A Imigração no Espírito Santo – Por João Eurípedes Franklin Leal
Seguindo a orientação política do governo, de introduzir colonos europeus em larga escala, visando principalmente o desenvolvimento da lavoura, o Governador Francisco Alberto Rubim, através do Intendente Geral da Polícia, Paulo Fernandes Viana fez com que fossem encaminhados ao Espírito Santo, trinta casais de açorianos, que foram instalados, a 15 de fevereiro de 1813, na povoação de Santo Agostinho, que recebeu o nome de Viana em homenagem ao Intendente de Polícia do Rio de Janeiro.
Em 1829 o governo do Espírito Santo concedeu licença para a vinda de colonos alemães, que aqui receberiam ajuda para se instalarem. Em março do ano seguinte chegaram os primeiros alemães na Província e se estabeleceram a beira da Estrada Imperial São Pedro de Alcântara (do Rubim) junto ao quartel de Borba. A 18 de abril de 1831 chegaram mais 105 alemães que entretanto se rebelaram, não querendo ficar no Espírito Santo, e quase todos se debandaram, indo a maioria, para Porto Alegre. Foi em 1840 a chegada do primeiro imigrante italiano para o Espírito Santo, Guiseppe Balestrero que se fixou em Viana. A primeira colônia alemã organizada na Província foi a de Santa Isabel, em 1847, no sertão do Santo Agostinho e servida pela Estrada Imperial São Pedro de Alcântara (do Rubim) e pelo Rio Jucu. Um grande incentivador foi o Presidente da Província Luís Pedreira. Seus primeiros colonos eram em numero de 160, criou-se uma cadeira de primeiras letras no local, para atender aos colonos e no ano seguinte foi designado o religioso Frei Wandelino de Insbruck para assistência religiosa aos imigrantes e participar da “civilização” dos indígenas.
O Major Caetano Dias da Silva, português, radicado em Itapemirim, na fazenda do Limão, com o apoio do Conde de Candeixa, fundou no Rio de Janeiro, em 1854 a Associação Colonial Agrícola do Rio Novo. A 24 de fevereiro do ano seguinte obteve a aprovação imperial de sua associação, que destinava-se a explorar as terras devolutas na margem norte do Rio Itapemirim. Neste mesmo ano, no lugar chamado Santo Antônio do Rio Novo, iniciou-se o processo de organização da área para receber os imigrantes apesar da oposição de fazendeiros próximos e do diretor do serviço de indígenas.
A 27 de fevereiro de 1856, as margens do Rio Santa Maria da Vitória, foi criada a Colônia de Santa Maria, com extensão de 4 léguas quadradas e inicialmente com 140 colonos na sua quase totalidade suíços. A nova colônia de Santa Maria por determinação Imperial de 27 de março de 1857 passou a se denominar colônia de Santa Leopoldina em homenagem a mãe de D. Pedro II e em julho do mesmo ano chegaram mais 222 alemães. Esta colônia era dirigida pelo engenheiro Amélio Pralon.
Para a colônia do Rio Novo, em 1856, o governo enviou 100 chineses recém-chegados e neste mesmo ano a Assembléia Provincial instituiu prêmios a fazendeiros que mandassem vir colonos. Era então a política nacional de substituir o trabalho escravo assim como aumentar o contingente populacional no Brasil. O Dr. França Leite, através de um contrato com o Governo Imperial, em 17 de dezembro de 1856, organizou-se para introduzir cerca de 2000 colonos europeus na área entre os rios Pancas e São João, no vale do Rio Doce. Esta colônia denominada Fransilvânia entrou em decadência por falta de recursos. Os colonos pertencentes a esta colônia foram levados para a área da foz do rio Guandu. O Dr. França Leite era um ardoroso combatente do tráfico de escravos e defendia o aldeamento dos indígenas e era uma política sua o estabelecimento de colônias imigrantes.
Quatro colônias foram criadas no processo inicial de povoamento: Santa Izabel (1847), Rio Novo (1855), Santa Leopoldina (1857) e Castelo (1880).
A colônia de Santa Izabel, recebeu, prioritariamente, colonos de fala alemã enquanto que a de Rio Novo, empreendimento privado dirigido pelo Major Caetano Dias da Silva, foi constituída por colonos de variadas nacionalidades européias e até por chineses.
A colônia de Santa Leopoldina teve o predomínio inicial de suíços e de outros povos de origem germânica. Esta colônia possuía dois núcleos complementares o de Timbuy (1874) e o de Santa Cruz (1877) onde predominavam os italianos, que geraram outros centros coloniais como Santa Tereza. A colônia de Castelo, centrada inicialmente em Alfredo Chaves (1880) recebeu, a principio, imigrantes italianos, que sempre predominaram, mas também recebeu povos de fala alemã. Sua área de abrangência atingiu para o interior até a região do Rio Castelo. Na região de Santa Tereza a imigração se acentuou a partir de 1875 com a contínua entrada de italianos, via Núcleo Colonial Conde d’Eu, hoje Ibiraçu.
Em 1871 o Presidente da Província Francisco Ferreira Correa se manifestou a favor da colonização com imigrantes europeus, substituindo assim o trabalho escravo. Este processo estava sendo usado em São Paulo, com grande sucesso. Neste mesmo ano o Governador Imperial fez um contrato para a introdução de italianos ou europeus do norte com Pietro Tabacchi, em número inicial de 30 famílias para o Espírito Santo, mas este contrato elevou-se a 70 famílias e seriam destinadas a fazenda Nova Trento, em Santa Cruz. Estes imigrantes chegaram a 21 de fevereiro do ano seguinte, eram em número 386 tiroleses. Posteriormente alguns deles se revoltaram, abandonaram a fazenda Nova Trento e se estabeleceram em Santa Teresa.
Um fato marcante foi a resistência dos colonos de origem alemã, que não desejavam o ensino da língua nacional a seus filhos, solicitando sempre a abertura de escola de língua alemã nas colônias.
Estas colônias foram aos poucos recebendo imigrantes das mais variadas nacionalidades havendo italianos, franceses, holandeses, chineses, belgas, austríacos, alemães, suíços, portugueses, luxemburgueses, ingleses, poloneses, russos e outros.
Contribuiu ainda para o povoamento os quase 5.000 cearenses que, fugindo da estiagem de 1877/79, se dirigiram para o Espírito Santo onde, apesar das dificuldades locais, se instalaram.
O Espírito Santo continuou a receber imigrantes por todo final do Século XIX e início do Século XX, sendo marcante a imigração italiana na última década do século XIX e no período anterior a Primeira Guerra Mundial. Muitos imigrantes penetraram no território do Espírito Santo, nesta fase, não pelos portos mas pelas fronteiras com o norte do Rio de Janeiro e leste de Minas Gerais, no vale do Rio Itabapoana. Foi nesta época o início da importante chegada de imigrantes árabes, especialmente sírios e libaneses ao Espírito Santo.
A entrada de imigrantes europeus representou a maior transformação social e econômica que o Espírito Santo passou em toda sua existência e ainda hoje, no século XXI, reflete no seu cotidiano.
Fonte: Espírito Santo: História, realização: Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES), ano 2016
Coleção Renato Pacheco nº 4
Autor: João Eurípedes Franklin Leal
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2016
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