A Ilha de Vitória – Por Serafim Derenzi
Situa-se a ilha de Vitória na latitude sul de vinte graus e dezenove minutos e quarenta graus e dezenove minutos de longitude oeste do meridiano de Greenwich. Está praticamente a um terço de distância da fronteira Sul e a dois terços da do Norte do Estado do Espírito Santo. É uma posição privilegiada para superintender, como capital e porto, os destinos políticos e econômicos do Estado de que é capital. Sua formação eruptiva empresta-lhe o aspecto de cadeia de montanhas graníticas, interrompidas por fossas ocupadas pelo mar ou pequenos cursos de água de declives pronunciados. O perímetro apresenta-se como o de um triângulo de lados curvilíneos, cuja base se orienta, na direção Leste-oeste, sobre o estuário do Santa Maria, que lhe serve de porto. É o principal elemento de um arquipélago, cujas ilhas em maioria foram continentalizadas.
Os detritos do Santa Maria e do Jucu, as restingas e os areais respondem por este metamorfismo da era quaternária.
Restam, como testemunhos desses fastígio geológico, as ilhas que povoam o canal, formando, na sinuosidade caprichosa de seus contornos, uma das paisagens marinhas mais belas da costa americana.
Alberto Ribeiro Lamego diz que "poucos trechos litorâneos brasileiros se apresentam com aspectos tão interessantes, quer para o geólogo como para o geógrafo, como o dos arredores da cidade de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo. Para o geógrafo, não menos importante é esta faixa costeira de relevos tão variável, na qual uma baía centraliza terraços e planícies excepcionalmente indicados para grande concentração humana. Vitória é um parto natural acessível a navios de grande calado, cuja importância nos aparece agora como via de escoamento para nossos minérios de ferro. E, naquelas planícies e seu redor, há lugar para densa população futura, podendo as indústrias desenvol-ver-se com intercâmbio facilitado pelas condições portuárias naturais". (1)
DÚVIDAS
O mui ilustre Barão do Rio Branco, nas "Efemérides Brasileiras", anota no dia 13 de dezembro de 1501, data consagrada à padroeira dos olhos, que "André Gonçalves e Américo Vespucci descobrem a baía, a que deram o nome de Santa Luzia e onde, em 1535, Vasco Fernandes Coutinho fundou a vila do Espírito Santo".
O Padre Raphael Maria Galanti S.J., meu saudoso professor, no Tomo I do seu Compêndio de História do Brasil, referindo-se à armada em questão, diz que "não se sabe ao certo quem foi seu comandante. A maioria dos cronistas afirmam com pouca exatidão que foro Gonçalves Coelho, e outros, Cristóvão Jacques. Varnhagen cita Nuno Manuel; parece, todavia, mais provável ter sido André Gonçalves, o qual tivera ocasião de conhecer parte da costa na viagem que acabava de fazer, levando a fausta nova do descobrimento.
Aires do Casal prefere dar essa missão a Gaspar de Lemos e confirma ter sido Gonçalves Coelho o encarregado do primeiro reconhecimento. Nessa frota, continua escrevendo o jesuíta, "a única que D. Manoel mandou pelo fim já mencionado, veio a pri-meira vez ao Brasil o célebre navegante florentino Américo Vespucci". Essa expedição batizou no dia 13 de dezembro o Rio de Santa Luzia, "talvez o Rio Doce", diz o Jesuíta historiógrafo. Tanto o padre, embora mais cauteloso, como o prudente e erudito consolidador de nossas fronteiras, não documentam a marcação do acidente geográfico, assinalado no dia 13 de dezembro, de modo a nos convencer que se trata da baía de Vitória e não foz do Rio Doce. O advérbio de dúvida, usado pelo jesuíta, denota prudência justificável. O assinalado rio, no diário de navegação, dessa primeira armada, cujo comando, atribuída a Américo Vespucci, tanta celeuma levanta entre os historiadores da Torre do Tombo, está situado na “ladeza", latitude, de 19°, figurando ao lado do Monte Pascoal, no mapa de 1507, publicado por Waidseemuller. Esse mapa famoso foi elaborado pelas informações do jatancioso florentino. Ora, o rio próximo ao Monte Pascoal, naquele documento é o Rio Pardo, cuja latitude demora no paralelo 16º e 30” minutos, na antiga capitania de Porto Seguro. Levando-se em conta a imperfeição dos astrolábios, a diferença de latitude não é apreciável, pois a de Regência Augusta (2) é de 19º e 35” e a de Vitória é 20º e 19”. O chocante está, justamente, na aproximação do Rio com o monte famoso. A costa espírito-santense deve ter sido reconhecida por Cristóvão Jogues, opinião esposada também por Carlos Xavier Paes Barreto em "Feriados do Brasil". Mário Freire também diz: "Códice algum, ao que sabemos, permite afirmar, com segurança, quem primeiro contemplou a costa do atual Estado do Espírito Santo". (3)
O que se pode afirmar é que, em 1532, todo o litoral brasileiro estava explorado.
NOTAS
(1) "A Faixa Costeira de Vitória". Boletim 128 — Ministério da Cultura — Leia-se "Vitória Física" de Adelpho Monjardim.
(2) A foz do Rio Doce chama-se Regência Augusta desde o começo do século passado em homenagem ao governo de D. João VI, antes de ascender ao trono.
(3) Mário Freire — "A Capitania do Espírito Santo".
Fonte: Biografia de uma ilha, 1965
Autor: Luiz Serafim Derenzi
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2017
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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