A República - Por José Teixeira de Oliveira
Data de 1887 o primeiro clube republicano na terra capixaba,(7) devido à iniciativa de Bernardo Horta de Araújo, Antônio Gomes Aguirre e Joaquim Pires de Amorim – “os gigantes do pensamento republicano no Espírito Santo”(8) – assim julgados juntamente com Afonso Cláudio.
A propaganda da nova idéia muito se beneficiou – aqui, como nas demais províncias – com o despeito que a abolição da escravatura provocara entre os fazendeiros.(9) Contando, portanto, com o apoio dos verdadeiros chefes das municipalidades – os proprietários rurais – foi fácil aos republicanos a pregação do seu evangelho e a formação de núcleos por todas as localidades da província.
A dezesseis de setembro de 1888 reuniu-se, em Cachoeiro de Itapemirim, o primeiro Congresso Republicano Provincial do Espírito Santo, que indicou o nome de Bernardo Horta para candidato do Partido no pleito de trinta e um de agosto de 1889, do qual saiu eleito pelo segundo distrito.(10)
À tarde de quinze de novembro chegaram à Vitória as primeiras notícias do que se passava no Rio de Janeiro.(11) No dia seguinte, Afonso Cláudio recebia do Governo Provisório a incumbência de administrar o Estado,(12) empossando-se a vinte no cargo de governador,(13) perante a Câmara Municipal da Capital.
Como no resto do Brasil, o povo não tomou parte nos acontecimentos. Assistiu àquilo “bestializado, atônito, sem conhecer o que significava”.(14) Como nas demais províncias,(15) aqui não houve reação alguma. Uma a uma, as câmaras municipais encaminharam ao novo governo seus protestos de adesão.(16)
Nos primeiros momentos, houve, na Capital, certa e natural confusão provocada pelos boatos. Disso se originou uma corrida de depositantes à Caixa Econômica,(17) ao mesmo tempo em que os habitantes das cercanias de Vitória se punham em guarda, na expectativa de atentados às suas pessoas e bens. Afonso Cláudio se apressou – logo no dia dezessete de novembro – a estampar na imprensa um comunicado que terminava com as seguintes palavras: “Não há motivo para tamanho pânico: a guarnição da Capital, enquanto estiver sob a responsabilidade dos briosos militares cujo patriotismo o país admira, é o mais seguro penhor de ordem que os cidadãos aqui residentes podem possuir e desejar”.(18)
O advento do novo regime foi festivamente recebido pelos republicanos de Cachoeiro de Itapemirim, que promoveram passeatas animadas pelos acordes da Marselhesa. À falta de bandeiras,(19) conduziam estandartes vermelhos.(20)
NOTAS
(7) - Fundado na então vila de São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim, a vinte e três de maio de 1887. Seu primeiro presidente foi o Dr. Joaquim Pires Amorim – Diário Oficial (do Espírito Santo), de trinta de maio de 1890).
(8) - MATOS, A Comemoração, 49.
– Afonso Cláudio acrescentaria: “o eficaz concurso de evangelistas da pureza e valor de um Coelho Lisboa, a dedicação indefessa de Henrique Deslandes, Eugênio Aurélio, Germano Tiradentes, da família Medina, Joaquim Pinheiro, João Chaves Ribeiro [médico], Antero de Almeida e José Horácio, para não omitir os mais antigos dos iniciadores dessa brilhante cruzada” (Hist. da Literatura, 538).
– Cumpre recordar os jornais que serviram à causa republicana no Espírito Santo: O Cachoeirano, de Cachoeiro de Itapemirim, dirigido por Antônio Gomes Aguirre e Bernardo Horta; e A Tribuna, de Anchieta, dirigida por José Horácio Costa. Ver o artigo de apresentação deste último na nota I deste capítulo. Sua linguagem apaixonada permite avaliar o ardor com que entrou a combater a monarquia.
(9) - É particularmente expressivo o depoimento colhido por Mário Freire entre os papéis que pertenceram a Saldanha Marinho e oferecidos, em 1918, ao Arquivo da Prefeitura do então Distrito Federal. Trata-se de carta assinada por Bento José da Silveira e Sousa, lavrador em Itapemirim, e dirigida àquele eminente republicano. A certa altura, dizia Silveira e Sousa que a monarquia “só serviu para iludir a lavoura”, tendo sido todos “roubados com os pretos, com a má lei de treze de maio”. E concluiu, destilando ressentimento: “ficamos pobres e, por isso, a monarquia tome rumo; o governo deve ser feito pelo povo” (apud FREIRE, A República).
(10) - O segundo distrito eleitoral compunha-se dos municípios de Viana, Guarapari, Benevente, Itapemirim e Cachoeiro de Itapemirim. O primeiro distrito eleitoral compunhase dos municípios de Vitória, Santa Leopoldina do Cachoeiro, Espírito Santo, Serra, Nova Almeida, Santa Cruz, Linhares, cidade de S. Mateus e vila da Barra de S. Mateus (SILVEIRA, Almanaque de 1889, 265).
(11) - FREIRE, A República.
(12) - AFONSO CLÁUDIO, Hist. da Literatura, 536.
(13) - O ofício n.º 1, de vinte de novembro de 1889, em que Afonso Cláudio comunicou ao governo central a sua posse, era dirigido “ao Cidadão Governador Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil” (Pres ES, XX).
– O dia vinte de novembro de 1889 foi considerado de adesão à República; e, pelo decreto de três de dezembro do mesmo ano, passou a ser comemorado como feriado estadual.
(14) - ARISTIDES LOBO, Acontecimento Único (publicado no Diário Popular (de S. Paulo), a dezoito de novembro de 1889, apud AFONSO CELSO, Visconde de Ouro Preto, 398-9).
(15) - CALMON ressalta que “houve vislumbres de resistência na Bahia”. Seu presidente, Almeida Couto, telegrafou que ficava fiel à monarquia e as manifestações republicanas a dezesseis acabaram dissolvidas pela guarda-negra – (Hist. Brasil, IV, 530-1; Antônio Osmar Gomes, A Proclamação da República na Bahia – artigo publicado no Jornal do Comércio (do Rio de Janeiro), a vinte e três de novembro de 1947).
(16) - FREIRE, A República.
– De S. Mateus – pertencente à região em que predominavam as forças monarquistas (AFONSO CLÁUDIO, Hist. da Literatura, 537) – o governador recebeu telegrama em que se lia o seguinte: “Aqui todos republicanos” (Diário do Espírito Santo, vinte e seis de novembro de 1889).
– Poucos dias antes, ao tomar conhecimento do atentado de quinze de junho contra o imperador (autor Adriano do Vale), a Câmara de Nova Almeida lhe endereçara a seguinte mensagem:
“Senhor. A Câmara Municipal da Vila de Nova Almeida Província do Espírito Santo, desde remotos tempos acostumada a respeitar a dinastia reinante, e sempre obediente às instituições juradas a bem de seu monarca em quem reconhece o pedestal da felicidade pública, lastima que brasileiros e estrangeiros dedicados a V. M. Imperial vissem que também coube a nossa história registrar um momento de delírio que armou o braço de um fanático para atentar contra a vida de V. M. Imperial. O vigoroso e uníssono protesto do país e da Europa vingam os nossos corações e de todos os munícipes, dos quais esta Câmara é intérprete e, mais se alvorotou o povo desta parte do nosso idolatrado Brasil quando soube que a louca tentativa teve o insucesso que o TodoPoderoso determinou salvando o preclaro, sábio e justiceiro pai da família brasileira. É por isso que esta Câmara vem dar este testemunho de veneração e alegria pondo no pedestal do trono seus protestos de profunda adesão à monarquia e seu patriotismo à disposição da defesa do chefe do Estado, fazendo votos ao Altíssimo para que longa e feliz seja a preciosa existência de V. M. e da augusta família imperial em proveito de toda a comunhão. Paço da Câmara Municipal da Vila de Nova Almeida, vinte e dois de agosto de 1889” (Pres ES, XX).
(17) - Caixa Econômica e Monte de Socorro criada pelo decreto número 5.594, de dezoito de abril de 1874. Instalou-se, em Vitória, aos quatro de agosto de 1875. Reorganizada pelo decreto número 9.738, de dois de abril de 1887.
(18) - Apud FREIRE, A República.
(19) - O Diário do Espírito Santo, de vinte e sete de novembro de 1889, publicou o seguinte telegrama assinado pelo secretário do ministro da Marinha e dirigido ao capitão do porto de Vitória: “Bandeira republicana federal é a mesma nacional, substituindo somente coroa por estrela encarnada”.
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, outubro/2017
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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