Ano de 1536 e 1537 – Por Basílio Daemon
1536. Continua neste ano, não só por parte de Vasco Coutinho como dos povoadores, o cultivo das terras da capitania, já feito de parceria, já a contrato. Alguns indígenas, ou pelas promessas feitas ou pelo medo dos emboabas, principiam a unir-se aos portugueses, que em parte os chamavam a si com promessas e presentes, enquanto outros os maltratavam, motivo por que a sua civilização não progredia como era de desejar. No entanto, fazia-se um engenho e plantava-se cana e cereais, com auxílio dos próprios aborígines.
1537. Tendo-se Pedro de Góes também estabelecido na sua capitania da Paraíba do Sul,(25) que lhe doara D. João III, em 28 de janeiro de 1536, como recompensa, vem neste ano a esta capitania a entender-se com Vasco Fernandes Coutinho sobre as divisas das duas capitanias, e tendo chegado a acordo sobre tal assunto, tomam por divisa o rio Itabapoana, onde pouco além e mais tarde foi levantada uma povoação, dois engenhos e moinho, dando-se a esse lugar o nome de Santa Catarina das Mós, onde ainda hoje existem ruínas que demonstram essa existência passada, encontrando-se mós de moinho para tal atestar.(26) Parece-nos que a dúvida era esta: se seria a divisa pelo rio Itapemirim ou Itabapoana, mas ficando este último como divisa definitiva. Há aqui a notar que três nomes quase iguais foram dados ao rio Benevente, Itapemirim e Itabapoana, visto que, no que temos lido, o rio Itabapoana teve antes o nome de Reritiba, o Itapemirim, Iriritiba, e o de Benevente, Reritiba. Seja como for, o que é certo é que Pero de Góis congraçou-se e chegou a acordo com Vasco Fernandes Coutinho, levando daqui consigo um mestre de engenhos, que lhe foi cedido por Vasco Coutinho. Voltando para sua capitania percorreu-a, tendo em suas terras assentado dois engenhos tocados a cavalos perto da costa em Santa Catarina das Mós e ainda outro tocado a água a dez léguas acima do rio Paraíba, na cidade hoje de Campos, então denominada Vila da Rainha, e na parte sul da freguesia de São Gonçalo.
Idem. Faz Vasco Fernandes Coutinho doação da ilha de Santo Antônio a Duarte de Lemos, que em sua vinda o acompanhara da Bahia, sendo a mesma datada de 15 de julho deste ano e tendo sido confirmada a 8 de janeiro de 1549 por carta régia de D. João III.(27) Feita a doação da dita ilha ficou a mesma denominando-se ilha de Duarte de Lemos, do nome de seu senhorio, mas ficando sempre o nome de Santo Antônio persistindo, até hoje, ao local que do Campinho prossegue à ilha das Caleiras,(28) onde posteriormente foi assentado um grande engenho, em frente à ilha do Príncipe.(29) Duarte de Lemos parece se comprometera a fortificá-la contra as invasões, segundo um escrito de 20 de agosto deste mesmo ano. Duarte de Lemos julgamos ter ido à Bahia donde trouxera grande número de colonos, para estabelecê-los na sua ilha, que media duas léguas de extensão e mais de meia em alguns lugares, pois que isso encontramos em algumas crônicas e escritos.(30)
Notas:
25 “Fez-se a expedição de vela para o rio Paraíba do Sul, onde Góis se fortificou, se pôs à sua capitania o nome de São Tomé…” [Southey, HB, I, p. 67]
26 (a) “Segundo a primeira divisão de capitanias neste continente, principiava na ponta do sul da barra do rio Mucuri, e com 50 léguas de costa de mar para o sul, findava em Santa Catarina das Mós”. [Rubim, F. A., Memórias, p. 3] (b) Em 14 de agosto de 1537 Vasco Coutinho passava documento para o donatário de São Tomé, Pero de Góis, definindo limites entre as duas capitanias, o que parece ter sido feito com pleno acordo da outra parte. [Carta do rei D. João III, confirmando e aprovando a demarcação de Vasco Coutinho e Pero de Góis, datada de 12 de março de 1543, in Rubim, B. C., Memórias, p. 36-41]
27 Vide nota ao primeiro item do ano de 1549.
28 Hoje chamada ilha das Caieiras.
29 Vide nota 33 ao ano de 1540.
30 (a) “Um dos melhores auxiliares que angariou foi um fidalgo de certa importância e de alguma fazenda, chamado Duarte Lemos. Estava este na Bahia quando Coutinho o convidou, garantindo-lhe largos proventos, e talvez acenando-lhe com alguma perspectiva mais sedutora. Abalou Duarte da Bahia com seus bens, escravos e agregados, e até seguido de amigos. Fez-lhe Coutinho doação de importante ilha a que se dera o nome de Santo Antônio, e que de então em diante ficou conhecida pelo nome do seu novo proprietário” [Rocha Pombo, HB, p. 117] (b) A respeito dos colonos, Pizarro acentua: “Agradados, portanto, os novos colonos da situação, e da vivenda, por acharem fartura de peixe [...] induziram a sociedade de algumas famílias da capitania do Espírito Santo, para ajudar no trabalho da cultura da terra.” [Memórias, II, p. 88]
Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2019
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
Ver ArtigoA obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro
Ver ArtigoPara prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda
Ver ArtigoNo final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações
Ver ArtigoO nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto...
Ver Artigo