A descoberta do petróleo no Espírito Santo
Foi durante o governo de Christiano que o petróleo passou a ser extraído no Espírito Santo. Sob a chefia do engenheiro Aroldo Andreatta, no dia 15 de agosto de 1967, após 90 dias de esforços, a Petrobrás finalmente constatou oficialmente a presença de ouro negro na Fazenda da Ponta, na localidade Barra Nova, município de São Mateus.
Embora a localidade se encontrasse a 32 km do centro de São Mateus, a notícia espalhou-se rapidamente, causando euforia em toda a cidade, com a população comemorando nas ruas. A notícia chegou ao palácio Anchieta. Feliz com as boas novas, Christiano dirige-se à cidade do Norte para comemorar com os cidadãos. Para o Governador, o petróleo era visto como uma dádiva divina para ajudar na recuperação do Estado. Logo ao chegar à localidade efetuou um discurso emocionado:
“Mas agradeço a Deus a graça infinita de permitir ao meu governo ser inquilino deste maiúsculo surto de prosperidade que o petróleo, que esta jorrando as margens do São Mateus eterno, abre às gerações que nos sucederão. Intimamente, e creio ter sido obra do destino, quando assumi o Executivo capixaba, lancei com entusiasmo e fé a marcha para a recuperação do Norte, como adivinhando que estivesse ali o tesouro que viria a cobrir de riqueza de desenvolvimento, de trabalho construtivo, de fartura, os lares de meus coestaduanos. O ouro negro é capixaba também.”
Posteriormente a esse discurso, Christiano e a população mateense foram ver o poço, denominado Nativo. Os presentes à beira da torre tomaram um banho de petróleo. Até o Prefeito da cidade, como o Governador, teve suas vestes sujas com o óleo na visitação à torre onde jogava o ouro negro. Porém a perfuração do poço Nativo não significava necessariamente que houvesse a possibilidade de exploração em escala comercial. Em 1968, Nativo foi abandonado por ser improdutivo, mas a Petrobrás persistiu em escavações no norte do Estado. Nesse mesmo ano, a localidade de Povoação, em Linhares, recebeu uma torre para a verificação da possibilidade de exploração comercial. O poço foi denominado Nativo 2. A persistência da estatal com a região norte do Estado estava calcada em estudos que apontavam que o primeiro poço seria apenas a ponta do lençol do combustível fóssil.
Em solo, a exploração do petróleo mostrava-se existente. Todavia sua exploração era incerta. No mar, a busca por petróleo era iniciada com uma plataforma marítima americana, com capacidade para operar até 45 metros, operando alguns quilômetros mar adentro, já no litoral de Conceição da Barra. As atividades da plataforma foram precedidas por levantamentos sísmicos. Portanto o litoral capixaba foi pioneiro na utilização de sondas marítimas e na perfuração de poços marítimos, entretanto o petróleo capixaba só seria explorado comercialmente nos poços seguintes.
Em 1969, as expectativas da empresa se confirmaram em terra, no município de São Mateus. Finalmente, foi descoberto o primeiro campo com condições de produção comercial.
Segundo Christiano,
“Foi em São Mateus, mas naquela ocasião não teve um grande peso para a economia capixaba. Aquela descoberta foi na realidade a localização da fonte e até começar a produzir mesmo demora. Mas foi importante, pois quem quisesse jogar para o futuro sabia que o Espírito Santo teria petróleo.”
O legado do governo de Christiano resultou do esforço em promover uma diversificação econômica na busca pela auto-suficiência do Estado que, enfim, se desvencilhou das amarras que o prendiam aos pés de café. As políticas de incentivos fiscais juntamente com a oferta de créditos foram primordiais para propiciar a diversificação e o tão sonhado desenvolvimento industrial do Estado. Ao assumir o governo, em situações críticas, não buscou soluções mágicas, fáceis e superficiais. As ações foram pensadas visando a criar meios sólidos e duradouros, ou seja, estruturadas em longo prazo. Para isso, buscou o apoio do governo federal que passou a financiar infra-estrutura e permitiu a criação de mecanismos internos de captação de recursos, tal como o Funres e o Fundap. Somente nesses termos o Espírito Santo se desenvolveu de forma harmônica e contínua, para além dos quatro anos da gestão de Dias Lopes.
O plano proposto e desenvolvido na gestão Dias Lopes foi um modelo endógeno de desenvolvimento, voltado para a produção a partir de médias e pequenas unidades industriais, tendo em vista processamentos agropecuários como atividades subseqüentes à diversificação agrícola. Como subsídio a esse modelo, foi criada toda uma estrutura de financiamento e até mesmo de capacitação do investidor local, já que havia no Estado escassez de infra-estrutura básica (transporte, energia, etc.), mas fundamentalmente de capital humano preparado e disposto a empreendimentos inovadores. Por não dispor de conhecimento técnico nem experiência no setor industrial a elite agrária capixaba estava pouco disposta a investimentos na área. Foi necessário largo empenho do setor público, para criar uma mentalidade capitalista industrial entre a elite capixaba que permitiu futuros investimentos do capital privado de forma independente. Daí a importância do Bandes, como instituição formuladora e financiadora do programa de reaparelhamento infra-estrutural do Espírito Santo.
O objetivo daquela administração, segundo Odilon Borges Junior, era o
"Desenvolvimento econômico. A recuperação da economia do Estado. A grande investida dele foi exatamente essa. Eu estou falando do meu campo de análise, do que eu vivenciei. Foi um processo de desenvolvimento. Também convenhamos: o Espírito Santo estava quebrado, literalmente quebrado. Não tinha jeito. Então a investida dele foi essa. Foi prioridade absoluta modernizar a estrutura organizacional do Estado, acertar o Bandes, o Banestes, e acertar outras instituições, e tentar descobrir instrumentos para o processo de desenvolvimento, como o Fundes. O Fundap, teve também um incentivo à indústria (...) Eu diria que a priorização do governo dele foi exatamente a recuperação da economia do Estado. Que estava liquidada."
A opção por projetos industriais de pequeno porte financiados por instituições locais, priorizando empreendedores locais, em uma lógica oposta à dos grandes projetos que marcaram o governo de Arthur e que se tornaram o modelo de desenvolvimento predominante no Brasil a partir da década de 70, não foi um simples capricho de Christiano, mas uma resposta ao contexto de crise do Espírito Santo.
Christiano depõe:
"Quando eu era governador, de vez em quando um me dizia que estávamos perdendo tempo. Que em lugar de lutar por uma siderúrgica abertamente, estava naquele negócio de lutar por incentivos. Ora, fiz uma opção, respondia eu. Prefiro fechar as torneiras (...) há uma série de torneiras abertas, dizia, sangrando o Estado. Portanto acho necessário fechar essas torneiras para depois pensar em uma estrutura de desenvolvimento do Estado. Eu não cheguei a iniciar um trabalho por grandes projetos. Depois veio o Arthur e começou a pensar em termos de projetos maiores. No meu período, eu tinha por meta tapar o buraco que existia na economia do Estado. Saímos de um período de uma erosão tremenda na área da economia. Cada pé de café arrancado era um buraco que se abria na economia estadual. (...) Então, eu tinha que tapar aqueles buracos..."
Sem hierarquizar, Elizete Siqueira diz qual seria a melhor estratégia de desenvolvimento para o Estado:
"Foi bom ter ido primeiro o Cristiano. Eu acho que para fazer o que tinha que fazer o Dr. Artur não ia fazer. Criar essa base, e essa coisa da cultura pura do desenvolvimento, da idéia de desenvolvimento, da questão técnica. A palavra técnica não existia. Não existia. Era só política. Então a palavra técnica nessa visão mais ampla foi introduzida pelo Cristiano."
Nesse processo, Dias Lopes e sua equipe foram incansáveis na busca por realizar um projeto de governo que projetou o Espírito Santo no cenário nacional e possibilitou a inserção do Estado nos planos nacionais a partir de então. O quadriênio do governo de Christiano marcou a história do Espírito Santo por impor uma nova proposta de desenvolvimento com bases sólidas, uma vez que criou toda infra-estrutura viária, portuária, energética do Estado, sem esquecer os elementos subjetivos implantado por esse projeto que resultou em uma verdadeira mudança na forma de pensar e de se posicionar do povo capixaba. Em síntese, aquela administração preparou o terreno para os governos que o seguiram e, sem exageros, pode-se dividir a história do Espírito Santo em antes e depois do governo Dias Lopes. Essa é uma frase consensual entre todos os entrevistados para a realização deste livro e corrobora vários estudos e obras com foco na história do Espírito Santo.
Christiano tinha um desafio. Não seria fácil sanar a economia capixaba falida com a crise cafeeira. Coube ao Governador dar uma resposta para as questões mais urgentes que proporcionassem mudanças no desenvolvimento econômico. A nova base econômica foi encontrada. Optou-se por fortalecer as potencialidades capixabas, de industrializar os produtos agrícolas agregando-lhes valor, gerando emprego e renda tanto no setor rural quanto no industrial. Coube a Christiano e sua equipe criar, para implantar o setor industrial, que, acima de tudo, necessitava de infra-estrutura física, condições como comunicação, porto equipado e, principalmente, estradas e energia elétrica. Além disso, era necessário não cometer o mesmo erro do passado. O Espírito Santo não poderia ficar novamente refém de uma única fonte de captação de recursos, tal como ocorreu com o café. Diversificar era preciso e necessário. Para isso não bastavam só investimentos físicos, mas também planejamentos. Para isso criou-se a Codes. Necessitava também reaparelhar o Estado e torná-lo mais dinâmico e eficaz, capaz de ditar os rumos do desenvolvimento. Nesse ponto são louváveis os esforços para se conseguirem os incentivos fiscais que dessem suporte ao novo modelo econômico, voltado para o crescimento, para um desenvolvimento sustentável capaz de dar uma base forte e solida à economia capixaba.
Fonte: Memória do Desenvolvimento do Espírito Santo – Grandes Nomes – Christiano Dias Lopes Filho, ano 2010
Autores: João Gualberto Moreira Vasconcellos (coordenador) e Jamila Rainha e Patrícia Gonoring
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2014
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