconde de Asseca que lhes manda 4 reses, cada ano para as 4 festas e alguns quartos de carne em certas ocasiões necessárias e alguns legumes ou 4 queijos, quando os há, e algumas vezes lhe cheguei a faltar por algum arrufo que tive com eles.

Se passam bem não é sempre, porque naqueles Campos a maior parte das esmolas que ali se dá é para o Convento de N. S. da Penha na capitania do Espírito Santo a quem eu dou 30 bois, todos os anos por ordinária que lhe dá a Casa do Sr. Salvador Correia que Deus tem e 10 a este Convento do Rio de Janeiro e as esmolas que lá lhes dão nunca podem suprir os gastos com o culto divino e é bem notória a pobreza dos religiosos franciscanos e mui principalmente, os que estão nesse convento porque não tem ordinária alguma a não ser as esmolas voluntárias que lhe dão. Pelo que acho em minha consciência que com justa causa recorrem a piedade de S. M. pedindo-lhe uma ordinária, a seu arbítrio e que deve como Rei Pio mandar dar-lhes para asseio e sustentação do culto divino, que eles ainda como pobres, fazem com muita limpeza e ostentação. Enquanto ao mais que V. S. me encarrega, ao seu tempo darei conta com aquela fé e obediência que lhe devo. Rio de Janeiro, 29 de dezembro de 1698. Fernando da Gama.

 

Fonte: O Convento da Penha, um templo histórico, tradicional e famoso 1534 a 1951
Autor: Norbertino Bahiense
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2018

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