A Misericórdia – Por Serafim Derenzi
No último lustro da centúria do povoamento do Espírito Santo, aqueles poucos emigrados que não lograram economizar para a velhice e os pobres índios, nascidos imprevidentes, sofriam as misérias da fome e os mazelas das doenças, que não saram. Só a generosidade, sempre mal distribuída, dos corações compassivos, já não era suficiente. Miguel de Azeredo, capitão-mor, a instância do P. Anchieta (1595), funda a Casa de Caridade, (1) em Vila Velha, onde a decadência do povoado se afinava com a penúria dos moradores remanescentes. Teve como residência provisória a igreja do Rosário. (2) Construiu-se depois a Casa da Misericórdia, na Rua Pedro Palácio, diz o informadíssimo Daemon. Mudou-se a instituição ou Irmandade da Misericórdia, para Vitória: quando e onde são duas incógnitas. Prestou relevantes serviços ao tempo das invasões, socorrendo feridos; nas epidemias, assistindo os doentes e enterrando os mortos. O alvará régio de 1 de junho de 1605, de Felipe II deu-lhe as vantagens da Misericórdia de Lisboa. (3) Teve capela e casas. (4) Construção modesta, quase toda de taipa. A ladeira que lhe guarda o nome, terminava junto à igreja, demolida, no governo de Jerônimo Monteiro, para construção da Assembléia Legislativa. (5)
MIGUEL DE AZEREDO
Ao retirar-se para Lisboa, em 1593, D. Luisa Grimaldi, arma a Miguel de Azeredo de Capitão-mor, passando-lhe o governo.
Coube, ao sobrinho do cavaleiro Belchior, derrotar definitivamente os goitacases, no ano seguinte, com alcance significativo para o progresso do Sul da Capitania. Miguel e seu irmão Marcos, ricos fazendeiros, estão ligados aos fatos da administração da Vila de Vitória e da Capitania em geral por muitos anos.
Assistem os religiosos, jesuítas, franciscanos e beneditinos dando-lhes auxílios, promovem entradas no sertão e combatem os ingleses. Miguel de Azeredo presenciou o golpe, que enlutou o Brasil, a Capitania e notadamente as Reduções indígenas: a morte do Venerável José de Anchieta, ocorrida em 9 de julho de 1597, na sua querida Reritiba, aldeia de sua eleição.
NOTAS
(1) Daemon, pág. 91.
(2) Cezar Marques pág. 245.
(3) Mário Freire.
(4) Cezar Marques diz que: "Em 1575 fundou-se uma sociedade particular com o nome de Filantrópica, para cuidar dos atacados pela cólera-morbus". Naturalmente o autor queria dizer no local, pois o Convento só foi construído em 1591.
(5) "Não consta a fundação da igreja de Santa Casa da Misericórdia, porém, o Alvará de 1° de julho de 1605, de Felipe II, Rei de Castella, em que lhe concede os mesmos privilégios da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, se vê que sua fundação foi mais antiga." Rubim. IHGES Nº 7.
Fonte: Biografia de uma ilha, 1965
Autor: Luiz Serafim Derenzi
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2017
Sobre o modelo da de Lisboa se fundaram, em seguida, todas as outras misericórdias, tanto do Reino como das possessões ultramarinas
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